Movimentos estudantis organizam suas lutas para 2024

por Emilly Kauana Alves
Movimentos estudantis organizam suas lutas para 2024

Após o descontentamento dos jovens com a atual situação das políticas educacionais no estado, entidades estudantis debatem sobre os problemas que enfrentarão ao decorrer do ano, e traçam objetivos a serem executados

Por Emilly Kauana Alves | Fotos: Emilly Kauana Alves

Os movimentos estudantis do Paraná estão mais engajados na política local. A atuação busca ampliar os progressos da educação no estado. Segundo a União Nacional dos Estudantes (UNE), nos últimos anos, cerca de 41% dos jovens que frequentam o ensino fundamental e médio se encontram ativos em organizações e causas estudantis, por meio de palestras, reuniões, protestos ou até mesmo virtualmente. Entidades apontam que sua jornada é de luta contra as escolas cívico-militares e contra o NEM.

A mobilização acontece em eventos como o “Encontro de Grêmios de Pinhais”, organizado pela União Paranaense dos Estudantes Secundaristas (UPES) e que ocorreu em março. Na reunião, um dos assuntos pautados foi o pedido de revogação do Novo Ensino Médio (NEM) e a qualidade de ensino nas escolas públicas.

Mariana Chagas é presidente da UPES, e destaca que melhorar o ensino para os jovens é seu principal objetivo. “A educação é sem dúvidas, nossa principal luta, já que sabemos que será difícil o governo nos escutar. Iremos nos reunir, e não vamos nos calar”. Ela ingressou no ativismo político juvenil quando ainda participava do grêmio do Colégio Estadual Sagrada Família. Logo após, foi convidada a fazer parte da União Campolarguense dos Estudantes Secundaristas.

Ainda em discussão

Em 5 de março, o Ministério da Educação (MEC) liderou a primeira Reunião Extraordinária do Comitê de Monitoramento e Avaliação do Ensino Médio, conforme estabelecido pela Portaria nº 2.092/2023. O Comitê, de caráter permanente, tem como objetivo supervisionar a implementação de programas, coordenar entre os entes federativos, conduzir estudos técnicos e propor indicadores com apoio do Inep.

Durante a reunião, foram divulgados os resultados de uma auditoria multinível sobre o Novo Ensino Médio pelo Tribunal de Contas da União (TCU), aprovando o Regimento Interno e apresentada uma proposta de Plano de Trabalho para os anos de 2024 e 2025. Em seguida, no dia 20, a Câmara dos Deputados aprovou o novo modelo de Ensino Médio, com flexibilidade na carga horária e modificações nos cursos técnicos, que agora será submetido à aprovação do Senado. Mariana Chagas afirma que está apreensiva, e espera que o desfecho dessa discussão seja positivo.

Apesar disso, diferente do que foi votado pela câmara, a deputada estadual Ana Júlia Ribeiro se diz a favor da revogação do modelo atual. Ainda propõe que sejam realizados debates acerca do assunto, para encontrar a melhor maneira de inserir um novo modo de ensino. ”Deveríamos revogar o NEM e propor um novo projeto que seja fruto do diálogo com jovens e educadores e que se preocupe com um ensino público de qualidade”.

Ana Júlia tinha 22 anos quando foi eleita a deputada estadual mais jovem do Paraná, com um total de 51.845 votos. Desde nova, está engajada em causas estudantis, inclusive, se destacando nas ocupações secundaristas de 2016 contra a reforma do Ensino Médio. 

O Ensino Médio representa o principal desafio do sistema educacional brasileiro. Observa-se a falta de um propósito definido da educação em relação à formação profissional. Comparativamente, na Alemanha, devido às demandas do pós-guerra, desenvolveu-se uma cultura de valorização da formação técnica, à qual muitos profissionais se dedicam sem interesse na formação acadêmica. É o que explica o doutor, jornalista e cientista político Rogério Carlos Born, professor universitário da Unidombosco em Curitiba.

