Feiras de adoções de animais migram para as redes sociais durante o COVID-19

por Isadora Picasky Deip
Feiras de adoções de animais migram para as redes sociais durante o COVID-19

 Instituições de cuidado animal se preocupam com possível aumento no abandono de pets durante e após o período da quarentena do novo coronavírus  

Por Bruna Colmann, Isadora Deip e Sthefanny Gazarra

 Com a ideia de evitar a concentração de pessoas para prevenir a transmissão comunitária do novo coronavírus, grupos independentes e ONGs de cuidado animal de Curitiba decidiram suspender as feiras de adoções de pets. A decisão foi pensada a partir do decreto 470/2020, no qual a Prefeitura determinou o funcionamento apenas de atividades essenciais à cidade devido a pandemia do COVID-19. O processo das adoções passou a ocorrer de forma virtual, por meio das redes sociais. Juntamente ao aumento do uso das tecnologias para as adoções, surgem hipóteses de que os pets podem auxiliar no combate à solidão durante o período de isolamento social.

Com o cancelamento das feiras, as protetoras do grupo independente “Quem ama adota” estão promovendo as adoções pelo Facebook ou por indicações. O grupo cuida dos animais do terminal do Maracanã e do Guaraituba em Colombo, e registra uma perda em termos de ajuda. Segundo a voluntária Eliana Boito, as doações caíram em mais de 50%, enquanto o abandono apenas aumenta, principalmente de cadelas prenhas ou no cio. Ela conta que o grupo não tem mais condições financeiras para realizar o resgate de animais em situação de risco. 

Eliana comenta sobre o cachorro Zeus, um pastor alemão que foi encontrado pela equipe no terminal do Maracanã, posteriormente castrado e adotado pelo promotor de vendas Celso Soares. O novo tutor do pet conta que sempre gostou de animais e já pensava em adotar antes da quarentena do COVID-19. A nova companhia o ajuda a combater a solidão neste período. “O Zeus está me fazendo ser um ótimo ser humano.” 

De acordo com a Secretaria Municipal do Meio Ambiente (SMMA), não houve uma proibição da realização das feiras de adoções, mas sim uma recomendação para o desincentivo de eventos que promovam a aglomeração de pessoas. A Rede de Proteção Animal de Curitiba, que é um departamento da SMMA, já está em alerta contra o abandono, devido a experiências de outros locais que começaram a ser atingidos pelo COVID-19 antes de Curitiba. A orientação é que os tutores e protetores independentes mantenham o bem-estar e a saúde do pet mesmo durante o período da pandemia, para garantir uma guarda responsável.

O “Adote com Consciência” é um grupo de protetores unidos pela causa animal que não possui abrigo próprio. Com a suspensão de feiras, os membros  também encontram nas redes sociais uma maneira de aproximar os futuros tutores dos pets. “Quando a pessoa gosta, ela entra em contato com a protetora que irá realizar a entrevista e, se estiver dentro do perfil, irá agendar uma visita ao animal. Essa visita é marcada em local público e arejado, evitando contato físico entre adotante e protetora”, disse Camile Trinoski, uma das fundadoras e organizadoras do Adote  acrescentando que o álcool em gel já era indispensável em suas feiras antes da pandemia.

De acordo com Camile, o benefício de adotar um animal no período da quarentena reside no maior tempo livre para se adaptar e ensinar ao novo membro a rotina da família. Há, no entanto, uma preocupação com devoluções, tanto de novas adoções como de antigas. “Temos um processo bem rígido e documentado através de contrato. Se percebemos que a família só está pensando na adoção por estar em casa nesse período, não doamos e orientamos a pensarem melhor se estão preparados para ter um animal.”

A principal complicação enfrentada pelo grupo nesse período é a redução de ajuda. “Nas feiras, vendíamos camisetas, rifas, bolsas, produtos que teriam o lucro revertido para a renda do grupo. Agora estamos anunciando, mas quase não vendemos nada.” A doação de ração também caiu, e com a instalação de uma crise financeira a tendência é as pessoas doarem ainda menos.

A Sociedade Protetora dos Animais de Curitiba (SPAC) não paralisou suas atividades durante a época da pandemia do COVID-19. A presidente e voluntária da sociedade, Soraya Simon, afirma que os colaboradores estão tomando os cuidados de higiene e limpeza, evitando aglomeração de pessoas e solicitando que apenas um tutor acompanhe o animal na consulta. Em relação às doações recebidas, ela afirma que nada mudou e a dificuldade em conseguir rações e recursos básicos para os pets continua a mesma.

A adoção de um pet durante a quarentena traz benefícios a toda a família. Segundo a psicóloga Ludimila Junqueira, um novo “integrante animal” proporciona distração, ocupação do tempo, além de brincar com as crianças e ser uma ótima companhia para idosos. Ela comenta sobre as pessoas que não podem ter um animal por questões alérgicas e de moradia, por exemplo. “Esses indivíduos devem manter contato com entes queridos, seja por videoconferências ou mensagens, pois esse afeto pode amenizar a ansiedade.”

A técnica de manutenção de aeronaves Giovana Cristina adotou a gatinha Jasmine durante o período da quarentena do COVID-19. Ela pretendia adotar um animal ao longo das férias escolares de sua filha, em julho, devido à maior disponibilidade de tempo. Porém, com o período de isolamento social, ela conseguiu conciliar a rotina com os cuidados do novo pet. Em relação ao período após a crise do coronavírus, Giovana acredita que sua rotina será alterada novamente. “Quando a vida voltar ao normal será uma nova fase de adaptação para todos nós e para a gatinha também.”

Para o veterinário Wagner Souza Julio, a procura pela adoção de animais durante o período da pandemia do novo coronavírus pode tanto aumentar quanto diminuir. A adoção pode trazer a ideia de combate a solidão, trazendo uma companhia aos tutores, porém juntamente com a chegada de um novo pet chegam novas despesas, e no período de quarentena muitas pessoas estão com seus salários reduzidos devido à paralisação de estabelecimentos.

A ONG “Somos Amigos dos Animais”, por exemplo, percebeu uma diminuição de 40% no número das adoções por semana após o cancelamento das feiras presenciais. De acordo com a organização, as atividades de conscientização à guarda responsável de cães e gatos continuam. Até o momento não houve o registro de nenhum caso de devolução de animais, porém acreditam que “é um risco a ser corrido”. 

Os cuidados com os pets

De acordo com o veterinário Wagner Souza Julio, durante o período da quarentena do COVID-19, os animais que ficam em casa durante o dia devem ser estimulados a brincar e os que saem para as ruas devem receber uma maior atenção dos donos ao retornarem para a residência. “Estes animais devem ser desinfectados e higienizados, para que não haja risco de transmissão de doenças aos seus tutores.”

Para a adaptação de um novo animal em casa, de acordo com Wagner, o primeiro passo é levar o novo companheiro a um médico veterinário, para que este passe orientações necessárias conforme a rotina do tutor. Ainda segundo ele, quando o período de quarentena acabar, os donos devem continuar dando atenção aos pets, até que eles se acostumem com a rotina de não ter o dono por perto durante o dia.

Confira alguns pets e seus tutores durante a quarentena do novo coronavírus:

[slideshow_deploy id=’35959′]