Escassez de matéria-prima afeta setor industrial brasileiro

por Vinicius Bittencourt
Escassez de matéria-prima afeta setor industrial brasileiro

Empresas estão sofrendo com exportações dos materiais para o exterior e encontram dificuldade para abastecer o mercado interno

Por Vinicius Bittencourt | Foto: Sheva Marketing

O setor industrial brasileiro vem sofrendo com falta de matéria-prima desde o início da pandemia no segundo trimestre de 2020, o que gera uma diminuição no ritmo de produção. Empresas estão tendo que lidar com uma desestruturação em suas cadeias de suprimentos e vão encontrando dificuldades para atender a demanda do mercado interno.

Segundo o Instituto Brasileiro de Economia (IBRE), em janeiro de 2021, 48% das empresas da indústria de transformação estavam com dificuldade de expandir suas produções. Ainda foi constatado que, para essas empresas, o principal fator limitativo foi a falta de matéria-prima, com 20% dos votos. 

Como consequência dessa escassez, as empresas estão sofrendo, também, com a alta no preço destes materiais. Segundo o Sinduscon-SP (Sindicato da Construção Civil do Estado de São Paulo), material como o aço teve uma alta acumulada de 45,73% em seu custo na variação dos últimos 12 meses. Enquanto o cimento teve uma alta de 37,5% nesse mesmo período. 

Assim, com a escassez e a alta no preço da matéria-prima, o setor industrial brasileiro teve, em janeiro deste ano, o seu pior desempenho desde abril de 2020, segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). Além disso, o setor ainda registra, em 12 meses, uma queda de 4,3% em sua produção.

Problemas do setor produtivo

O empresário Marcos Vieira, gerente de inteligência de mercado da MGM Produtos Siderúrgicos S/A, aponta como a falta de materiais afeta o setor produtivo da empresa: “Indústrias de base (produtoras de matéria-prima) têm encontrado mais lucratividade ao exportar, deixando o mercado nacional desabastecido. Isso traz uma grande insegurança ao setor produtivo, que não atinge seu limite na capacidade instalada das indústrias, mesmo havendo demanda de consumo”.

Marcos ainda comenta que com algumas medidas governamentais de liberação de crédito a baixo custo, redução da taxa de juros (SELIC) e liberação do auxílio emergencial, o mercado tomou um caminho diferente do esperado e passou a consumir além da capacidade de reação das indústrias. Assim, a partir do princípio da “oferta x demanda”, produtos chegam ao consumidor final em menor quantidade do que a demanda, e com preços muito superiores aos praticados até então.

Impactos econômicos

O economista José Adamo Belato Júnior aponta quais são os principais impactos econômicos que a escassez e alta no preço da matéria-prima causam nas indústrias: “Os principais impactos são a perda de competitividade, de lucratividade e atratividade. Isso porque, em geral, as altas da matéria-prima têm de ser repassadas no preço de venda dos produtos e deve-se achar um meio termo entre quanto repassar ao cliente e o quanto absorver dos aumentos”. Ele ainda coloca que a grande questão é quando o produto perde atratividade, ou seja, fica com preços mais elevados do que a percepção de valor que o consumidor enxerga nele.

José Adamo completa dizendo que, devido ao fato da pandemia estar em sua pior fase, é esperado que as indústrias ainda tenham incertezas em aumentar sua capacidade produtiva e que não há perspectiva de aumento de oferta de materiais. Porém, com o aumento da Selic (2,75% no último Copom) e com a menor capacidade do governo de injetar dinheiro na economia, é provável que o cenário seja estabilizado pela ponta da demanda, ou seja, diminuição do consumo.

Indústria de Curitiba

A escassez e a alta nos preços de matéria-prima também estão afetando indústrias de Curitiba. O proprietário da Acx Industrial, Bruno Cesar Xavier, revela que a empresa, que trabalha com projetos, está sofrendo com o maior tempo de entrega dos materiais e com reajustes no preço do aço nos últimos doze meses, que é seu principal produto.

Ele também comenta como a alta no preço dos materiais impacta no valor que é encaminhado ao cliente. “Apenas o valor dos projetos novos são influenciados pelos reajustes. Os já fechados, eu não consigo mudar, pois já tenho a ordem de compra do cliente. Além disso, eles têm um tempo de 5 a 8 meses. Projetos que fechei em abril, finalizei em dezembro. Precisei absorver os reajustes”.

Box: Indústria de alimentos mantém a alta do setor industrial em 2021

Indústria de alimentos mantém a alta do setor em 2021 Produção alimentícia subiu 3,1 % em janeiro deste ano em comparação a dezembro de 2020. Assim, segundo o IBGE, foi a principal responsável por evitar a primeira queda da indústria desde abril do ano passado.

Outros segmentos da indústria que contribuíram para o total de produção: indústrias extrativas (1,5%), de produtos diversos (14,9%), de celulose, papel e produtos de papel (4,4%), de veículos automotores, reboques e carrocerias (1,0%) e de móveis (3,6%). Em contrapartida, a metalurgia teve uma queda de 13,9 % neste período.