Curitiba é a 4° capital no ranking de desigualdade salarial de gênero

por Raquel Wrege
Curitiba é a 4° capital no ranking de desigualdade salarial de gênero

O Paraná se encontra entre os 5 estados do Brasil em maior desigualdade salarial entre homens e mulheres, de acordo com o Relatório de Transparência Salarial, baseados em uma apresentação de dados dos estabelecimentos do setor privado com 100 ou mais empregados.

Por Raquel Wrege | Foto: Raquel Wrege

As mulheres no Paraná recebem como remuneração média R$ 3.198, enquanto homens R$ 4.828, segundo dados do Relatório de Transparência Salarial. Em Curitiba, no ano de 2021 as mulheres ganhavam 8,4% a menos que os homens realizando o mesmo trabalho, segundo dados d’O Expresso Curitiba, retirados do CAGED.  

Nos últimos anos houve um aumento significativo na participação feminina em cargos de liderança, representando 45% dos MEIs da capital, segundo a Prefeitura Municipal de Curitiba. Ou seja, por mais que as mulheres cheguem a quase metade das micro empresas, ainda ganham em média R$ 1.630 a menos que os homens. Por conta disso, foram necessárias mudanças e inovações nas políticas públicas para o melhor desenvolvimento das mulheres no mercado.

 

Igualdade salarial é lei

 Ano passado em julho entrou em vigência a lei nº 14.611. Esta veda a desigualdade salarial entre homens e mulheres. Até dia 21 de março de 2024, as empresas com mais de 100 empregados na capital precisavam preencher uma série de relatórios sobre os funcionários, para analisar e combater essa desigualdade. Por conta dessa lei, será possível analisar a realidade de remuneração dos trabalhadores nas empresas privadas, assim como suas políticas de incentivo, contratação, apoio aos funcionários e promoção na perspectiva de gênero. 

A economista Astrid Lacerda, fundadora do Money Class Academy, expõe que as mulheres precisam entender que o dinheiro é um termo para todos, independente de gênero. A educação financeira, normalmente, é inexistente nas casas, por mais que seja necessária para adaptar o cotidiano com a realidade do mercado. Ela pondera também que não é apenas o crescimento dos MEIs ou CNPJs femininos que devem ser levados em consideração, mas também modos de levar esses negócios adiante, sem dívidas e prevendo um futuro financeiro com segurança.   

Marrara de la Mara, diretora e atriz da agência Vox Talents, alega que durante o seu desenvolvimento profissional teve muita dificuldade em precificar sua mão de obra. Muitas vezes, dava aulas por preços baixíssimos por não achar que era qualificada o suficiente para cobrar o que era oferecido. Mesmo vendo seus colegas homens menos qualificados vendendo cursos e outros produtos por preços maiores. 

Além da desigualdade salarial, existem as questões culturais que afetam as mulheres. Ilton Norberto Robl Filho, professor e doutor da UFPR em Direitos Humanos expõe que muitas delas levam uma dupla jornada de trabalho. Ou seja, além de trabalharem precisam cuidar da casa e da família. Segundo dados do IBGE, desde 2016 a porcentagem nacional de mulheres e homens chefes de domicílio mudou drasticamente. No mesmo ano, a estatística do homem estava em 67%, já em 2022 em 55%. As mulheres, em 2016 se encontravam em 41% e hoje em dia 51% dos lares do Brasil têm como chefe de domicílio uma mulher. 

No ano de 2021, em âmbito estadual, o salário médio de homens e mulheres do Paraná estava com discrepância de 25%. Eles, em média, recebiam cerca de R$ 3.550, enquanto elas tinham um ganho médio de R$ 2.654. Já no ano de 2022 essa discrepância diminuiu, de acordo com dados do Ipardes, porém ainda muito presente até os dias de hoje como visto anteriormente.  

 

O que deve mudar?

Lacerda acredita que um dos modos de diminuição desse problema é o ‘falar sobre’. Muitas vezes, mulheres não conversam sobre dinheiro ou finanças, o que torna esse assunto um tabu. Para acabar com isso, é necessário começar a colocar em pauta a finança feminina. Segundo ela, as mulheres carregam muitos fardos apenas por serem mulheres e são ensinadas a cuidar apenas da casa e da família, sem pretensão do futuro.  

Robl Filho expõe que a desigualdade salarial das mulheres é um fato que ocorre tanto em Curitiba quanto em âmbito nacional, e é ainda pior para mulheres negras e marginalizadas. Ele coloca que muitas vezes, a exposição das mulheres a isso pode ser difícil, pois elas não se sentem seguras o suficiente para pedirem ajuda e reivindicar seus direitos. É necessário uma rede de apoio, principalmente para mães solos, como creches e auxílio, pois a desigualdade salarial não é o único problema a ser enfrentado nesse quesito. 

Olho: “O problema não será resolvido apenas com a igualdade salarial, é necessária uma rede de apoio para a mulher”.   

Ouvidorias, Ministério Público do Trabalho, Defensorias Públicas, advogadas e advogados da área são locais em que as mulheres podem recorrer em quaisquer situações. Por mais que seja um problema complexo de se resolver, Robl Filho acredita que é possível. E que ele não será resolvido sem políticas públicas, legislação, fiscalização dessas leis e principalmente, sem educação e conscientização.  

Um dos exemplos dessa rede de apoio que está em crescimento em Curitiba é a Casa da Mulher Brasileira. Neste local, existe uma ampla rede de suporte e serviços para as mulheres, e garante tratamento humanizado e sem discriminação. O espaço conta com atendimento 24h, salas de acolhimento, triagem e apoio psicológico; brinquedoteca para as crianças; Defensoria Pública, Delegacia da Mulher, entre outros serviços. 

Para mais informações sobre os serviços oferecidos pela Casa da Mulher Brasileira, acesse: https://www.curitiba.pr.gov.br/locais/casa-da-mulher-brasileira-de-curitiba/2117 ou entre em contato no telefone: (41) 3221-2701 / 3221-2710.

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