Campanha de vacinação contra Covid-19 enfrenta negacionismo em Curitiba

por Julia Barossi
Campanha de vacinação contra Covid-19 enfrenta negacionismo em Curitiba

Moradores da cidade estão deixando de ser vacinados por escolha própria

Por Bruna Pelegrini, Bruno Akio, Felipe Artigas e Julia Barossi | Foto: Guilherme Araki

Os números de novos casos e mortes devido ao coronavírus em Curitiba estão se estabilizando e diminuindo, porém ainda há quem prefere não tomar a vacina. Os motivos para o negacionismo são os mais diversos: razões políticas, crenças religiosas e, até mesmo, falta de conhecimento sobre a eficácia do imunizante. 

Em Curitiba, a vacinação iniciou dia 20 de janeiro deste ano, e, até o momento, a cidade vacinou 1.376.211 pessoas com a primeira dose e 824.425 com a segunda e dose única, além de 15.569 com a dose de reforço. Com a campanha, é possível observar a queda no número de casos e óbitos pelo coronavírus: nesta terça (21), a capital paranaense registrou 317 confirmações da doença e 11 novas mortes menos da metade do que era registrado há alguns meses. 

O gerente comercial Fernando Sarot, de 42 anos, diz não ter tomado a dose por escolha pessoal. “As vacinas são pouco testadas, tenho receio de conformidades futuras. Além disso, tem muita política envolvida”, comenta. “Prefiro aguardar até o próximo ano para ver os resultados com mais clareza”. Ao ser questionado sobre a escolha das vacinas, Fernando afirma ter uma ordem de preferência, mas vai avaliar os efeitos dos imunizantes nas outras pessoas, no próximo ano. “Tomar a vacina é algo que me deixa inseguro; ela foi desenvolvida de uma forma muito rápida, não sei o que está entrando no meu corpo”, finaliza.

Segundo levantamento feito pela Agência Brasil, a maior faixa etária de pessoas não querendo se vacinar ou escolhendo a vacina é entre 35 e 39 anos, sendo representada por 38% da população presente na pesquisa. O infectologista e consultor da Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS) João Bosco afirma que o Coronavírus veio para ficar. “Não vai ser pandemia sempre, mas sim uma endemia: uma quantidade baixa, porém constante da doença, tipo a gripe. Quem não estiver vacinado, vai pegar o vírus e aumentar a disseminação do mesmo.”

O infectologista afirma que é necessário que as pessoas se vacinem pelo bem da saúde pública:

“Você toma a vacina pensando muito mais nos outros do que em si mesmo. Há pessoas que, mesmo vacinadas, poderão pegar a doença. Mas, se os outros não puderem procriar o vírus, os suscetíveis não irão ser infectados, por falta do mesmo. A questão principal é que ninguém sabe se será imunizado pela vacina ou não. Na dúvida, quanto mais gente for vacinada, melhor.”

O último dia 7 foi marcado por manifestações de grupos de negacionistas por motivos políticos. Com cartazes, os manifestantes realçaram o uso de medicamentos como o hidroxicloroquina ao invés do incentivo à vacinação. 

O grupo Curitiba Patriota liderou os protestos tendo como maior ponto do discurso a não necessidade de vacina. Em entrevista para a revista Fórum, um dos líderes do movimento disse que as pessoas estão morrendo pelo Ministério da Saúde não estar disponibilizando as substâncias do tratamento precoce. Ainda acrescentou reforçando o que estava escrito nos cartazes: “não precisamos da vacina, já temos a cloroquina.”

Além desse atos, o grupo segue organizado outros ao redor do estado, como atos contra o passaporte sanitário. Vale lembrar que o uso desses medicamentos não tem eficácia comprovada no combate contra a Covid-19, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS).

 

Como as vacinas são criadas

A CoronaVac é produzida pelo laboratório chinês Sinovac e é testada no Brasil pelo instituto Butantan. A vacina foi criada com base no próprio vírus inativado e é 50,38% eficaz. Segundo a infectologista Heloisa Ravagnani, em entrevista cedida à Rádio Senado, os cientistas colocam o vírus em cultura, no meio de células. Quando tem várias células presentes, eles inativam o vírus com processos físicos e químicos, mantendo as características que estimulam a produção de defesa.

A Pfizer utiliza o RNA mensageiro, material genético sintético que carrega o código genético do SARS-CoV-2 e faz com que o organismo gere anticorpos contra o vírus. Essa vacina é um novo tipo de imunizante e tem 95% de eficácia.

Já a Astrazeneca tem a tecnologia semelhante à CoronaVac: estimulação da produção de anticorpos: utiliza um vírus vivo como adenovírus que não tem capacidade de se replicar. Sua média de eficácia é de 70%.

Assim como a da Pfizer, a Moderna utiliza o RNA mensageiro. A única diferença é que a vacina da Moderna precisa de um armazenamento de -20ºC e tem 94,1% de eficácia.

A Sputnik V utiliza outros vírus inofensivos para o organismo, assim como a vacina da Astrazeneca. A diferença das duas é que a Sputnik usa adenovírus diferentes nas duas doses e tem 91,6% de eficácia.

Como apenas uma dose, a vacina da Janssen é desenvolvida com tecnologia de vetores de adenovírus que não se replicam. O corpo que recebe esse imunizante produz anticorpos contra o invasor e cria uma memória contra o coronavírus. Sua eficácia é de 66%.

Para informações sobre como se vacinar em Curitiba, clique aqui.