Preço de imóveis dificulta independência financeira de jovens em Curitiba

por Ana Maria Marques
Preço de imóveis dificulta independência financeira de jovens em Curitiba

Com alta do preço médio de residências para venda e locação na capital do Paraná, o objetivo da casa própria vira apenas um sonho para a Geração Z

Por Ana Maria Marques

O valor médio do metro quadrado em Curitiba atualmente corresponde a R$10.831/m². Essa quantia representa uma variação anual de 16,68% de acordo com um levantamento da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas em parceria com a ZAP (FipeZAP). Ou seja, um imóvel de 60 m² que em fevereiro de 2024 custava em média R$556.380 hoje pode chegar a R$649.860. Essa valorização somada com o alto custo de vida diminui o poder de compra da população mais jovem, que enfrenta desafios para garantir a independência financeira.

Um estudo divulgado pela Pew Research Center em janeiro deste ano afirma que pessoas nascidas entre 1997 e 2010 (Geração Z) recebem salários mais altos do que jovens da década de 1990. Porém, o aumento salarial não acompanha a valorização imobiliária, o que dificulta a conquista da independência habitacional dessa geração.

Em relação a alugueis na capital paranaense, um levantamento realizado pelo Grupo QuintoAndar revelou que o valor médio apurado em fevereiro corresponde a R$43,88/m², representando um aumento mensal de 2,58% e uma variação de 14,88% em 12 meses. Desse modo, o valor médio para alugar um imóvel de 70 m², que em fevereiro de 2024 poderia chegar a R$2.674, atualmente tem o valor médio de R$3.072.

A despachante e correspondente bancária da Caixa Econômica Federal Geisiane Carneiro, especialista no processo de documentação para compra e venda de imóveis, aponta que o mercado imobiliário tende a ter uma valorização periódica, o que torna o setor mais concorrido e inacessível para alguns públicos. “É consequência um imóvel que ano passado uma determinada pessoa conseguiria comprar, com a valorização, já não consiga mais. Até porque o salário mínimo não aumenta na mesma proporção. Ou seja, a valorização acontece de acordo com a procura, então quando acontecer é melhor já ter comprado e se beneficiar disso”, aponta a especialista.

Com a projeção de aumento da taxa de juros básica (Selic) podendo chegar em até 15,25% em 2025, dado do Boletim Focus publicado pelo Banco Central, o encarecimento de recursos comuns do cotidiano impulsionados por essa taxa também desmotiva a compra de imóveis por parte de jovens adultos. De acordo com Geisiane, o alto custo básico de vida pode ser um fator de impedimento para a conquista da casa própria. “A inflação torna ainda mais difícil do indivíduo guardar algum dinheiro para a entrada e documentação do imóvel, pois além de não conseguir guardar, gasta mais com produtos do seu dia a dia, isso quando não acaba se endividando.”

Para a atendente de comércio Isabela Canabarro, 28 anos, a consulta de preços de imóveis pela cidade não contribuiu para que ela encontrasse um meio viável de conquistar a casa própria. Ela relata que, durante sua procura, notou os preços muito acima do que esperava e com pouco a oferecer. “Hoje, os valores estão bem absurdos e as possibilidades de compras estão menores, com juros altíssimos e formas de pagamento difíceis”. Isabela consultou valores no bairro Fazendinha e na região metropolitana, e os preços de imóveis entre 65 m²  e 70 m² chegavam a R$350 mil.

Em alguns casos, muitos jovens ainda não veem perspectivas em conquistar essa independência. Esta é a realidade da auxiliar administrativa Alany Benato, 20 anos, que acredita que a combinação de baixa renda com o alto custo de vida é desmotivador para a compra da casa própria ou até mesmo aluguel. Ela, que mora com a mãe, descreve que custos básicos do cotidiano a desencorajam a sair de casa. “Só a compra do mês dificilmente sai por menos de R$500, fora o custo de aluguel ou mesmo parcela de entrada de um imóvel próprio. São muitos fatores que tornam esse sonho cada vez mais distante.”

Para o estudante de Educação Física Lucas Matos, 20 anos, o parâmetro salarial fornecido para um jovem adulto não acompanha o custo básico de vida atual, o que compromete a busca pela independência financeira. Natural de São Paulo, ele mora sozinho em Curitiba há dois anos, e aponta que só consegue se manter com a ajuda financeira dos pais. “Se dependesse só de mim e dos meus ganhos, eu teria sim bastante dificuldade de manter minha moradia, minha alimentação, transporte e tudo o que envolve a vida de morar sozinho”, diz ele, que por enquanto trabalha como estagiário.

O que é Selic?

A Selic é a taxa básica de juros da economia e o principal instrumento de política monetária, utilizado pelo Banco Central para o controle da inflação, regulado pelo Sistema Especial de Liquidação e de Custódia.

Para a definição da Selic, é levado em consideração o comportamento da inflação, nível de atividade econômica, expectativas dos agentes econômicos, entre outros fatores. Desse modo, a Selic serve como instrumento de controle inflacionário e estímulo à economia.

Ouça a entrevista com a correspondente da Caixa Econômica Geisiane Carneiro sobre como facilitar a conquista da casa própria:

 

 

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  • Ana Maria Marques

    Olá! Me chamo Ana Maria Marques, sou estudante de Jornalismo da PUCPR e atualmente estou no terceiro período da graduação. Me apaixonei por jornalismo sonoro e aprendi a ver a rádio como uma possibilidade de carreira. Também sou fã de MMA e espero poder trabalhar nessa área um dia!

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