A dieta da ação: jovens que produzem seu próprio alimento

por Gisele Passos
A dieta da ação: jovens que produzem seu próprio alimento

Cada vez mais populares, hortas urbanas são soluções viáveis para um estilo de vida sustentável

Por Bernardo Thomé Vasques

As novas gerações são de pessoas que colocam a mão na massa. É comum escutar isso em um cenário de uma sociedade moderna, globalizada. É dito por aí que os jovens são proativos em relação ao que acreditam e desejam, que deixaram de ser meros consumidores, e, hoje, são produtores. Em uma esfera subjetiva, tudo isso pode parecer vago ou não muito palpável, mas basta uma simples apuração e já se torna possível elencar uma série de ações reais que partem de pessoas repletas de ideias e vontade de mudança. Uma delas, por mais prosaica que possa parecer, pode ter um impacto enorme na vida de quem a segue: produzir parte de seus alimentos por conta própria.

Prática que busca reunir saúde, preservação do meio ambiente e ativismo, o cultivo de hortas urbanas tem se tornado cada vez mais popular entre jovens, profissionais ou não. De acordo com o Worldwatch Institute, 20% do alimento produzido hoje no mundo vem do cultivo caseiro, tendo o planeta, hoje, aproximadamente 800 milhões de agricultores urbanos.

De acordo com o estudante de Engenharia de Produção, Caio Abreu, a ideia surgiu como um hobbie, mas que, com o tempo, percebeu que a prática era, além de mais saudável, amigável ao bolso no orçamento da casa.

“Muitas pessoas pensam que cultivar uma horta em casa é algo caro, o que está longe de ser verdade. Basta saber se virar com o espaço que sua casa oferece, pensando também no quanto você está disposto a gastar. Cultivando, pontualmente, produtos de fácil crescimento para uma horta urbana, o custo é bem acessível, e, o resultado é muito mais saudável”, explica Abreu.

 

 

 

 

 

 

 

 

Caio Abreu utiliza espaços do canteiro de casa para cultivar ervas e temperos.

Foto: Bernardo Vasques

 

Um dos desafios encarados pelos agricultores urbanos está na escolha de suas dietas. Muitos produtores se limitam a produtos ocasionais, como pequenas ervas e temperos, sem substituir totalmente as compras convencionais na feira e no mercado. Por outro lado, alguns optam por uma produção em maior escala, normalmente devido ao fato de serem vegetarianos.

Este é o caso de Pedro Antônio Sartor, estudante de direito que, por não ter carne na sua alimentação, decidiu produzir uma horta maior. Como mora em um sobrado, não pode produzir tudo em casa, mas utiliza um espaço na chácara de sua família, em Colombo, Paraná.

Sartor explica que sua família sempre foi muito ligada ao cultivo caseiro, que optar por alimentos mais saudáveis, sem agrotóxicos, é uma tradição que se iniciou com seus avós. Dessa maneira, segundo o estudante, começar o processo de uma horta própria foi simples, tudo o que precisou fazer foi aumentar a variedade de produtos.

“Sempre foi comum plantarmos hortaliças como alface, rúcula e repolho. Os equipamentos sempre estiveram por aqui e aprender a técnica não foi difícil. Depois que escolhi me tornar vegetariano, começamos a cultivar mais legumes, como abóbora, berinjela e pimentão”, conta Sartor.

Além do teor proativo e ativista, as hortas caseiras podem trazer diversos benefícios à saúde. Segundo a nutricionista Luciane Lima, evitar o consumo de agrotóxicos e aditivos químicos é algo que todos deveriam fazer, caso tenham as condições para isso. A nutricionista aponta que as substâncias presentes nos agrotóxicos mais usados no Brasil, como Amabectina, Acefato e Glifosato podem causar desde intoxicações alimentares até câncer se ingeridas em quantidades elevadas.

 

Hortas urbanas e design

A popularidade do cultivo caseiro se tornou tão grande, que elas já se tornaram parte do planejamento das pessoas quando vão construir ou reformar suas casas. Muitas floriculturas e lojas de decorações oferecem desde vasos até estruturas completas para a montagem de uma horta caseira. De acordo com o designer de interiores André Prodohl, planejar e adaptar hortas se tornou parte constante de seu trabalho.

“Ultimamente, as pessoas não estão querendo apenas um espaço para plantar. Elas querem que este espaço tenha conceito, que tenha harmonia com o resto da casa. Nesse sentido, meu trabalho é criar este ambiente visualmente agradável, mas com soluções sustentáveis e acessíveis”, relata o designer.