Secretaria de Saúde decreta epidemia de dengue no Paraná

por Maria Luísa Cordeiro
Secretaria de Saúde decreta epidemia de dengue no Paraná

Estado registrou mais de 90 mil notificações da doença e cinco mortes, ultrapassando o número de casos positivos dos anos de 2020/2021

Por Maria Luísa Cordeiro e Tayná Luyse | Foto: Carla Mendes Mantovani

No dia 19 de abril, a Secretaria de Saúde do Paraná decretou situação epidêmica de dengue no estado. Entre agosto de 2021 e abril deste ano, foram 94.344 notificações, sendo 30.010 confirmados e 5 mortes, de acordo com o 35º Informe Epidemiológico.

O monitoramento é contabilizado de agosto de um ano, até julho do ano seguinte. Ou seja, o atual boletim começou em agosto de 2021 e terminará em julho de 2022. Mesmo faltando 3 meses para o fim deste acompanhamento, o número de confirmados já superou os anos de 2016/2017; 2017/2018; 2018/2019 e 2020/2021.

De acordo com a Chefe da Divisão de Doenças Transmitidas por Vetores Emanuelle Gemim Pouzato, é declarada situação epidêmica quando o número de ocorrências aumenta de forma abrupta e verticalizada. Somente na última semana de abril, a Secretaria de Estado da Saúde registrou 6.849 novos casos. Dos 399 municípios do Paraná, ao menos 300 possuem quadros confirmados de dengue.

Casos de dengue ao longo dos anos

 

Fonte: Boletins epidemiológicos disponibilizados pela Secretaria de Estado da Saúde (2010-2022)

Municípios do Paraná com mais de 1000 casos confirmados em 2020/2021

Fonte: Boletins epidemiológicos disponibilizados pela Secretaria de Estado da Saúde (2021/2022)

A transmissão do vírus acontece a partir da picada contaminada da fêmea do mosquito Aedes Aegypti, o mesmo inseto transmissor da Chikungunya e Zika. Em algumas situações, a doença pode ser assintomática, mas normalmente os sintomas começam com febre alta repentina, dor de cabeça, fraqueza, dor atrás dos olhos, além de náuseas, vômitos e tontura. 

Foi o que sentiu a estudante Luísa Borges de Souza (21), diagnosticada no dia 15 de abril, e residente em Cascavel, uma das regiões com maiores índices de contaminação. Além dos sintomas citados acima, no sétimo dia passou a ter manchas vermelhas pelo corpo.

Como seu quadro não era tão grave, o atendimento hospitalar demorou 120 minutos. O tratamento foi tomar soro com medicamento venoso, devido a alta desidratação. Mesmo já curada da doença, ela afirma que sente sobrecarga no fígado e alteração no paladar.

“Os exames padrões são o Antígeno da Dengue e um Hemograma para acompanhar a quantidade de plaquetas, que costumam cair significativamente, aumentando risco de hemorragias. Mas também pediram PCR, que é a proteína C Reativa, que indica o índice inflamatório do corpo e pode ser prejudicial ao fígado se estiver alterada”, explica. 

Mesmo antes da contaminação, Luísa e sua família sempre tomaram muito cuidado com a proliferação do mosquito, “sabemos que os ovos estão muito resistentes então se torna mais difícil o controle, por isso meu maior cuidado tem sido com o repelente”. 

Situação atípica

Normalmente o aumento do número de casos de dengue acontece no verão. Isso porque a alta temperatura e a grande quantidade de chuva são o cenário perfeito para a reprodução do Aedes Aegypti, vetor da doença. 

Por isso, o monitoramento começa a ser feito em agosto, que é inverno, e termina em julho. Para que se possa acompanhar mais claramente o pico de ocorrências nos meses de dezembro a março. 

No ano passado, os números foram mais baixos porque estávamos saindo de uma época de secas e racionamento de água no estado. Sem chuvas, a chance de reprodução do mosquito diminui.

De acordo com a Chefe da Divisão de Doenças Transmitidas por Vetores Emanuelle Gemim Pouzato, “este ano estamos vivendo um clima atípico, com características de verão”. Mesmo com o início do outono, ainda estamos com muita chuva e temperatura elevada, logo há mais contaminações. Atualmente, a curva epidemiológica está muito mais alta do que deveria estar, e por isso o decreto de epidemia. 

Com o aumento no número de casos, o trabalho de enfrentamento deve ser reforçado e integrado para ser efetivo na eliminação dos criadouros. Os esforços devem vir do âmbito estadual e municipal, com união de todas as secretarias: saúde, meio ambiente, obras, educação. 

Atualmente a Secretaria do Estado de Saúde (SESA) já elaborou um plano de ação para combater a dengue e aguarda a aprovação do governador.

Vistorias 

Durante o mês de abril a Secretaria Municipal de Saúde de Curitiba realizou mutirões de vistorias em moradias. Até fevereiro deste ano foram localizados 218 focos do mosquito, número três vezes maior que o mesmo período de 2021. As visitas têm como objetivo procurar por locais prováveis de dengue, coletar amostrar e passar orientações de prevenção.

De acordo com a Chefe da Divisão de Doenças Transmitidas por Vetores Emanuelle Gemim Pouzato, a ação de limpeza deve ser seletiva, ou seja, deve-se atentar para que realmente os focos de proliferação sejam retirados. “Muitas vezes, a população entende que é para retirar todo o entulho do quintal da casa, mas não é bem assim”. 

O correto é tirar os depósitos de criadouros do Aedes Aegypti, incluindo espaço com água suja. “Não adianta tirar o entulho do quintal, mas não vedar corretamente a caixa de água, ou deixar balde com água. O mosquito irá se reproduzir da mesma maneira”, afirma. 

Aproximadamente 90% dos focos são depósitos passíveis de remoção. Lixo acumulado em locais inadequados e água armazenada sem vedação são alguns exemplos mais comuns. Com ajuda da sociedade civil organizada, órgãos governamentais e com a população em geral, o combate será mais efetivo. 

Para saber mais sobre orientações de prevenção e como identificar o mosquito da dengue veja os infográficos abaixo.