Conciliar rotina pessoal e tratamento é um dos desafios de pacientes que enfrentam o câncer

por Beatriz Tsutsumi
Conciliar rotina pessoal e tratamento é um dos desafios de pacientes que enfrentam o câncer

“Em geral, eu era pura energia. Muita gente até se surpreendia com isso”, conta Vanusa Vicelli, escritora do blog Laços da Mama

Por Beatriz Tsutsumi, Carolina Nassar e Sarah Guilhermo

Mulheres vítimas do câncer de mama precisam manter as atividades diárias, mas sempre obedecendo limites que a doença impõe ao próprio corpo. Câncer é uma doença debilitante e exaustiva às vítimas, sendo o de mama o mais fatal e frequente dentre as mulheres no Brasil. É incontestável que o diagnóstico de câncer causa um impacto gigantesco no paciente, tendo a doença uma ligação consequente com a depressão. A chance de um paciente com câncer desenvolver o transtorno varia de 22% a 29%, segundo um estudo do Observatório de Oncologia. No câncer de mama, os pacientes têm de 10% a 25% de possibilidade de desenvolver um quadro depressivo.

Durante o tratamento, as vítimas são orientadas a ficar mais recolhidas, por conta do medicamento. A jornalista e blogueira Vanusa Vicelli conta que foi aconselhada a manter um ritmo mais lento na rotina diária. “Na verdade a vontade de viver, de vencer, serviu como uma injeção de ânimo”, diz Vanusa. “Alguns dias eu ficava mais quietinha em virtude da medicação, mas em geral eu era pura energia. Muita gente até se surpreendia com isso.”

Para aprender a lidar com a doença, a jornalista criou o blog “Laços do Peito”, um espaço de apoio a mulheres que estão passando pela mesma situação e também de tributo de sua vitória contra o câncer. “Eu escrevia sobre o tratamento e também sobre querer ficar bem. Nos dias em que eu me sentia menos animada, eu pensava que precisava ser coerente com o que eu escrevia. E dividir minha história fez com que muitas pessoas, homens e mulheres, me procurassem e dividissem as próprias histórias.” Foi assim que percebeu que o voluntariado era o seu caminho, e hoje, afirma, não consegue viver sem.

Outro caso de quem usou seu cotidiano como combustível foi a sócio-diretora comercial, Ana Nacer. Em 2016, após a remoção do câncer, Ana entrou no processo de adaptação da reconstrução da mama, mas seu corpo rejeitou a prótese. Isso fez com que ela tivesse que ficar sem a mama para colocar um expansor, uma prótese preenchida de soro fisiológico. No futuro, terá que realizar mais uma cirurgia de reconstrução. Então, foi em 2017 quando ela e mais quatro amigas resolveram marcar um encontro para jogarem handebol, queriam voltar a praticar o esporte que não jogavam havia anos. Os jogos passaram a serem semanais e com um aumento das jogadoras, Ana se tornou a administradora do time, o “Queens SNZ”. Ela conta que apesar do cansaço dos pós-operatórios, seguiu a vida normalmente. “Foi tudo bem natural, eu continuei fazendo os meus exercícios”, afirma a jogadora. “É claro que durante a reconstrução, eu não posso fazer tantas coisas. Então eu fico normalmente uma semana até dez dias mais recolhida, mas depois é vida normal!”

Durante o tratamento, é recomendado não fazer muitos esforços, evitando também estresse e desgaste, tanto o físico quanto o emocional. A oncologista Rosane Johnsson aconselha que o paciente siga sua rotina o mais normal possível, porém sempre acompanhado de sua equipe médica. “As atividades cotidianas possuem um papel muito importante nesse contexto”, afirma a doutora. “Quando a gente faz o que gosta, nos sentimos úteis e isso reforça o que a pessoa é”. Para aqueles que não podem realizar atividades físicas independentes, a médica recomenda fisioterapia e reabilitação funcional. Ambas com papéis importantes na recuperação dos pacientes para restabelecer os movimentos e recuperar a força nos braços e ombros.