Projeto “Solidárias Festinhas” oferece apoio a 40 famílias de catadoras do bairro Vila Sandra

Iniciativa transforma barracão do CIC em espaço de cuidado e dignidade para catadoras
Por Antonio Eduardo, Caio Zelak e Pedro Fernandes | Foto: Antonio Eduardo
Entre o vai e vem dos caminhões e sacolas de recicláveis do bairro Vila Sandra, na Cidade Industrial de Curitiba (CIC), está o projeto social “Solidárias Festinhas”, uma iniciativa que surgiu em 2019, com o objetivo de organizar aniversários, casamentos e chás de bebê para pessoas em vulnerabilidade social. Com o tempo, também começou a oferecer ações de apoio a mulheres catadoras de recicláveis.
Liderado por uma equipe de voluntários, o projeto passou a disponibilizar itens de higiene, roupas, maquiagem, material escolar, cestas básicas e serviços voltados ao bem-estar físico e emocional, como atendimentos de saúde, assistência social e cortes de cabelo. “Essas mulheres são em maioria responsáveis pela renda das famílias. Elas sustentam casas, cuidam de filhos e netos, muitos deles com problemas com drogas”, explica Fernanda Pires de Oliveira, voluntária e uma das articuladoras das ações sociais.
A atuação do Solidárias Festinhas ocorre de forma paralela ao Programa Ecocidadão, coordenado pela Prefeitura desde 2007, que tem como proposta organizar os catadores em cooperativas e associações, oferecendo estrutura mínima e remuneração proporcional ao volume de material reciclável processado. No entanto, apesar de Curitiba ser considerada referência nacional na área — com reaproveitamento de 22,5% dos resíduos sólidos, segundo a Secretaria Municipal do Meio Ambiente (SMMA) — a infraestrutura pública de coleta ainda é limitada. Apenas 26 mil toneladas de resíduos recicláveis são coletadas por ano pela prefeitura, enquanto mensalmente 40 mil toneladas de resíduos orgânicos e cerca de 140 toneladas de rejeitos vindos das cooperativas ainda são enviadas ao aterro sanitário.
Hoje, o projeto Solidárias Festinhas atende cerca de 40 famílias de catadoras, inseridas num total de 100 famílias da comunidade local. Para muitas dessas mulheres, a coleta de recicláveis é a única fonte de renda. A maioria tem pouca ou nenhuma formação escolar e vive em situação de vulnerabilidade intensa. Mesmo assim, continuam a trabalhar na separação de resíduos, tornando o barracão um grupo de apoio e auxílio.
É o caso da dona Iva, catadora há mais de 30 anos, que comenta sobre a importância do projeto na vida dela. “Aqui virou minha segunda casa. A gente trabalha muito, você não faz nem ideia, mas também nos cuidamos.” Para ela, os pequenos cuidados oferecidos não são apenas um gesto de vaidade, mas de dignidade. “A gente rala dia e noite pra levar comida pra casa. Não é só cortar o cabelo, ou pintar as unhas. Faz a gente se sentir bem, feliz. Não é só vaidade”.
Além das ações voltadas ao cuidado e assistência social, o projeto também propõe atividades educativas. “A gente recebe de vez em quando algumas mudas de árvores e flores da região. Plantamos elas nas praças e parques, além de doarmos algumas mudas para as comunidades”. A proposta vai além do barracão e envolve também a preservação ambiental e dos espaços públicos.
Todo sábado o caminhão do programa “Lixo que não é lixo”, uma iniciativa municipal feita para ampliar a coleta seletiva em Curitiba, chega ao barracão trazendo os resíduos separados pela população. No entanto, as catadoras ainda enfrentam muitos desafios com o descarte incorreto de materiais. “Chega de tudo ali. Produtos hospitalares, lixo orgânico, preservativo… chega de tudo”, revela Fernanda. “Mesmo assim, elas continuam trabalhando duro. É bonito de ver o trabalho e a diferença que elas fazem na cidade. Mesmo sem ajuda da prefeitura, elas fazem a parte delas”.
Para manter todas essas ações funcionando, o Solidárias Festinhas conta com bazares, rifas e campanhas de doações. Amigos, participantes e parceiros da iniciativa contribuem com alimentos, roupas, móveis e outros itens, divulgando as necessidades pelas redes sociais. Essa rede de solidariedade tem garantido o mínimo necessário para que as ações continuem impactando positivamente a vida dessas mulheres e suas famílias.
Foto por: Antonio Eduardo