Estudantes reclamam do aumento do preço da passagem do ônibus

por Manoela Gouvea
Estudantes reclamam do aumento do preço da passagem do ônibus

Aumento da passagem do transporte público causa agitação nos estudantes de Curitiba, gerando revolta

Por Manoela Gouvea

Em março, a Prefeitura de Curitiba anunciou o aumento da tarifa das passagens de transporte público. A mudança foi de R$ 0,50 mas para pessoas que estudam e trabalham, o valor fez diferença e dividiu opiniões. A URBS, por meio de nota publicada no site oficial, diz que “os custos do transporte aumentaram bem acima da média da inflação. O diesel, por exemplo, acumula alta de 16% desde fevereiro do ano passado. Peças e acessórios subiram 9,6%. No total, os custos do transporte coletivo aumentaram 13,3% no último ano”. No mesmo pronunciamento, o órgão anunciou que se os usuários fossem pagar o real valor para cobrir os gastos acima, o valor seria estimado em R$7,05.

“Mais caros, mais cheios e mais atrasados”

Carlos Magno, economista da Unicuritiba diz que o valor da gasolina é o maior motivo pela qual o preço da passagem subiu. Segundo ele, o diesel disparou e por isso a Urbs afirma que na verdade o custo passaria a ser R$ 7,05. E ressalta que o diesel pode ter aumentado, mas o salário mínimo não. “E quem usa o ônibus não é quem produz gasolina, é o trabalhador que recebe um salário mínimo”.

“Não é a inflação que está determinando o preço da passagem. Foi mencionado o combustível e as peças, essas que durante a pandemia também andaram subindo muito (de preço) pois a produção caiu muito na pandemia, então começou a faltar peças e isso levou ao aumento de preço delas e além disso o problema da gasolina”, afirma o economista.

No site oficial, da Urbs defende que o aumento foi seguido de uma melhora na qualidade do transporte. No olhar de estudantes que usam o serviço diariamente, isso é diferente. A secundarista Gabriela Alves, demonstra descontentamento. “Esses R$ 0,50 parecem que é pouco, mas na prática, se você fica gastando todos os dias e sempre é descontado, ou até mais vezes por dia, é uma grande diferença. Para quem ganha pouco, é muita coisa”. A ex-aluna da PUCPR. Stephanie S. Friesen compartilha a mesma percepção. “Não é só pelos R $0,50. É muito mais do que cinquenta centavos. Acho que isso mostra como o povo não tem muito a dizer sobre isso. […] Mas são R$0,50 que fazem toda diferença na vida do trabalhador. Porque R$0,50 a gente não acha na rua, a gente tem que trabalhar pra conseguir esses centavos”. Friesen conta que usa transporte público há cinco anos, agora para ir ao trabalho e que nesse tempo, já essa revolta aconteceu mais de uma vez.

Quanto a isso, o economista Magno, concorda. “O salário mínimo no Brasil já é insuficiente para o sustento de uma família. Um sexto do salário, pode se dizer assim, vai completamente no gasto do transporte público. Diante de todos os outros gastos que a família tem como alimentação, etc, são coisas indispensáveis. É muito difícil as pessoas trocarem o transporte público por andar a pé. Não é difícil uma situação em que você trabalhe longe da sua casa, então é uma coisa praticamente insubstituível. Isso deveria ser uma coisa que recebesse uma pensão maior do poder público por essa característica por ser um bem que não possui um substituto”.

Muito se foi discutido sobre as mudanças que esses R $0,50 iriam trazer aos transportes. E essas mudanças não têm sido vistas pelos usuários. “Mais caros, mais cheios e mais atrasados”, foram as palavras de Stephanie. O ônibus que normalmente passa às 8h50 da manhã, mas por alguma razão tem se atrasado. Para não chegar atrasada, a profissional, que trabalha como social media, acorda mais cedo para não perder o segundo ônibus. Indignada, ela compartilha seu descontentamento nas redes sociais: “parece que o meu tempo vale R $0,50 para o serviço público”. Uma estudante de comunicação da Universidade Positivo, Diovanna Santos diz que está ficando um absurdo, pois os passageiros não tem visto para onde vai esse dinheiro. “Dizem que para o salário dos funcionários, mas com a chegada da tecnologia, os ônibus menores, de bairro, não têm mais cobradores, então muita gente perdeu o emprego, logo o salário delas está sendo destinado para outra coisa. Não estamos vendo como isso reflete no transporte público”.

