Ciclistas denunciam descaso com malha cicloviária da cidade

por João Alexandre de Brzezinski
Ciclistas denunciam descaso com malha cicloviária da cidade

Opção dos ciclistas pelo tráfego nas canaletas da cidade apesar de proibição e riscos apontam descontentamento com malha cicloviária

Por João Alexandre de Brzezinski

Apesar da cidade de Curitiba contar com uma rede de ciclovias com cerca de 250 quilômetros de extensão – segundo dados da prefeitura -, parte dos ciclistas da cidade insistem em optar por trajetos que envolvam circulação pela canaleta. A via exclusiva para ônibus e veículos oficiais – como ambulâncias e viaturas -, registra em média 16 acidentes com ciclistas por ano, segundo índice da BPTRAN.
Nos últimos tempos, a bicicleta, que era uma prática de lazer, se transformou em meio de transporte, angariando adeptos e possibilitando uma condução mais sustentável e saudável destes para seus ambientes de trabalho, estudo e de convívio.
Este é o caso de João Pedro, assistente de vendas, que há 5 anos realiza seus trajetos pela cidade pedalando. Ele conta que tenta evitar ao máximo circular pela canaleta ao lados dos biarticulados em alta velocidade, porém acaba optando em seu trajeto para o trabalho pois não há ciclovia que ligue a região de sua casa até a de seu serviço. Além da inexistência de ciclovias que possibilitem seu translado, para ele: “é melhor se preocupar com apenas os ônibus bi-articulados a cada um minuto e meio e veículos oficiais excepcionalmente do que com milhares de carros, motos, caminhões e ônibus a todo instante”.
A falta de sinalização em trechos de cruzamentos das ciclofaixas com as vias e falta de manutenção em certos trechos de acesso das mesmas são outros pontos levados em consideração por João. “Com as rampas de acesso impróprias para circulação, vira um sobe e desce do meio-fio que estraga a bike”.
Com um trabalho ativo na representação dos ciclistas de Curitiba, Fernando Rosenbaum é sócio da Bicicletaria Cultural, referência de apoio e acolhimento aos ciclistas urbanos. Ele também é conselheiro da Associação Dos Ciclistas do Alto Iguaçu, instituição que tem como objetivo representar os ciclistas na esfera política.
À reportagem, Fernando denuncia um descaso da gestão pública com os ciclistas da cidade. Para ele o motivo de muitos optarem pela circulação na canaleta é por enxergarem ali um refúgio a sua invisibilidade em meio ao trânsito da cidade.“O ciclista não se considera um elemento do trânsito e trafega por onde é mais seguro para ele, como na calçada, contramão, canaleta… Ninguém opta por correr o risco de um acidente”.
Para Fernando, as vias calmas – faixas externas à canaleta, destinadas a uma circulação conjunta de automóveis e ciclistas – são a grande solução para migrar os ciclistas para uma faixa segura. Desde que a primeira via foi implantada, em 2014, uma contagem fracionada de ciclistas realizada pela Associação dos Ciclistas do Alto Iguaçu constatou que 80% optam pela via calma ao invés da canaleta.
O poder público ainda tem uma visão do ciclismo como prática de lazer, não acompanhando a evolução nos últimos anos para um meio de transporte. As ciclovias da cidade, apesar de extensas, por muitas vezes falham em possibilitar um tráfego veloz, seguro, com conforto e fluidez para os ciclistas ao encontro de seus compromissos. Levando assim os ciclistas a optarem por trajetos e rotas de maior risco para sua permanência no trânsito.
Um levantamento realizado em 2018 pela Associação Transporte Ativo, constatou que Curitiba é a capital com maior índice de ciclistas que passaram a utilizar bicicletas como meio de transporte em menos de seis meses. Ou seja, há cada vez mais adeptos ao meio na cidade. Por isso é necessário que haja uma escuta por parte da prefeitura para que o ciclista saia desta posição de invisibilidade que ocupa atualmente no trânsito da cidade. Garantindo um tráfego mais seguro para os ciclistas em seus trajetos.
Maior segurança aos ciclistas no trânsito contribuiria para uma adesão de grande parte da população a inclusão do pedal no dia a dia. Muitos interessados na prática não se sentem seguros para estarem iniciando em meio a um trânsito que ignora ciclistas. É a partir de medidas de incentivo de sua prática, como inclusão intermodal, benefícios para quem opte pelo uso da bicicleta, vestiários e bicicletários que os ciclistas ocuparão um espaço digno no trânsito.

 

Na canaleta da Avenida Marechal Floriano Peixoto é comum a circulacão de ciclistas