Acima, estudantes se unem para denunciar e expor suas visões perante a educação pública em seus colégios

Beatriz Regina Drzevieski, tem 16 anos, e é presidente do Grêmio Estudantil do Colégio Estadual do Paraná (GECEP). Atualmente, a jovem é engajada em várias causas políticas como a proteção do meio ambiente, e pelos direitos LGBTQIA +. Ela relata a importância dos estudantes lutarem por mudanças. “Muitos pais ficam preocupados quando veem os jovens saindo de casa, acham que estão indo pro caminho errado, quando na verdade, estamos lutando para que nossas vozes sejam ouvidas”.

Ela revela que um dos problemas do movimento estudantil hoje é o enfrentamento do modelo cívico militar nas escolas. O primeiro passo é melhorar a estrutura dessas escolas, e focar em profissionais habilitados para lidar com os estudantes, já que, em sua visão, os militares não têm preparo para atuarem nessas instituições. 

A jovem também reitera que o engajamento político juvenil é fundamental para que a educação melhore. Não somente no meio pedagógico, mas também com efeitos em diversas outras áreas. Os movimentos estudantis não medirão esforços para contornar essa situação, e esperam que o governo de Ratinho Júnior possa agir perante as falhas que esse modelo de ensino reflete nos estudantes e profissionais da educação.

Colégios Cívico-Militares: certo ou errado?

Ainda neste ano, mais de 70 colégios se tornarão cívico-militares após passarem por uma consulta pública ainda no fim de 2023

O Programa Colégios Cívico-Militares do Estado do Paraná é fruto de uma parceria entre a Secretaria Estadual de Educação e a Secretaria Estadual da Segurança Pública. Ele adota uma abordagem integrada de gestão nas áreas educacional, didático-pedagógica e administrativa, com o apoio dos militares do Corpo de Militares Estaduais Inativos Voluntários (CMEIV) do Estado do Paraná, em cooperação com o corpo docente das instituições de ensino. Nos Colégios Cívico-Militares, o ensino segue as diretrizes da legislação que regula os ensinos fundamental, médio e profissional, estipulando uma carga horária mínima anual de 1.000 horas e um mínimo de duzentos dias letivos.

Há várias opiniões divergentes sobre o assunto. Victor Gerse Guilherme é estudante do Colégio Cívico Militar Chico Mendes, localizado em São José dos Pinhais, e relata que não sentiu nenhuma melhoria em relação ao ensino ofertado.

“Não está sendo como prometeram, a educação continua arcaica, a diferença é que agora devemos seguir as regras impostas de maneira ríspida”

Além disso, ele relata que os militares estão lá para fiscalizá-los, porém, não se sentem seguros. 

Por outro lado

Andrio Possebon é agricultor, e acha que os militares nas escolas são sim eficientes para a educação e a disciplina dos alunos. Para ele, os militares muitas vezes são vistos como “bandidos”, e não são respeitados pela população. Por isso, acredita que os colégios cívico-militares podem ser sim uma boa opção para o futuro da educação no estado. Ele cita um caso que ocorreu em uma escola da Colônia Murici, onde dois estudantes foram apreendidos, após estarem com tabletes de maconha. Para Andrio, isso não teria acontecido se houvesse policiais para averiguar o local.

O especialista político Rogério Carlos Born, a inserção de militares nas escolas provoca alguns problemas. ”Os militares não são formados para a educação, mas para a guerra (Forças Armadas) e segurança pública (Polícia Militar)”. Segundo ele, a presença de militares nas escolas fora das atividades de segurança pública desprestigia a classe dos profissionais da educação. O que se pensa, principalmente pelos pais de alunos, é transferir a disciplina e o controle de seu filho para o Estado, um papel que é um dever exclusivo do ambiente familiar.

No entanto, a discussão sobre a implementação dos colégios cívico-militares no estado permanece dividida entre a comunidade, causando debates acerca do tema. Os movimentos estudantis, por sua vez, esperam uma posição do governo em relação às queixas que estudantes e professores têm em relação ao assunto.

Colégios que se tornarão Cívico-Militares ainda em 2024

Ao todo, 69 instituições pretendem adotar esse ensino. Veja neste mapa os próximos colégios do estado a aderirem o modelo.