Venda de discos de vinil cresce 100% e movimenta comércio de Curitiba

por Krissians Torres
Venda de discos de vinil cresce 100% e movimenta comércio de Curitiba

Segundo relatório da Associação Americana da Indústria de Gravação, divulgado no dia 9 de março, pela primeira vez em 36 anos, os discos de vinil venderam mais que os CDs nos EUA

Por Krissians Torres | Foto: Krissians Torres e Pedro Maciel

As vendas de discos de vinil no Brasil somaram R$ 4,7 milhões, segundo dados da Pró-Música Brasil. O relatório da entidade, que representa as principais gravadoras e produtoras da indústria fonográfica brasileira, aponta um crescimento de 100,6% nas vendas dessa forma de mídia física. Em Curitiba, lojas como a Sebo Leitura, chegam a vender de 3 mil a 5 mil discos por ano. 

Nos Estados Unidos, foram vendidas 33 milhões de unidades de discos de vinil em 1987. Em 2022, esse número aumentou para 41 milhões, o que corresponde a 71% da receita da indústria musical em formato físico. É o que aponta o relatório da Associação Americana da Indústria de Gravação (RIAA, em inglês).

Ainda em 2020, a Federação Internacional da Indústria Fonográfica (IFPI) já apontou que as vendas de discos de vinil cresceram 23,5%, número maior que o aumento do mercado de streaming na época, que foi de 18,5%.

No Brasil, os LPs deixaram de ser prensados em 1997. Mas esse formato de mídia está passando por um ressurgimento no mercado da música. Cada vez mais, artistas e bandas investem na gravação de discos de vinil e suas vendas vêm aumentando pelo 16º ano consecutivo. 

Comerciantes de Curitiba vendem uma média de 200 discos por mês. A Sebo Leitura, loja do Centro que, além dos discos de vinil, vende livros, HQs, CDs e DVDs, recebeu no ano passado um lote de 9 mil discos de um dos maiores colecionadores do país. Em cinco meses, foram vendidas 6 mil unidades para lojistas, revendedores de lojas virtuais e até colecionadores de outras cidades do estado. Nesse período, chegaram a vender 1200 discos em um mês. 

Na Agulha Sonora, loja de Curitiba que aposta na venda online de discos usados para todo o Brasil, as estatísticas apontam para um público 90% masculino, com idade entre 25 e 65 anos, pessoas que já possuem maior estabilidade financeira. Mas os jovens estão se interessando por esse nicho cada vez mais. 

Os vendedores e colecionadores do produto percebem esta alta entre o público mais novo. O dono da loja Sonic Discos, Horácio Tomizawa De Bonis, afirma que “o consumo entre os jovens é importante”. Isso fortalece o reaquecimento do mercado e traz novos colecionadores. 

O colecionador Pedro Maciel é um exemplo. Ele conta que já gostava de ouvir música, mas o fascínio pelo vinil começou quando tinha 13 anos, inspirado pelo avô. Desde então, frequenta lojas e coleciona discos de vinil. Hoje, aos 22 anos, Pedro possui um vasto e rico acervo de discos e também percebe o aumento da presença de jovens como ele em feiras de vinil, em sebos e em lojas. “Já fiz até amizades dessa forma”.

Várias razões podem ser usadas para justificar a expansão desse mercado em Curitiba. Quando questionados, os entusiastas dessa mídia costumam elencar os mesmos motivos. 

Ao tentar descrever a experiência física e as sensações de escutar um vinil, Pedro tem dificuldade de encontrar palavras. Ele destaca o contato com o disco, a leitura das informações técnicas e da letra das faixas de música. “É quase um ritual. É uma coisa maravilhosa!”, diz, extasiado. Os vendedores ainda apostam na experiência de consumir música por meio do vinil desde a compra. De Bonis ainda acrescenta que, por conta do tamanho, o vinil oportuniza aos consumidores analisar melhor a arte e os detalhes da capa e conclui, “é a melhor experiência”. 

Eles também argumentam que os discos de vinil têm uma melhor qualidade de som. O vinil possui um som mais grave e parece ser mais “encorpado”. Pedro compara, “não é digital, igual ao CD ou as mídias atuais de streaming que a gente tem”. Mas é relativo. Uma boa experiência também depende da gravação, da qualidade dos aparelhos tocadores, da agulha, da cápsula e das caixas de som, além do ambiente em que se escuta os discos. 

No entanto, colecionar discos de vinil pode ter pontos negativos. Além dos cuidados com a conservação do material frágil, o custo pode ser bastante elevado. 

O dono da loja, Horácio, afirma que a precificação leva em consideração o mercado brasileiro e exterior, e que “o que faz ser caro é a procura”. Pedro Maciel percebe isso e confessa que já gastou muito dinheiro para adicionar um título muito procurado à coleção, mas agora usa a estratégia de esperar encontrar o melhor preço para economizar um pouco com o hobby. Ele ainda ressalta a questão do estado em que o disco se encontra. “Às vezes pode estar chiando, pode não estar em um estado legal para escutar”. 

Colecionadores e vendedores acreditam que o disco de vinil resiste e ainda irá continuar no mercado mesmo após tantos anos por conta do seu “charme” e do amor que as pessoas têm pela música. Pedro enxerga essa arte quase como uma forma de terapia, “a música é uma calma para o coração, uma calma para a alma”. Horácio, que está nesse mercado desde 1991, reflete que “se você está vendendo discos, está vendendo a trilha sonora da vida das pessoas”.

 

Os discos mais raros da coleção de Pedro Maciel são edições dos anos 60.