No aniversário de massacre nos EUA, educadores debatem influência de atentados sobre jovens brasileiros

por Giovana Tirapelli
No aniversário de massacre nos EUA, educadores debatem influência de atentados sobre jovens brasileiros

A saúde mental e o estímulo ao discurso de ódio vêm sendo relacionados diretamente à ocorrência de atentados em escolas

Por Giovana Tirapelli e Ingrid Poltl | Foto: Banco de imagens Pexels

O atentado na Columbine High School, no estado do Colorado, na região Oeste dos Estados Unidos, completou 24 anos na última quinta-feira (20). A lembrança do massacre, aliada ao atentado que há duas semanas (5 de abril) matou quatro crianças em uma creche de Blumenau, Santa Catarina, leva a atenção de educadores e cientistas para os jovens brasileiros. Naquela data, em 1999, o mundo foi surpreendido com o massacre transmitido em tempo real, que resultou na morte de 12 estudantes e de uma professora, deixou 24 pessoas feridas e levou ao suicídio os dois autores do atentado.

O ataque nos Estados Unidos introduziu o bullying no vocabulário mundial. O caso brasileiro ergue um obstáculo para recuperar a confiança na escola como um ambiente seguro. Pais e profissionais da educação passaram a temer possíveis riscos no espaço escolar, antes visto como uma segunda casa. “Nós, como educadores, ficamos muito tristes desses massacres estarem acontecendo nas escolas, que sempre foram sinônimo de refúgio, de lugar de segurança, um local de aprendizagem”, diz Sergio Vinícius Corrêa , professor de História de uma escola estadual no interior de São Paulo. “Vem sendo agora um local de medo. As pessoas estão temendo enviar seus filhos para as escolas.

Influência da mídia

O livre acesso a múltiplos conteúdos torna os jovens alvos fáceis de influência no processo de disseminação midiática de ódio. Qualquer estímulo pode ser distorcido e servir de pretexto para atos irrefletidos em mentes que ainda estão em formação. É o caso do cinema, segundo o professor Sérgio Vinícius Corrêa. “O filme produz o conteúdo com a melhor das intenções, contudo, a maldade está nos olhos de quem vê”, afirma Corrêa. O impasse enfrentado pelas produções cinematográficas que têm tragédias como inspiração é a utilização das obras para a disseminação de ideias equivocadas. A intenção é registrar acontecimentos para sensibilizar a sociedade, mas a interpretação individual foge de qualquer controle. Memoriais criados em homenagem às vítimas desses atentados, por exemplo, têm sido manipulados por aqueles que disseminam discursos violentos na deep web.

A divulgação de conteúdos de ódio, além de normalizada pela sociedade, é criminosa. De acordo com o cientista político Djiovanni Marioto, há uma livre distribuição e visualização de conteúdos que são claramente contrários aos direitos humanos. O material funciona como uma ponte para instigar jovens que possuem interesse na temática e convidá-los para reuniões geralmente realizadas pelo canal de comunicação do Discord. Tais canais são protegidos pela política de segurança do aplicativo, o que torna difícil identificar os autores de tais discursos.

Outro fator midiático é a influência das tendências, “trending topics”, popularmente conhecidas como “modinhas”. O aplicativo TikTok é conhecido por seus vídeos curtos, que muitas vezes mostram conteúdos sensíveis, como por exemplo massacres famosos, serial killers e condutas de bullying nas escolas. Um vídeo que se tornou popular recentemente mostra um aluno arrastando a cadeira do professor com a intenção de fazê-lo cair, enquanto mostra gestos obscenos.

Saúde mental

A negligência em torno da saúde mental estudantil não é apenas um tabu social, como também uma epidemia no Brasil. A deputada federal Tabata Amaral (PSB-SP)apresentou uma proposta de instituição da Política Nacional de Atenção Psicossocial nas Comunidades Escolares, que prevê acesso à atenção psicossocial e à promoção da intersetorialidade entre serviços educacionais e comunicação entre escolas. O texto, aprovado pela Comissão de Educação da Câmara dos Deputados, é um substitutivo ao Projeto de Lei 3383/21, do Senado. A proposta ainda depende de aprovação de outras comissões para seguir para o Plenário da Câmara Federal.

Dados do Ministério da Saúde apontam que a população masculina, com uma taxa de 78%, é a que mais morre por suicídio no Brasil. Consequentemente, é a que mais sofre com a negligência no tratamento de doenças psicológicas, tais como depressão e ansiedade.