Artista portuguesa atrai turistas no Museu Guggeinheim

por Equipe de Correspondentes
Artista portuguesa atrai turistas no Museu Guggeinheim

Exposição de Joana Vasconcelos chama a atenção por características femininas

Por Maria Gusso

A exposição “Sou o teu espelho”, da artista portuguesa Joana Vasconcelos, destacou-se no Museu Guggeinheim em Bilbao, na Espanha, neste mês de novembro. O trabalho modernista ficou exposto por um período de aproximadamente cinco meses e foi capaz de gerar diversas reflexões ao público diverso que a visitou.

A exibição contou com mais de 30 obras, incluindo algumas de suas peças mais importantes desde 1997, mas apenas três delas foram criadas especialmente para o museu. A máscara veneziana “I´ll Be Your Mirror”, que é a obra que deu o nome à exposição, é uma delas. O título da peça surgiu a partir de uma música do Velvet Underground que partilha o mesmo nome.

Segundo a artista Joana Vasconcelos, “a máscara embeleza e esconde,  e esta também nos faz olhar para nós. Qual será a personalidade que estou a refletir?”. Devido a isso, decidiu também nomear a exposição da mesma maneira, pois, para ela, “os artistas são os responsáveis por refletir o que se está a passar na sociedade nesse momento e fazer-nos pensar sobre o assunto”.

Outra obra feita especialmente ao Guggeinheim é “Egéria”. Ao entrar no museu, é impossível não ver a enorme estrutura colorida que preenche o espaço interno antes desocupado friamente pela arquitetura. A peça, desenhada por Frank Gehry, totaliza 36 metros de altura e 45 metros de comprimento, e faz parte da série “Valquírias”, que está sendo desenvolvida há quase 15 anos. As peças da coleção são inspiradas na mitologia nórdica, em que as deusas sobrevoavam os campos de batalha, resgatando e ascendendo os guerreiros mortos em combate.

Um pouco mais a frente, já é possível notar a enorme fila de pessoas que aguardam para entrar na exposição. Segundo Petra Joos, curadora da exposição, mais de 640 mil pessoas já visitaram a mostra desde a abertura, e a resposta do público tem sido muito boa. Segundo ela, “es importante que las mujeres artistas tengan la misma presencia que los hombres en los grandes museos”. Por esse motivo, há alguns anos, o Museu tem um programa em que tenta manter uma regularidade de mulheres artistas. “Hemos presentado por ejemplo a Yoko Ono, Niki de Saint Phalle, Louise Bourgeois, Esther Ferrer y ahora Joana Vasconcelos”.

Entre as obras antigas da artista, algumas das escolhidas para fazer parte dessa mostra foram: “A Noiva”, que não passa de um lustre constituído de diversos tampões; “Marilyn”, um sapato de salto feito por panelas de aço INOX; e “Lilicoptère”, um helicóptero com uma estrutura dourada e diversas plumas rosas ao redor.

Para Vasconcelos, as peças são ambíguas e paradoxais, e a riqueza está exatamente nessa multiplicidade de discursos e interpretações possíveis. “Cada peça é uma entidade diferente e única e gera diversas leituras, tratando questões do nosso tempo.” Ela ressalta que o objetivo com suas obras é que todas sejam inquiridoras, e que as questões que levantam possam ajudar a alargar a percepção e o conhecimento que cada um tem do mundo, assim confrontando o espectador com uma visão crítica da sociedade.

Para a austríaca Juanne, “Sou o teu espelho” é a melhor exposição no momento e “é interessante como o material e a forma das peças conversam formando uma ideia diferente para cada uma exposta na sala”. As visitantes Caroline e Lilly, dos Estados Unidos, contam que algumas partes da exposição chamaram a atenção por serem feitas com materiais frequentemente relacionados à imagem feminina. Segundo elas, é importante uma amostra como essa para que as pessoas possam ver, com uma visão mais artística, como funciona o mundo feminino.

O papel das mulheres nas artes plásticas

Ao longo da carreira artística, Joana Vasconcelos foi a primeira mulher em vários acontecimentos. Em 2005, fez sua primeira participação na Bienal de Veneza, com a peça A Noiva (2001-2005), que iniciou a primeira exposição comisariada só por mulheres em seus 110 anos de história. Um pouco mais tarde, em 2012, foi a primeira mulher e mais jovem artista a expor individualmente no conceituado Palácio de Versalhes. Este ano, em 2018, foi a/o primeira/o artista portuguesa com uma exposição solo no Museu Guggenheim.

Para ela, é um enorme orgulho ter sido a primeira em tantos momentos de destaque. Mas, ao refletir sobre, considera preocupante que, em 2018, ainda haja tantos territórios artísticos por desbravar pelas mulheres. “Ser mulher no mundo da arte é tão difícil quanto em qualquer outra área porque, apesar de muito termos evoluído no último século, a verdade é que ainda vivemos ‘in a man’s world’”.

A artista, que diz ter plena noção de que se fosse um homem, talvez tivesse conseguido outros feitos, ou que talvez tivesse tido algumas situações facilitadas, não gosta de pensar em si mesma enquanto mulher artista, mas simplesmente enquanto artista. Para ela, não importa se é homem ou mulher: todos tem que estar concentrados em fazer bem o próprio trabalho e a se comparar com os a qualidade dos demais, independentemente do gênero, idade ou nacionalidade. “Os artistas têm a responsabilidade de pensar o mundo que os rodeia, e de dar outros modos de ver que contribuam para o alargamento da nossa percepção e conhecimento do mesmo”, comenta a artista.

A artista justifica as críticas com relação a não utilizar materiais considerados “nobres”, dizendo que os utiliza justamente por serem tipicamente utilizados pelas mulheres. “Se isto (as críticas) ainda acontecem, trata-se de um tema que merece ser abordado”.