Confira o cotidiano de trabalhadores de aplicativos

por Mariana Gomes Santos
Confira o cotidiano de trabalhadores de aplicativos

Com os recentes aumentos dos combustíveis, motoristas e entregadores relatam dificuldades do cotidiano.

Por Ingrid Caroline, Isabela Lobianco, Julia Moreira e Mariana Gomes

O Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) divulgou no começo de outubro (07) que o mercado brasileiro representa 20% de todos os trabalhadores vinculados somente ao aplicativo Uber. Já o iFood possui 140 mil entregadores cadastrados, além de outros 200 mil terceirizados que atendem diretamente a restaurantes. O número de trabalhadores relacionados a entregas e aplicativos soma 32,3 milhões de trabalhadores no país. 

O motoboy Gabriel Veiga é um deles. Antes da pandemia de COVID-19, Gabriel trabalhava em uma oficina mecânica, onde permaneceu trabalhando com estabilidade por 2 anos. O motoboy imaginou que continuaria por um bom tempo no emprego, pois tinha bom desempenho e a empresa era estruturada. Mesmo assim, pensando em renda complementar no futuro, Veiga comprou uma moto uma vez que já era cadastrado no aplicativo do iFood. No início da pandemia, a empresa rompeu o vínculo com Gabriel imediatamente, devido ao alto quadro de despesas. “Foi um choque, mas comecei a seguir rigidamente o ramo de entregas no ifood, assim encontrei restaurantes para trabalhar de forma fixa”.

Gabriel conta que, como trabalha há um bom tempo em um restaurante bem sucedido, a remuneração é boa. Porém, ressalta que a imprudência, desrespeito e maldade no trânsito são perigos que corro todos os dias. Além disso, com o combustível em alta, o motoboy não consegue mais atingir a meta semanal sem que outras coisas sejam cortadas de sua vida pessoal, como comer uma pizza com a namorada, comer um açaí, ou até mesmo aumentar a compra no início de mês.

Após dois anos como entregador, Gabriel voltou a trabalhar em uma oficina, onde tem adquirido ainda mais experiência, e voltando ao próprio objetivo de tornar-se um profissional respeitado na área de mecânica automotiva. Veiga não se arrepende de ser motoboy: “Tomaria a mesma decisão sem sombra de dúvidas. Todos nós passamos por dias difíceis de lidar, foi a maneira honesta e perfeita de conseguir seguir minha vida e honrar minha palavra”.

Ainda, o sonho de Gabriel é ter o próprio negócio, porém é grato por tudo o que o emprego de entregador lhe proporcionou. “[Quero] poder trabalhar um pouco menos e aproveitar minha família, pois até hoje sou motoboy, no período noturno, e um dia, eu vou parar de correr o perigo de perder minha vida em cima de uma moto”.

Sérgio Guerra, fundador da Guerra Drivers, conta que o emprego em que trabalhava anteriormente o distanciou de suas três filhas por ter que viajar demais. O que fez com que Sérgio tomasse uma atitude para priorizar a família novamente foi a morte de um sobrinho, em 2016. Como estava fora do mercado em Curitiba, Guerra tomou a atitude e virou motorista de aplicativo, mas foi imediatamente surpreendido por um assalto: “Cheguei a ser assaltado no começo, logo na primeira semana e eu vi que não dava para rodar sozinho, porque é muito perigoso”, revela. 

O acontecimento foi o estopim para que Sérgio Guerra criasse uma rede de motoristas para manter a segurança e união de quem estava na profissão. “Eu criei um grupo e fui convidando outros colegas motoristas para participar desse grupo e rodar junto, um cuidando do outro, o que virou, hoje, o grupo Guerra Drivers, que tem 15 mil motoristas e é o maior do Brasil.”

 

Este conteúdo faz parte de uma reportagem sobre o tema publicada na edição #332 do jornal impresso Comunicare. Confira, abaixo, a edição digitalizada do jornal.