Preço da cesta básica aumenta em Curitiba e afeta arrecadação de ONGs

Produtos consomem 65% do salário mínimo e número de doações diminui. Organizações lutam para manter as entregas de comida na capital
Maria Luísa Cordeiro | Foto: Maria Luísa Cordeiro
Em abril deste ano, a cesta básica em Curitiba aumentou 5,37% comparado a março, chegando a R$ 739,28. Esse é o valor mais alto dos últimos 8 meses e corresponde a 65,94% do salário mínimo líquido, de acordo com o Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese). O encarecimento afetou diretamente as doações recebidas por organizações que distribuem comida na capital.
Fonte: Dieese
Para Fernando de Moraes, fundador da ONG Rango de Rua, a elevação dos preços dos itens da cesta básica acabou por diminuir a quantidade de donativos. As maiores preocupações estão principalmente na inflação do arroz, óleo e feijão preto. Uma boa notícia é que mesmo com as altas e a consequente queda de arrecadação, a distribuição de marmitas pela organização ainda não foi prejudicada.
Para a fundadora da Junta Mais Brasil, Thaís Abicalaf, “a maior dificuldade é no preço da carne”. Até o ano passado, para fazer as 200 quentinhas entregues em uma tarde em Curitiba iam em média 15 kg de carne, agora, para fazer a mesma quantidade, o grupo utiliza 10kg. No dia 15 de março, a ONG preparou 200 porções de macarronada com molho bolonhesa (39 pacotes de macarrão). Uma alternativa para fazer render mais, é reduzir a quantidade de carne e colocar mais molho vermelho. Atualmente, cada marmita tem o custo de R$4,50.
Eles sobrevivem exclusivamente de doações, eventos beneficentes e o dinheiro da própria Thais e de sua família. Como é de se esperar, no começo do ano os donativos diminuem muito, principalmente devido às contas de IPVA, IPTU e material escolar, entre outros fatores. Outras grandes dificuldades relatadas pela diretora da ONG são o gás de cozinha e o combustível. Afinal, a carne pode (e está sendo) substituída por legumes, como brócolis e cenoura, porém o gás e a gasolina não há outras alternativa.
Durante uma tarde de produção das marmitas, um casal chegou à sede da ONG para pegar mais alguns alimentos para a comunidade em que vivem.
O que diz o especialista
De acordo com o economista da Dieese Rafael Durlo, o motivo do encarecimento da cesta é a elevação dos preços dos produtos que a compõem. Na capital paranaense, os maiores aumentos foram na farinha de trigo, manteiga, óleo de soja, feijão preto e principalmente batata.
Nos últimos 12 meses, um dos maiores vilões foi o café, com inflação de mais de 90% nesse último ano. Outra preocupação é com o óleo de soja, que nesses últimos doze meses teve um acréscimo acumulado de 30%.
Para o economista, o valor da carne já estava em alta faz tempo. Vale lembrar que o Brasil é um grande exportador da commodity, e com a demanda internacional aquecida, o preço tende a subir.
A má notícia é que a previsão segue em contínuo aumento, principalmente devido ao encarecimento dos combustíveis. Como a frota de transporte depende de rodovias, o frete será repassado para o produto final. Em Curitiba, no dia 10 de março, a gasolina ficou 18,8% mais cara e o diesel 24,9%.
Saiba como doar
Para mais informações sobre como ajudar algumas ONGs de Curitiba acesse os seguintes perfils no instagram:
- @juntamais.brasil
- @rangoderua
- @aquecendocoracoescuritiba
- @sopao_curitiba
- @goodtruckbrasil
A Prefeitura de Curitiba, por meio da Fundação de Ação Social de Curitiba (FAS), recebe arrecadação de alimentos diariamente.
Leia mais
Em 24 de março conversamos com o economista da DIEESE, Rafael Durlo sobre o preço da cesta básica.