Conscientização ajuda com desperdício de comida

por Gisele Passos
Conscientização ajuda com desperdício de comida

Um dos males que afeta o desenvolvimento sustentável no planeta pode ser combatido com pequenas ações


Por Pedro Freitas

Andando pela praça de alimentação do Mercado Municipal de Curitiba,
um dos centros gastronômicos da capital paranaense, é possível enxergar um retrato de uma das práticas menos sustentáveis do nosso planeta: o desperdício de comida. Em suas praças de alimentação regadas de lanchonetes e restaurantes, quem passeia pelo local pode acabar se deparando com pratos abandonados sob bandejas, porém ainda com restos de alimentos.

Esse não é um problema apenas da cidade de Curitiba ou do estado do Paraná. O consumo alimentício sem consciência gera um grande impacto ambiental em todos os cantos do globo terrestre. Segundo dados da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), são desperdiçados 1,3 bilhão de toneladas de comida no mundo por ano. Essa quantia corresponde a U$ 750 bilhões (dólares). Os números são ainda mais alarmantes quando colocado ao lado da quantia de pessoas que passam fome no planeta: 815 milhões de cidadãos.

Dono de um restaurante buffet livre no Mercado Municipal, Gilberto de Jesus Dea disse da importância que o comércio local tem na hora de adotar práticas de responsabilidade social que ajudem a combater esse tipo de desperdício. “Para nós, sempre foi evidente que nossa empresa deveria trabalhar em conjunto com a sociedade para se tornar o mais humana possível e existe um consenso relacionado a esse tipo de prática aqui no Mercado Municipal”. Para Dea, mesmo que os estabelecimentos locais façam a sua parte, ainda é necessária uma conscientização do consumidor para que não haja um desperdício de comida por parte de seu público.

Em uma pesquisa realizada pelo Comunicare com 50 pessoas que se alimentavam no Mercado Municipal, 80% dos entrevistados disse estar ciente dos impactos ambientais e sociais gerados pelo desperdício alimentar, mas somente oito pessoas dessa parcela assumiram realizar alguma prática em suas casas para melhorar esse hábito. A engenheira Marcella Vasconcelos, 41 anos, disse que a correria do cotidiano a obriga comer fora de casa diversas vezes por semana, e que é preciso de um cuidado maior com a quantidade de comida no prato. “Muitas pessoas estão na pressa do trabalho e acabam por não terminar com toda a comida que colocaram em seus pratos. As pessoas por a mão na cabeça para ver o quanto podem comer e não sair largando restos por aí”.

Problemas para doar

Existe uma grande de dificuldade para a doação de alimentos produzidos nos restaurantes, mas que acabam sobrando e não irão ser reutilizados hoje no Brasil. João Santinelli, proprietário do restaurante Santa Papa, localizado no bairro Alto da XV, conta que foi aconselhado por seu advogado a não doar os restos de alimento do seu restaurante para evitar qualquer entrave na justiça. “Eu sempre quis fazer algo para ajudar as pessoas, quando dá ofereço umas quentinhas para uns moradores de rua da região. Mas a doação de restos de alimento envolve a vigilância sanitária também, então é um processo mais delicado”.

O advogado Djalma Nogueira conta que a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) toma muito cuidado para que os alimentos doados não estejam vencidos ou estragados, o que ele descreve como “uma medida que faz bem e mal ao mesmo tempo”. Ao estabelecer regras para a doação desses alimentos, a Anvisa inibe que ocorra casos de intoxicação alimentar com esses recursos, mas também dificulta o combate ao desperdício. “Para um comerciante, se torna mais fácil simplesmente jogar a comida fora do que, possivelmente receber uma notificação ou responder na justiça por ter doado um alimento contaminado”.