Estudantes reclamam da falta de RU em universidades privadas

por Lara de Oliveira
Estudantes reclamam da falta de RU em universidades privadas

Fila do RU da Reitoria — Camila Lara

Em Curitiba, Restaurante Universitário da UFPR serve uma média de 14 mil refeições por dia, enquanto estudantes de faculdades particulares têm o cardápio restringido a pratos caros.

Por: Camila Lara | Fotos: Camila Lara

Um problema constantemente invisibilizado no dia a dia de quem cursa o ensino superior em universidades privadas é a fome. Estudantes das principais faculdades do Paraná mostram, principalmente depois da pandemia, que a falta de segurança alimentar é um dos principais motivos de evasão. Em decorrência da falta de apoio externo, ter condição de uma refeição básica ocupa o primeiro lugar na lista de prioridades dessas pessoas. 

Segundo os últimos dados analisados pelo Sindicato das Entidades Mantenedoras de Estabelecimentos de Ensino Superior no Estado de São Paulo (SEMESP), em 2021, 36,6% dos alunos de universidades particulares no Brasil abandonaram a graduação por diferentes fatores. Um dos principais é a questão econômica. No início de 2024, mais de 36 mil bolsas PROUNI foram ofertadas no Paraná, destas  24.807 bolsas eram integrais e 11.248 parciais. O direito é atribuído a, respectivamente, estudantes que têm uma renda familiar bruta mensal, por pessoa, de até um salário mínimo e meio, e pessoas com renda menor ou igual a três salários mínimos.

Curitiba registrou aumento de 4,47% dos alimentos básicos neste início de ano segundo o Conselho Regional de Economia, um impacto direto na população paranaense, a qual 8% sofre de insegurança alimentar. Estudantes universitários são diretamente afetados por esses números e, com a premissa de que seus gastos consistem em passagem de ônibus, materiais universitários e contas de casa, o que resta para alimentação é menos que o necessário, principalmente os bolsistas e aqueles que pagam suas mensalidades sem o apoio de terceiros.

A nutricionista Lucyanne Maria Moraes Correia, Coordenadora dos Restaurantes Universitários UFPR, informa que os valores cobrados dos alunos regulares é de R$0,50 no café da manhã e de R$1,30 para almoço e jantar. A taxa se torna isenta para alunos que comprovam fragilidade socioeconômica. 

O projeto só é garantido pois existe um entendimento por parte da Reitoria de que o RU é a principal política de permanência fornecida pela Universidade. Segundo Lucyanne, “a alimentação saudável e de qualidade colabora para o desempenho escolar e deve estar disponível a baixo custo a todos os alunos”. 

Quem se beneficia diretamente do projeto e se refere a ele como “o único motivo de eu continuar na universidade” é André de Santos Junior. Estudante de Ciências Sociais da Universidade que, com auxílio da bolsa para isenção de taxa, realiza suas três refeições no RU todos os dias da semana. 

André tem 18 anos e é do Rio de Janeiro. Mora com três colegas de curso e relata não ter fogão em casa. Ele pontua a importância do restaurante no seu cotidiano. “Eu vinha para a universidade de segunda a sexta e morava longe, gastar com passagens e alimentação era muito puxado. Quando comecei a morar perto ficou mais fácil de fazer todas as refeições aqui, porque eu gastava muito para comer”.

“O RU é o único motivo de eu continuar na universidade” 

 

Em contraponto com universidades públicas, particulares como a PUC SP mostram alternativas ao acesso à alimentação. Apesar de não existir o intitulado RU, foi desenvolvido o projeto “bandejão”, no qual o valor de almoço e janta é isento para alunos bolsistas e de R$ 17,50 para pagantes. Ainda não existem essas opções nas principais universidades da capital paranaense. 

Erick Simm, ex-bolsista de enfermagem da PUCPR que após passar na UFPR e analisar os benefícios de cada uma, optou pela rede pública por seu auxílio alimentar. “Troquei a PUC pela Federal porque não tinha o que eu comer dentro do campus. Sou vegano e toda vez que precisava comer era muito caro ou tinha pouca opção de comida que me sustentasse para estudar o resto do dia. Às vezes eu nem comia. Fazia muita falta o RU para mim”.

Como a UFPR sustenta o restaurante universitário

Com dados levantados em 2022, o RU subsidiado pela UFPR é o quarto mais barato do país. Fica atrás da Universidade Federal do Piauí (UFPI), Universidade Federal do Ceará (UFC) e da Universidade Federal do Pará (UFPA). Em entrevista, Lucyanne explicou o motivo dos valores baixos, afinal os valores cobrados dos alunos regulares não representam o custo real das refeições. Na verdade, 90% do valor das refeições é subsidiado pela própria UFPR, diferentemente de outras universidades federais que usam apenas dos recursos fornecidos pelo Programa de Benefícios Econômicos para a Manutenção do Estudante (PROBEM). O Governo Federal prevê por meio deste programa um valor monetário para apoio dos estudantes de baixa renda. “Na UFPR, para que o benefício seja geral e irrestrito, optou-se por utilizar recursos de custeio, ou seja, aqueles destinados a despesas gerais, para pagamento das refeições.

Em 2019, foi apurado que os Restaurantes Universitários da UFPR forneceram cerca de 2.960.246 refeições. Por dia eram servidas aproximadamente 14 mil refeições como café da manhã, almoço e janta. A média de desperdício desses alimentos é de 10% e campanhas periódicas buscam reduzir esse valor. 

 

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