Do sensacionalismo às fake news: qual é o impacto da era pós-digital no jornalismo?

por Izabelly Lira
Do sensacionalismo às fake news: qual é o impacto da era pós-digital no jornalismo?

Fenômenos que atraem, influenciam e tem o poder de formar a opinião pública são problemas recorrentes no jornalismo atual

Damaris Pedro, Emilia Jurach, Paula Moran, Thiago Rasera

Um dos maiores estudos já realizados sobre a disseminação de notícias falsas na internet, produzido pelo Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT, sigla em inglês) e publicado no mês de março deste ano pela revista norte-americana Science, chegou à conclusão de que as notícias falsas, ou as chamadas fake news, se espalham 70% mais rápido do que as verdadeiras e têm maior poder de alcance.

Os pesquisadores analisaram mais de 126 mil notícias que circularam no Twitter no período entre 2006, quando a rede social foi criada, e 2017. As informações foram tuitadas por cerca de 3 milhões de pessoas e retuitadas mais de 4,5 milhões de vezes. De acordo com o estudo, cada postagem verdadeira atinge, em média, mil pessoas, enquanto as postagens falsas mais populares – que estão entre o 1% mais replicado – atingem de mil a 100 mil pessoas.

Ainda segundo a pesquisa, um dos principais fatores que contribuem para a disseminação das fake news é o sensacionalismo em notícias sobre política, que são usadas como manobras de movimentos sociais ou, até mesmo, para atrair mais cliques nos portais ou sites, como foi o caso da polêmica do “Queermuseu”, uma exposição do banco Santander realizada no ano passado e que foi alvo de diversos ataques após a divulgação de uma notícia falsa pelo vereador Carlos Bolsonaro no Twitter.

Após o ocorrido, a exposição, que abordava questões de gênero e temáticas do movimento LGBT, teve que ser encerrada devido aos ataques e protestos nas redes sociais.

O auxiliar administrativo Gerson Camargo conta que segue muitos portais de posicionamento conservador na internet. Segundo Camargo, muitos deles repercutiram o “Caso Santander”, e inclusive, as postagens de fake news de Carlos Bolsonaro sobre a polêmica. “As pessoas acabam se baseando muito pelo que veem em qualquer lugar. Realmente o Carlos errou em propagar uma informação que era equivocada, porém ele não representa a direita como um todo, e nem os portais mais sérios”.

Camargo afirma que o caso o fez repensar sobre o que é divulgado em redes sociais e portais noticiosos. “Eu fiquei muito espantado quando soube do caso da exposição e até acreditei no começo, porém, com o tempo, fui percebendo do que se tratava. Recebia mensagens com notícias sobre o caso e cheguei a ver muitas coisas nos portais e nas redes sociais, mas agora tenho mais cautela com isso”, conta.

O jornalismo e o acesso à informação  

Para o advogado Charles Parchen, especialista em direito da informação, o jornalismo tem uma função social fundamental para a formação da opinião pública e para a garantia do acesso à informação. “Eu penso que aquele jornalista ou veículo de comunicação sensacionalista, que não tem o compromisso com a sociedade ou com a coletividade, não está de acordo com o seu principal princípio, que é a preocupação com o coletivo”, afirma.

Parchen explica que pelo fato de os grandes veículos de comunicação de massa terem um poder de indução muito forte, as pessoas se influenciam por questões que envolvem os interesses políticos dos mesmos, o que também torna o acesso à informação restrito devido ao monopólio da informação no país. “Nós não temos uma transparência acerca da política editorial ou política de tratamento da informação do Facebook ou daRede Globo, por exemplo. Então, são nessas brechas que esses veículos encontram formas de perpetuar discursos segregadores ou que vão contra a democracia”.

Não basta criar leis, é preciso conscientizar

Segundo o especialista, o maior problema das notícias falsas não está na tentativa de proibi-las, pois há uma série de dificuldades em torno disto que não são fáceis de serem resolvidas, como por exemplo, a filtragem do conteúdo pelas empresas das redes sociais. “Nós precisamos lembrar que as fake news vêm do usuário. A empresa, por mais que filtre o conteúdo, não tem muita responsabilidade sobre isso. Eu defendo a ideia de combatermos as fake news não por leis que regulamentem as notícias falsas ou que imponham multas às empresas, mas sim, leis que incentivem a educação para o uso da tecnologia, só o processo de consciência, a tomada de decisão racional

Qual o limite da ética?

No vídeo a seguir, a repórter Mirella Cunha, da Rede Bandeirantes, aborda um jovem acusado de roubo de maneira abusiva, na qual é perceptível observar que o seu objetivo foi denegrir a imagem do suspeito e menosprezar sua capacidade intelectual.

Em razão da abordagem maldosa da repórter, o veículo acabou sofrendo ataques e, segundo a própria emissora, após a polêmica, a profissional foi demitida.

Para saber o que as pessoas pensam sobre esse caso, a equipe de reportagem enviou este vídeo pelo Whatsapp para vários contatos, de diversas classes sociais e graus de escolaridade. Veja como cada um reagiu.

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O papel do jornalismo na verdade dos fatos 

Para a repórter da Band News Lorena Pelanda, o jornalista é considerado, e já foi muito mais, o representante da população em relação às cobranças do governo, por exemplo.

A repórter ressalta que jornalismo ético traz credibilidade e também audiência, o que é muito gratificante.

Weliton Martins, repórter cinematográfico da RPCTV, ressalta a importância da ética com as imagens:

A ética na comunicação

O professor de Filosofia e Ética da PUCPR Sérgio Barbosa fala sobre a importância da ética no jornalismo, do ponto de vista filosófico, diante do bombardeamento de notícias no mundo contemporâneo:

Há pouco interesse em acompanhar portais de notícia

A equipe de reportagem realizou uma pequena pesquisa, feita por meio de enquete na rede social Instagram para saber como as pessoas consomem e acompanham notícias e o peso do compartilhamento das fake news.