Cegos ainda dependem de ajuda para utilizar o transporte público

por Lara Wilsek
Cegos ainda dependem de ajuda para utilizar o transporte público

Apesar dos avanços na capital paranaense, deficientes visuais não têm acesso a dispositivos que facilitam o acesso aos ônibus

Por: Laís Caimi Marquardt, Lara Wilsek e Maria Júlia Alves Neves | Foto: Laís Caimi

Em Curitiba, deficientes visuais afirmam que enfrentam dificuldades em usar o transporte coletivo, devido à falta de acessibilidade nos veículos. Segundo relatos, o sistema de transporte público não funciona como o esperado e eles necessitam confiar nas instruções dos condutores e passageiros para se certificar de que estão no ônibus certo.

De acordo com a Associação Nacional das Empresas de Transportes Urbanos (NTU), cerca de 35 milhões de pessoas no Brasil têm alguma deficiência visual. O último Censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostra que somente na capital paranaense, aproximadamente 7.000 pessoas são cegas e 36.000 têm baixa visão.

Atualmente, em Curitiba os ônibus têm assentos prioritários. E as estações-tubo e terminais possuem placas em Braille com informações sobre as linhas e indicações táteis nos pisos. Mas apesar dos avanços legislativos e da conscientização sobre a importância da inclusão, a realidade de muitas pessoas com deficiência visual ainda é marcada por barreiras que limitam sua plena participação na sociedade.

Para melhorar essa situação, a prefeitura de Curitiba criou o Transporte Acesso, um micro-ônibus voltado para a saúde, equipado com diversas modificações como elevador e outros acessórios para pessoas com mobilidade reduzida. Para utilizá-lo, é necessário se cadastrar no Centro de Referência da Assistência Social (CRAS) e planejar o transporte com pelo menos uma semana de antecedência, por meio do sistema online.

A vida de Antônio dos Santos, 85 anos, mudou drasticamente quando perdeu a visão aos 22 anos, em um acidente quando trabalhava como caminhoneiro. Determinado a superar os desafios, Antônio embarcou em uma jornada para aprender a se locomover com independência. “As pessoas que perdem a visão depois de adultas têm mais dificuldade de se adaptarem do que aquelas que nasceram cegas. Quem fica cego não pode se mover de forma independente, tem que aprender a se adaptar a um ambiente desconhecido”, relata.

Logo nos primeiros meses após perder a visão, seu Antônio passou a lidar com a falta de acessibilidade e preconceito. “Um dia eu estava no terminal esperando o ônibus e tinha um relógio de pulso tátil em braille, quando fui verificar a hora um homem me abordou dizendo que eu estava fingindo ser cego. Me senti muito ofendido, às vezes as pessoas não sabem que existem aparelhos que facilitam a vida dos deficientes visuais e acabam falando coisas sem pensar”

Rosimari Lopes, 54, professora do Instituto Paranaense dos Cegos, nasceu com deficiência visual e depende diariamente do transporte público para chegar ao trabalho. Ela relata dificuldade para pegar ônibus nos terminais, pois não há pontos de referência específicos para cegos. “Você precisa ter uma ideia da distância ou perguntar para alguém. Na minha opinião, a sinalização nas paradas dos terminais poderia ser melhorada”.

Rosimari acredita que é necessário criar campanhas de conscientização sobre os direitos das pessoas com deficiência. Para que haja respeito no transporte público, principalmente relacionado aos bancos preferenciais.

Quanto às pistas táteis, Rosimari acredita que facilitam a movimentação, mas observa que muitas não estão em bom estado “A maioria delas é de cimento, então acaba que não são perceptíveis e nem fáceis de achar. Outro problema é a falta de trilhos nas plataformas, terminais e outras áreas.”

A professora comenta que as gravações de voz dos transportes públicos, muitas vezes estão erradas ou atrasadas, levando-a a recorrer por ajuda. “O que poderia ser mais fácil e acessível acaba se tornando um fardo. Isso por falta de seriedade, sem pensar nas pessoas. E não só para quem não vê, mas também para quem não conhece o caminho e não sabe ler”. Lopes espera que haja gravações de voz aprimoradas nos ônibus biarticulados que informam sobre pontos e estações.

Sugestões de como ajudar um deficiente visual no transporte público:

 

  1. Ofereça assistência: Se perceber que uma pessoa cega está no mesmo transporte público que você, ofereça ajuda de forma educada e respeitosa. Pergunte se precisa de assistência para encontrar um assento vago ou para chegar ao seu destino.
  2. Informe sobre o ônibus: Se uma pessoa estiver procurando por um ônibus específico, informe-a sobre o número do veículo ou a linha que ele precisa pegar. Se souber, explique também qual é o próximo ponto de embarque ou desembarque.
  3. Ajude a localizar assentos: Muitas vezes, as pessoas cegas preferem sentar-se em assentos próximos à saída. Você pode ajudá-las a encontrar um assento vago e garantir que estejam seguros e confortáveis.
  4. Descreva o ambiente: Ao entrar em um ônibus ou estação-tubo, descreva brevemente o ambiente ao redor. Por exemplo, você pode mencionar a localização das barras de apoio, os degraus para subir ou descer, ou qualquer outra informação relevante.
  5. Indique paradas e destinos: Se a pessoa precisar descer em uma parada específica, informe-a quando estiver chegando perto. Se necessário, avise também sobre as transferências necessárias ou o destino final.
  6. Auxilie na entrada e saída: Ao embarcar ou desembarcar do transporte público, você pode oferecer apoio físico à pessoa cega. Ofereça o braço para que ela possa se segurar enquanto entra ou sai do veículo. Isso ajuda a evitar obstáculos e a manter o equilíbrio.
  7. Esteja atento a obstáculos: Durante a viagem, esteja atento a quaisquer obstáculos no caminho do deficiente visual. Se necessário, avise-a para evitar acidentes.