Pressão popular é uma das principais responsáveis pela alta rotatividade de treinadores de futebol no Brasil

por Bruno Serante
Pressão popular é uma das principais responsáveis pela alta rotatividade de treinadores de futebol no Brasil

Chegada de novo treinador no Athletico Paranaense é um dos exemplos mais recentes da constante troca de comandantes nos clubes brasileiros

Por Bruno Serante, Gabriel Arlant e João Pedro Amaral | Foto: CAP

Odair Hellmann foi anunciado na última quarta-feira (21) como técnico do Athletico Paranaense, sendo o 16.° treinador do time em apenas três anos. A mudança reforça um problema recorrente no futebol brasileiro: a frequente troca de técnicos. O Furacão, por exemplo, teve 11 treinadores definitivos e cinco interinos.

Hellmann, profissional de 48 anos, assumiu o cargo após a saída de Maurício Barbieri, para a sequência da Série B e Copa do Brasil. O treinador, que é catarinense, acumula passagens por Internacional, Fluminense e Santos; e estava livre no mercado após saída do Al-Raed, em março deste ano.

O volume de trocas no comando do clube paranaense não surpreende, visto que demissões são tidas como algo “cultural” no futebol brasileiro. Somando as séries A e B do Brasileirão 2025, já são 11 desligamentos de técnicos em apenas 18 rodadas, destacando o problema que está enraizado no país.

Segundo o levantamento Rotatividade dos Técnicos, do site ge.com, o tempo médio de permanência de um técnico de uma equipe de elite no Brasil é de 5,8 meses. O monitoramento reúne dados de todas as passagens de comandantes em 30 clubes do país. Segundo o estudo, os meses que mais coincidem com o fim de algumas competições, como o Brasileirão e campeonatos estaduais, possuem maior taxa de demissão. 

As diretorias dos clubes brasileiros visam mais resultados imediatos do que um trabalho a longo prazo. Em entrevista exclusiva, o ex-jogador e atualmente técnico Lúcio Flávio, com passagem pelo Botafogo e hoje na Aparecidense-GO, analisa o problema: “Isso no Brasil é muito difícil: você só consegue mostrar seu valor com os resultados”. Ele complementa: “Eu entendo que em menos de um mês você não consegue colocar seu estilo de jogo em uma equipe”.

Técnicos da Premier League tem longevidade cinco vezes maior

O Cies Football Observatory (Centro Internacional de Estudos Esportivos) fez um levantamento em que mostra que 85% dos treinadores no Brasil estão há menos de um ano no comando de uma equipe, cerca de 163 dias. Já na Premier League, considerada a melhor liga de futebol no mundo, a média é quase cinco vezes maior, somando 750 dias.

O analista de desempenho Guilherme Coimbra, que trabalha no Flamengo e tem passagem por clubes europeus, comenta a diferença de cultura da Europa em relação ao Brasil: “Na Europa se tem maior consciência dos processos, daquilo que se quer alcançar, do que no Brasil. Quando se sabe aonde quer chegar, fica muito mais fácil conduzir”, afirma Coimbra. “Aqui [no Brasil] ainda temos a cultura do resultado como algo muito forte. Torcida e imprensa são passionais e imediatistas. Isso gera cobranças exacerbadas, respinga no clube e, consequentemente, nos treinadores. No futebol europeu é uma relação mais fria, consciente de que demanda tempo e que o resultado é consequência do processo, e não o contrário.”

A instabilidade dos treinadores de futebol no Brasil pode gerar diversos impactos, tanto positivos quanto negativos. Por um lado, os jogadores têm a oportunidade de se adaptar a novas filosofias de jogo; por outro, podem enfrentar dificuldades para assimilar diferentes exigências e ambientes.

O jornalista Robson De Lazzari, que é comentarista do Transamérica Esportes Curitiba, fala sobre quanto a instabilidade no comando técnico prejudica a formação de identidade tática e a evolução dos jogadores. “Eu acho que os jogadores da base são os que mais sofrem com esta instabilidade, pois, com os novos técnicos, muito provavelmente eles não vão conhecer estes jogadores. Isso acaba atrapalhando a evolução e o ganho de espaço deles no time.”

Demitido pelo Athletico, Barbieri lamenta decisão

Maurício Barbieri, após saída do Athletico, lamentou a decisão do clube: “O processo foi interrompido”, em nota divulgada nas redes sociais. A frase retrata muito do que outros comandantes sentem ao deixar seus respectivos cargos no Brasil. Depois da derrota por 4 a 1 em casa para o Botafogo-SP, o treinador deixou o Furacão com apenas 24 jogos no comando da equipe. O técnico somou 12 vitórias, 7 empates e 5 derrotas, tendo 59,7% de aproveitamento.

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