Eleitores de Curitiba discutem se escolha é realmente muito difícil

por Victor Dobjenski
Eleitores de Curitiba discutem se escolha é realmente muito difícil

Dados apontam que mais de 7% da população de Curitiba anulou o voto no segundo turno da última eleição para presidente. Eleitores debatem se opção é democrática

Por Julia Sobkowiak, Lívia Berbel, Thaynara Goes e Victor Dobjenski | Ilustração: Kaylane Vitória

Em 2022, o ano continua marcado pela encruzilhada entre verde-amarelo e vermelho. A polarização de cores é reflexo de um histórico conflituoso que acontece desde 2014 no país. Em 2018, a chegada de Bolsonaro ao Planalto intensifica o cenário de dualidade. Enquanto alguns já escolheram as paletas que vão aderir, outros ainda preferem o espaço em branco para a disputa. 

Segundo dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), durante as eleições para presidente, 7,28% dos eleitores de Curitiba votaram branco ou nulo no segundo turno em 2018. Em números absolutos, essa porcentagem representa 80.718 pessoas. Em comparação com o segundo turno das eleições presidenciais de 2014, houve um aumento de 29.894 pessoas votando em branco ou nulo. Esses números são, respectivamente, similares às populações das cidades de Pato Branco e Campo Magro, ambas paranaenses.

O TSE contabiliza apenas as estatísticas, sem avaliar qualitativamente os dados. A partir dessa pesquisa não é possível afirmar o motivo que levou os eleitores a invalidar, nem estimar quantos brasileiros anularão os votos em outubro durante as eleições. Votos brancos e nulos servem apenas para fins estatísticos e não contabilizam para nenhum candidato ou partido.

Eleitores

Para algumas pessoas, votar em branco é se abster da responsabilidade de escolher um representante. É o caso da cuidadora Vanessa Aparecida, de 22 anos. Ela acredita que o voto em branco é reflexo do descontentamento da população e falta de pesquisa sobre candidatos políticos. “Eu acho que a pessoa tá se abstendo. Elas ficam mais decepcionadas com o que tá acontecendo hoje em dia no Brasil. Daí acabam desistindo mesmo”. A cuidadora ainda relata que pretende pesquisar as propostas políticas antes de votar em outubro, mas não pretende votar em branco. 

Em outros casos, alguns eleitores acreditam que anular o voto é uma manifestação política. O eletrotécnico José Joaquim Silva Gomes, 37, acredita que votar branco ou nulo só teria resultado se todos os brasileiros assim o fizessem como forma de protesto. “Acho que anular o voto é uma maneira de você expressar o seu descontentamento não com a minoria, mas com a maioria dos representantes.” O técnico em elétrica que decidiu votar no Bolsonaro já escolheu o verde-amarelo para vestir. Para ele, ao longo do governo, o atual presidente mostrou preocupação com o povo e honestidade.

O jornalista Léo Bocatios afirma que os atuais governantes não representam o que o povo precisa. Para ele, nessas eleições o vermelho é a única opção. Ele relata que, ao longo dos seus 65 anos, nunca viu o Brasil com uma situação econômica tão benéfica como a da época do governo Lula. “A possibilidade econômica que nós tínhamos era completamente diferente de tudo que eu já vi na minha vida.”

Léo ainda faz críticas àqueles que pretendem votar em branco em outubro. “Para mim essa é a política de Pôncio Pilatos: eu lavo minhas mãos, isso não é minha responsabilidade. Então eu acho que é de uma covardia monstruosa, uma covardia que vai afetar toda a sociedade.”

Falta de representatividade

A partir da análise do cenário eleitoral dos últimos anos, o cientista político e professor da UFPR Emerson Cervi, afirma que o voto branco ou nulo são manifestações políticas válidas. “São eleitores que não encontraram uma escolha viável para eles entre os candidatos apresentados”. O professor constata que o aumento de votos em branco não se deve somente a polarização, mas pela falta de representatividade política.

“O crescimento do voto em branco tem a ver com a presença de fortes candidatos que não foram para o segundo turno. O eleitor já não votou em nenhum dos mais votados no primeiro turno, ele tende a se abster ou votar branco ou nulo. Tem mais a ver com o percentual de votos do que polarização”, relaciona.

Cervi presume que o espaço em branco do debate não deve ter grande influência em 2022. Para ele, muitos eleitores parecem já possuir um candidato definido, o que faz com que as campanhas pré-eleitorais tenham um menor impacto. Para os eleitores, a escolha entre verde-amarelo e vermelho parece não ser muito difícil.

Entenda mais sobre as expressões eleitorais

Nos últimos anos há muita dúvida sobre os termos eleitorais, mas para votar com consciência é necessário saber quais são as possibilidades

Durante os anos eleitorais, surgem dúvidas sobre as diferentes possibilidades de votos e o que eles significam. Nas últimas eleições, com a polarização do debate político, alguns termos foram ressignificados no imaginário popular. Para essas eleições é importante relembrar os reais significados para votar de forma consciente.  

Possibilidades de voto

Em uma eleição, é possível votar de três formas diferentes: voto nominal, branco ou nulo. Votos nominais são destinados a candidatos, e quando somados levam ao resultado da eleição. Para o eleitor ter seu voto validado, é preciso digitar o número do candidato escolhido e verificar se a foto corresponde ao candidato antes de apertar confirma. Para votar nulo, basta digitar qualquer número na urna que não represente um candidato e apertar confirma. O voto em branco  possui um botão próprio na urna, é só apertar branco e confirmar.     

Ao contrário do que foi construído, votos brancos e nulos não beneficiam nenhum candidato ou partido. Esses votos servem apenas para fins estatísticos do TSE. Alguns especulam se o voto em branco representa uma terceira via de eleitores que não se sentem à vontade para votar nos candidatos apresentados.  

E a terceira via?

O cientista político e professor da UFPR Emerson Cervi explica alguns conceitos e decisões tomadas pela população. Ele afirma que os candidatos da chamada terceira via são candidatos que entram no cenário político pelo meio, não pelas extremidades. Desta forma conseguem tomar os votos de outros candidatos que já estavam estabelecidos, mas que não representam a opinião de parte dos eleitores.

Cervi justifica o aumento dos votos brancos e nulos por alguns fatores. Tendo em vista que as eleições de presidente ocorrem ao mesmo tempo em que as eleições para cargos legislativos, os senadores e deputados têm menos visibilidade. Isso gera uma maior quantidade de votos brancos e nulos, já que a população não gasta tempo escolhendo um candidato pois priorizam as eleições presidenciais. Nas eleições municipais, por possuírem uma maior proximidade com os eleitores, há uma porcentagem menor de votos brancos e nulos, porque muitos acabam conhecendo essas figuras políticas pessoalmente.

Enquanto algumas pessoas afirmam que a polarização entre os espectros políticos dividiu os votos em 2018, o professor explica que isso se deve a outro motivo. A razão é que foi uma eleição com fortes candidatos que não conseguiram avançar para o segundo turno, o que fez com que os eleitores desses candidatos tivessem uma tendência de anular o voto. Isso, no entanto, não significa que os votos em branco ou nulos representem uma terceira via.