Universitários que fazem intercâmbio na Europa sofrem impacto da guerra na Ucrânia

por Maria Fernanda Carvalho
Universitários que fazem intercâmbio na Europa sofrem impacto da guerra na Ucrânia

O conflito repercute em países vizinhos, afetando a rotina de estudantes brasileiros

Por Maria Fernanda Carvalho | Foto: Christian Lue/ Unsplash

Entre muitas pessoas ao redor do mundo que sofrem os efeitos da guerra entre a Rússia e a Ucrânia estão universitários brasileiros que fazem intercâmbio na Europa. Alguns desses impactos foram mais perceptíveis e imediatos nos países vizinhos à guerra, desde a recepção de refugiados ucranianos até perturbações na economia local. Mas mesmo os estudantes que estão vivendo em países europeus mais distantes sentem as consequências da invasão russa. É o caso de intercambistas da Pontifícia Universidade Católica do Paraná inscritos no PUCPR International.

O estudante de Engenharia Civil na PUCPR Pedro Dalcanale viajou à França para cursar Smart Cities. A cidade em que está morando, Lille, fica a 2.333 km da Ucrânia, distância como a de Curitiba a Salvador. Dalcanale relata que no início do conflito houve muita tensão com a possibilidade de que a guerra se estendesse pela Europa, o que geraria um impacto ainda maior. “Se isso acontecesse certamente eu teria que voltar para o Brasil com urgência”, comenta o estudante. 

O universitário também conta que testemunhou exemplos de solidariedade com aqueles que sofrem com a invasão russa. “O que presenciei foram ações por parte de intercambistas ucranianos que estão aqui também, os quais logicamente estavam preocupados com seu país, e fizeram campanhas para arrecadar doações de dinheiro, alimento e bens essenciais, assim como falavam sobre os absurdos cometidos pela Rússia”, afirma. “Nesse período viajei bastante pela Europa, e em todas as cidades que passei havia bandeiras da Ucrânia hasteadas, sem exceção. Vi praças inteiras e monumentos nacionais iluminados com as cores da bandeira ucraniana, e até participei de uma festa na qual o lucro seria destinado a ajudar os que estão passando pelo conflito.” 

Os estudantes brasileiros também relato estar sofrendo os impactos econômicos da guerra. Tanto Dalcanale quanto a estudante de Administração Internacional Carla Ross Forneck destacam o aumento na tarifa da eletricidade. Forneck foi à Bulgária em busca da dupla diplomação e está a 1.042 km do conflito russo-ucraniano, uma viagem que, de carro, seria feita em 15 horas.

A cidade em que a estudante está morando, Varna, recebeu refugiados com maior poder aquisitivo. “O povo mais carente acabou sendo absorvido pelos países imediatamente vizinhos. Ucranianos mais ricos são os que foram mais longe.” Entretanto, a intercambista notou o aumento da xenofobia tanto contra russos quanto contra ucranianos. “Acredite ou não, o povo búlgaro é muito orgulhoso e critica todo mundo.”

Outra intercambista que tem testemunhado impactos da guerra é a estudante de Jornalismo Allanis Menuci, que está em Vic, na Espanha, a 3.693 km da Ucrânia. Segundo ela, no início da guerra tudo estava muito instável. Como a Espanha faz parte da Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte), havia a possibilidade de o país entrar no conflito. Um momento muito marcante para Menuci foi vivido em sala de aula, quando um professor falou que, caso a Espanha se envolvesse, as aulas provavelmente parariam e todos os homens com mais de 18 anos iriam para a guerra. A estudante conta que no auge da crise, os mercados estavam com falta de alimentos básicos, principalmente óleo, além dos preços terem subido muito. Outro ponto destacado por ela e por outros intercambistas é a preocupação das famílias brasileiras por estarem tão próximos à guerra. 

Todavia, alguns países europeus não foram tão afetados, como Portugal. Nicolas Confessori, aluno de Economia no Brasil e de Business and Finance em Lisboa, relata que não sentiu os impactos onde está morando. Sua rotina continuou a mesma, mas ele percebeu o aumento de ucranianos nas ruas e nos comércios.

A Rússia continua ameaçando e bombardeando a Ucrânia. Na última quarta-feira (27), o presidente russo Vladimir Putin ameaçou abertamente a Otan após a organização oferecer à Ucrânia reforço militar, alegando que, caso os países membros interferissem no conflito, seriam atacados com armas nucleares. Além disso, após a manifestação da Otan, um depósito de armas doadas a Kiev foi bombardeado. Como a hipótese da guerra se estender não foi descartada, a palavra que define o que o mundo vive é incerteza.