Estudantes são um dos mais afetados por causa desse aumento

O vereador de Curitiba Dalton Borba atualmente está fazendo um abaixo-assinado para pressionar a Prefeitura de Curitiba a baixar o preço da passagem. A mensagem diz: “Eu estou mandando mensagem pros meus amigos e amigas para divulgar o abaixo-assinado que lancei no mandato, pelo transporte público de Curitiba. A ideia é juntar um grande número de pessoas inconformadas com o preço da passagem porque, quanto mais assinaturas, mais pressão conseguimos fazer na Prefeitura!!!!”

Ao entrar no link que compõe a mensagem você se depara com uma informação: Você acha justo pagar R$12,00 para andar em pé dentro de um ônibus lotado?

Não podemos permitir que o Curitibano gaste 20% do seu salário mínimo para usar o transporte público. Inscreva-se no nosso abaixo-assinado e nos ajude a impedir esse roubo.

Confira a situação na região metropolitana

O aumento da tarifa aconteceu na capital do Paraná, porém nas regiões metropolitanas não houve alteração no preço das passagens. Entenda o relato de um jovem que mora em uma dessas regiões, mas trabalha em Curitiba, e a explicação de um economista do porque isso acontece.

Igor Marques Maria, 18 anos, se formou ano passado no Ensino Médio e atualmente trabalha no setor de RH como aprendiz da empresa Agres. O jovem mora na região metropolitana de Pinhais, mas trabalha em Curitiba. Essa diferença de região reflete na hora de pagar passagem do ônibus.

“Por morar na região metropolitana e usar o cartão Metrocard, eu pago R $4,75″, explica ele, que acrescenta que não paga os mesmos valores da capital na sua região. “Para ir para o trabalho eu pago R $7 ,50 no Metrocard e para voltar eu pago R$ 6,00 com o cartão da URBS”.

Também foi perguntado o que poderia ser feito para resolver situações de pessoas que têm a mesma vivência que ele, ou seja, que precisam administrar mais de um cartão. “Padronização. Curitiba é a capital dos ônibus e ela é reconhecida por isso. A questão da inovação dos tubos e as formas como ele é utilizado torna o ônibus o principal meio de transporte público da cidade. Se para cada canto, sendo regiões metropolitanas, você tem que lidar com um cartão diferente, porque alguns ônibus aceitam apenas cartões, você sempre tem que se preocupar em ter o dinheiro contado. São R $12,00 por dia se você tem ida e volta. Eu acho que tinha que ter uma padronização maior que não aumentasse os preços, pois R $6,00 é ridículo, mas que deixasse mais acessível no geral”.

O fato de Pinhais cobrar mais barato pela sua passagem, mas manter o nível de qualidade, mostra que Curitiba poderia fazer o mesmo, pois mesmo ao aumentar o preço, mudanças visíveis não foram feitas. Quanto a isso, Igor comentou: “Em teoria o aumento de preço era para melhorar a qualidade dos ônibus e eu estou notando muito o contrário. Todos os ônibus que eu pego e chegavam em horários fixos, eles têm chegado atrasados, bem mais vazios do que estavam antes. Atrasando ou adiantando muito. Horário de ônibus serve justamente para saber a hora que o ônibus vai chegar. […] O que eu notei é que a qualidade decaiu ao aumentar [o preço]”.

O economista Carlos Magno explica da seguinte forma: ”Como o transporte público é uma concessão da prefeitura, estamos falando de outras prefeituras (regiões metropolitanas), então são acordos diferentes que são estabelecidos e os cálculos também vão variar muito, porque o tamanho das regiões metropolitanas são distintos. Uma coisa é um ônibus andar por Curitiba, outra coisa é andar por Pinhais. A cidade é menor, consequentemente talvez os ônibus andam mais cheios, possivelmente há pouquíssimos horários em que eles estejam vazios.

“Curitiba é uma cidade maior, os ônibus andam em linhas mais longas, mas podem existir períodos no dia em que eles andam mais vazios, mas também o que acontece é que na cidade também arrecada uma concessão muito maior do que essas regiões metropolitanas como Pinhais e Araucária. Pode-se pensar que o poder de barganha da prefeitura de Curitiba é bem maior do que o poder de barganha de Pinhais ou de araucária”, concluiu Magno.

No começo de 2023, o preço da passagem do transporte público era R $5,50, porém no mês de março o preço da tarifa subiu R $0,50, gerando descontentamento entre os curitibanos.