Em 2 anos, Curitiba cria mais de 27 mil postos de trabalho para imigrantes

por Eduardo Pascnuki
Em 2 anos, Curitiba cria mais de 27 mil postos de trabalho para imigrantes

Entre 2020 e 2022, foram abertas mais de 15 mil vagas de emprego para imigrantes homens e mais de 12,5 mil para mulheres na cidade, afirma relatório do OBMigra

Por Eduardo Pascnuki | Reprodução de imagem: Eduardo Pascnuki

Segundo o Relatório Anual 2023 do Observatório das Migrações Internacionais (OBMigra), lançado em dezembro do ano passado, de 2020 a 2022, foram criados mais de 27 mil empregos para imigrantes em Curitiba. Desses, mais de 15 mil direcionaram-se a homens e mais de 12,5 mil a mulheres. O documento aborda desafios para políticas migratórias e inclui análises de perfis, dados sobre mercado de trabalho, remessas, acesso a programas sociais e tráfico humano.

Também segundo o relatório, entre os anos de 2013 e 2022, mais de 29 mil imigrantes passaram a residir na capital paranaense. Já o número total de imigrantes empregados em um trabalho formal na cidade foi de 49.630 no mesmo período. 

Rodrigo Alvarenga, Professor do Programa de Pós-graduação em Direitos Humanos e Políticas Públicas da PUCPR, destaca que a quantidade de pessoas trabalhando pode ser bem maior do que a revelada na pesquisa, já que há uma subnotificação no que diz respeito a imigrantes com empregos informais. “Normalmente, os piores empregos são os mais fáceis para essas pessoas [imigrantes] acessarem, com maior carga horária e pior salário”.

Outra questão levantada por Alvarenga é a de que muitos empregadores demoram para efetivar imigrantes. “Os contratantes extrapolam o prazo de experiência e tentam adiar a contratação do trabalhador”, disse. Ele também aponta o preconceito sofrido pela classe no país, atrelado à hospitalidade seletiva dos brasileiros e, consequentemente, das empresas. “Existe uma diferenciação entre pessoas que vêm de países pobres, ou, principalmente, pessoas negras dos demais migrantes e refugiados”.

O professor ressalta que muitos migrantes estão desempregados por conta da barreira da língua, já que a maioria dos empregos precarizados estão relacionados com o atendimento ao público. À vista disso, algumas instituições da capital oferecem cursos gratuitos de português para migrantes, bem como a Prefeitura Municipal.

Yadira Guerra é uma professora cubana que dá aulas de espanhol na rede estadual e em um instituto cultural. Em 2012, ela deixou de lecionar na Universidade de Havana, em Cuba, para viver um romance com um brasileiro na cidade de Bonito, no Mato Grosso do Sul. Os dois se casaram e, por conta do trabalho do marido, que acabou sendo transferido, se mudaram para Curitiba. Com saudades de seu país de origem, Guerra encontrou no ato de ensinar sua língua materna a brasileiros uma forma remunerada de se reconectar com o Caribe.

Curitiba recebeu mais migrantes venezuelanos

Curitiba é a cidade brasileira que mais recebeu migrantes da Venezuela desde 2018. São 7.975 venezuelanos acolhidos na capital. O dado é do Subcomitê Federal para Acolhimento e Interiorização de Imigrantes em Situação de Vulnerabilidade, coordenado pelo Ministério do Desenvolvimento e Assistência Social, e leva em conta migrantes que chegaram ao município a partir de abril de 2018.

Kelvin Agüero, 31 anos, saiu da Venezuela em 2017. Desde então, passou pelo Equador e Peru, até chegar com a família à capital paranaense em 2021. Formado em Gastronomia, aguarda o reconhecimento do diploma venezuelano e trabalha em uma churrascaria. Ele relata que, em 2022, teve que voltar ao país de origem por conta da saúde do pai de sua esposa, retornando no ano seguinte. “Foi um tempo bem difícil, a situação do país estava muito complicada… foi aí que tomamos a decisão de sair de novo. Agora, estamos arrumando as coisas, nos estabilizando”.

Migrantes brasileiros escolhem Curitiba

Sobre os migrantes brasileiros que se mudam para a cidade, Rodrigo explica que trata-se de um processo histórico que já ocorreu com mais intensidade, principalmente entre pessoas do norte e nordeste, e por isso é difícil precisar dados. O pesquisador destaca ainda que a xenofobia regionalizada desencoraja a busca por oportunidades em outras regiões. “É uma pena porque essa interculturalidade do nosso país tem muito a acrescentar”, declarou.

Natalia Monteiro, 24 anos, chegou em Curitiba em 2022. A estudante de engenharia veio de Macapá, no Amapá, com a mãe – que foi aprovada em um processo seletivo da rede educacional. À reportagem, ela relembra um apagão que ocorreu na capital amapaense em 2020, em que a população ficou quase um mês sem energia elétrica, o que também comprometeu o acesso à água na região. Ela diz que são desassistências como essa que a fazem não voltar para onde nasceu. “A diferença de realidade é muito ruim. Aqui, parece que tudo funciona”, lamentou.

Ouça a reportagem sonora “Curitiba tem um novo sotaque”