Bares e baladas de Curitiba atrasam contas e enfrentam crise durante pandemia

por Mariana Toneti
Bares e baladas de Curitiba atrasam contas e enfrentam crise durante pandemia

Estimativa de prejuízo do setor chega a R$ 1 milhão, além de eventual necessidade de promover demissões em massa

Por: Mariana Toneti e Milena Chezanoski | Foto: Nick Karvounis/ Unsplash

Com a paralisação do segmento de casas noturnas e baladas, a crise econômica afeta empresários e funcionários, acarretando em estabelecimentos inadimplentes, mais de 50 mil demissões previstas e sem data concreta de reabertura. Além de não poderem funcionar, muitos estão tendo grandes dificuldades de se manter nesse período.

De acordo com uma pesquisa realizada pela Associação de Bares e Casas Noturnas (Abrabar), quase 50% dos estabelecimentos não conseguiram pagar as contas e aluguéis no mês de março, início da pandemia. Nos três meses seguintes, as estimativas de prejuízo dos empresários podem chegar a R$1 milhão, visto que muitos serão forçados a fazer demissões em massa e aderir à ação do governo federal que permite redução de salários e congelamento de contratos de trabalho, como forma de tentar diminuir o impacto no segmento.

Além disso, uma estimativa da Associação mostra que cerca de 70% dos negócios serão afetados. E até o início do mês de maio serão mais 50 mil pessoas demitidas, uma vez que 29% dos estabelecimentos não terão outra alternativa a não ser o desligamento dos funcionários. “Nós estamos trabalhando como se fossemos o norte para essas pessoas, a bússola. Nós estamos tentando ser a bússola para orientar os empresários e colaboradores, todo mundo que depende desse setor. E estamos conseguindo, na medida do possível, até porque a demanda está altíssima. Então, são muitas ações que estamos na Justiça, muitos questionamentos, muitos protocolos e muita conversa com o poder público. Essa tem sido a nossa função”, ressalta o presidente da Abrabar, Fábio Aguayo. Ele ainda menciona a dificuldade que os proprietários estão tendo ao recorrer aos créditos e financiamentos do governo, por conta da burocracia exigida, uma vez que cerca de 60% dos empresários não conseguiram obter essa ajuda.

Com um mês de fechamento, muitos sócios proprietários e produtores de baladas e casas noturnas encontraram um momento de prejuízo inesperado, contas paradas e redução de salários, é o que relata Fernando Cruz, produtor da balada Pandoo. Ele calcula que deixarão de ser faturados cerca de R$100 mil por mês enquanto a casa permanecer fechada.

Com previsão de reabertura do ramo noturno para daqui a cinco meses – casas de shows e eventos que proporcionem uma aglomeração maior manterão fechadas até o fim do inverno -, muitos empresários estudam como reabrirão seus negócios. “No começo, 70% da capacidade vamos deixar entrar, para não ter aglomeração de pessoas. Mas eu tenho certeza que a galera vai querer sair. Tem muita gente pedindo que a gente reabra até, mas a gente não vai abrir, até ter essa certeza de que pode”, afirma Pedro Rea, proprietário da Level Club e Lolla Bar. Ainda assim, com a capacidade reduzida de clientes, as medidas de prevenção serão utilizadas para evitar que ocorra mais casos.

Para Letícia Michtal, estudante de Negócios Internacionais, a falta de socializar com os amigos é grande, mas, apesar disso, não se sentiria segura em frequentar casas noturnas no próximo mês, como sugere a preferência dos clientes em outra pesquisa da Abrabar. A falta de socialização afetou muitas pessoas, que agora passam o dia todo em casa.

“Perdeu a essência de ser um lugar de descanso, já que agora faço tudo aqui, inclusive trabalhar”, diz Jhonatan Jofre, sobre o distanciamento social. De acordo com os estudos socioeconômicos, o impacto será grande.

 

Economista diz que empresários precisam inovar 

Para evitar falências e prejuízos, o economista Ricardo Henrique Faria cita a necessidade de inovação para o setor, como streamings e deliveries, uma modificação de negócio baseada na modificação social que pode ocorrer após a pandemia.

Segundo ele, os empreendedores terão que se reinventar em todos os níveis, pois a maneira de consumir será afetada de modo geral. Ele usa como exemplo os aplicativos de entrega, que foram aceitos por muitos consumidores que não costumavam os utilizar e se viram obrigados a aderir a esse método, vistas as circunstancias atuais. Sendo assim, os donos de bares e afins terão de ficar atentos a como serão as novas preferências do público. Ricardo aponta que devem prevalecer lugares “menos concentrados”.

Neste cenário atual, o governo tem um papel fundamental. O gasto hospitalar é necessário no momento, o que acarreta uma pausa na economia local e mundial. O esperado é que os gastos privados abaixem; sendo assim, o governo poderia gastar mais e, por conseguinte, promover compensação na economia. Um exemplo desse ato é o auxílio emergencial, que tem dois propósitos: a subsistência e a reativação da economia, com a volta da procura e demanda com produtos basais para as famílias que estão recebendo o benefício, aponta Ricardo.

Por fim, o uso benéfico da tecnologia pode comandar a alma do negócio daqui para frente. “Pense no que Darwin escreveu: ‘os mais fortes sobrevivem, não necessariamente pela força, mas sim por como saem dos problemas’. A barata vai sobreviver a uma hecatombe nuclear. Então, quem tiver as melhores ideias, e também um pouco de dinheiro, poderá sobreviver”, diz Ricardo.