Como a economia circular pode ser usada na moda?

por Gisele Passos
Como a economia circular pode ser usada na moda?

Economia circular propõe que os recursos sejam mantidos em circulação

Por Erica Hong

Nas últimas décadas, a ideia de uma economia circular vem sendo explorada mundialmente como uma abordagem norteadora de políticas públicas, iniciativas empresariais e científicas, na busca por soluções para problemas ambientais que permitam sustentar prosperidade econômica e bem estar social.

Na natureza, tudo se renova ou se transforma, é um ciclo infinito. De acordo com a engenheira ambiental, Luciana Müller, o conceito de economia circular se difere do modelo tradicional de economia linear, que é um modelo dependente de extrair matéria prima da natureza – produzir, utilizar e descartar.

Luciana destaca que a economia circular é uma narrativa ligada a geração de valor econômico ao mesmo tempo em que se preocupa com aspectos ambientais e sociais. “Por mais que a ideia seja puramente econômica, ela está intrinsecamente ligada a aspectos ambientais e sociais. Se continuarmos nesse mesmo ritmo de consumo, estima-se que em 2050 precisaríamos de 3 planetas Terra para suprir nossas necessidades”, afirma.

O economista Daniel Poit, completa dizendo que esse modelo pode ser definido por um conjunto de atividades que se auto alimenta de maneira a não deixar resíduos no ambiente.

Poit afirma que ainda não é possível aplicar o método em todos os setores, mas há possibilidades de integração de diversos mercados para fechar o ciclo. A economia circular, segundo ele, pode promover redução de custos de produção, além do menor impacto ambiental, porém, “exige uma mudança de padrões, adaptações iniciais e negociações entre fornecedores e clientes.”.

 

Economia circular x Economia linear

Utilizando o design como uma das principais ferramentas, a economia circular propõe criar novas práticas e novos modelos comerciais. O objetivo é maximizar a longevidade e durabilidade do produto por meio de serviços de reparo, redesenho e reciclagem.

Moda Sustentável

Segundo a BBC, a indústria da moda é a 2ª mais poluente do mundo, atrás apenas do mercado do petróleo. E, conforme o Fórum Econômico Mundial, retiramos aproximadamente 65.000 milhões de toneladas de matérias primas por ano, 80% desses materiais se tornam resíduos, o que representa uma perda anual de cerca de US$2,6 trilhões.

Em contraposição a esse cenário, marcas do setor da moda tem se baseado na economia circular com o objetivo de trazer um consumo mais consciente. Como é o caso da ES Fashion, empresa pioneira na disseminação do conceito de moda circular no Brasil.

Formada por Alice Beyer, mestre em moda sustentável e Tania Gengo, graduada em negócios de moda, a empresa surgiu pelo desejo de usar a moda como ferramenta propulsora de desenvolvimento econômico, social e ambiental. Para as criadoras da ES Fashion, a moda convencional é uma indústria que exige muito e impacta irresponsavelmente pessoas e natureza.

“Na moda, a economia circular se aplica diretamente na melhor seleção de têxteis, escolhendo alternativas de menor impacto, por exemplo, fibras orgânicas ou recicladas. Podemos também incluir estratégias de design que favoreçam o uso contínuo ou por mais tempo das peças. Ainda, aplicamos um modelo de negócio que promova trocas, compartilhamento e similares”, conta Tania.

Elas contam que um dos maiores desafios da nova economia é aplicar um conceito tão amplo. “a mudança talvez seja o mais desafiador, por parte empresarial, é necessário pensar de forma inovadora e disruptiva”.

 

Impactos da economia circular no mercado da moda

A engenheira ambiental, Luciana, acrescenta que, no setor, pode ser aplicado de diversas formas. “A partir de plataformas de troca e aluguel, como o Banco de Tecidos, onde é possível trocar tecidos em desuso por outros”.

Para ela, uma empresa que se adapta a economia circular vai aumentar a sua rentabilidade por dois motivos: “primeiro porque poupa nos gastos com as matérias primas, água e energia, e também nos custos com o tratamento de resíduos. Segundo, porque os produtos ecológicos vendem melhor.” Ela traz o exemplo da Adidas, empresa de tênis e materiais esportivos, que recentemente  fez uma campanha onde vendeu 1 milhão de tênis feitos com plástico dos oceanos, “ou seja, as pessoas querem participar da solução”, afirma.

Ela ainda se mostra otimista em relação ao mercado aqui no Brasil. “O conceito de simbiose industrial se encaixa perfeitamente no contexto – resíduos gerados por uma empresa podem servir de matérias-primas para outras. Em relação ao nosso país, com uma população de mais de 208 milhões, temos muitos pontos a nosso favor – somos um mercado produtor, manufatureiro e consumidor, dentro do mesmo território. Isso faz com que tenhamos a capacidade de gerar ciclos fechados muito mais eficientes”, conclui.