Fintechs inovam mercado de serviços financeiros no país

por Ex-alunos
Fintechs inovam mercado de serviços financeiros no país

Apesar da tecnologia, a novidade é desconhecida ainda por 54,8% das empresas e possui poucos investimentos no estoque de empréstimos

Por Gabriel Dittert e Thiliane Leitoles

Em era de transformações digitais, as fintechs, startups que atuam especificamente no mercado econômico, chegaram ao Brasil com o objetivo de melhorar a gestão de transações financeiras de bancos e empresas. Com a aposta do Banco Central (BC) para provocar uma queda mais rápida dos juros bancários e aumentar a concorrência no mercado de crédito, as fintechs vêm para trazer mais opções aos consumidores e facilitar o comércio virtual.

Entretanto, a influência das fintechs no mercado de créditos ainda é baixa, visto que, segundo o BC, as empresas detêm somente 0,3% do estoque de empréstimos concedidos no país, que somava R$ 3,6 trilhões em fevereiro. Além disso, apesar das possíveis facilidades, o tema ainda é desconhecido por uma parcela da população. Em levantamento divulgado pela Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) na semana passada, foi revelado que 54,8% dos empresários ligados à entidade não tinham ouvido falar dessa modalidade de serviços financeiros.

Crédito: Gabriel Dittert

Em Curitiba, fintechs de grande e pequeno porte também passaram a movimentar o mercado

Buscando permitir que os brasileiros pudessem realizar compras em sites internacionais sem a necessidade de um cartão habilitado internacionalmente, a fintech curitibana EBANX foi criada e hoje oferece soluções de pagamentos locais no Brasil, México, Argentina, Colômbia, Chile, Peru e Equador. Segundo a assessora de comunicação, Mariana Skroch Domakoski, a empresa recebeu aporte de US$ 30 milhões, o equivalente a quase R$ 100 milhões, no início deste ano, da empresa norte-americana FTV Capital. “O EBANX foi o primeiro investimento da empresa norte-americana no Brasil e o segundo na América Latina”.

Mariana comenta que a startup tem escritórios no Brasil (Curitiba e São Paulo), Uruguai (Montevidéu), México (Cidade do México) e Inglaterra (Londres), e tem presença comercial nos Estados Unidos e na Ásia. A gerente afirma que, segundo levantamento da empresa, o EBANX teve crescimento médio anual de 80% em todas as suas verticais nos últimos três anos e já ajudou 500 sites a alcançarem todos os seus consumidores na América Latina.

Outra fintech curitibana, mas de pequeno porte é a Troco Simples, que oferece solução para resolver o problema de troco do varejo, o entregando de forma digital ao consumidor. Um dos sócios da startup é Rodrigo Gregory, que comenta as vantagens do consumidor e comerciante em investir em uma alternativa para recebimento ou pagamento de forma totalmente digital. “Com isso elimina-se a quebra de caixa dos estabelecimentos, bem como a redução de custos com transporte de valores e a busca por moedas”.

O empreendedor diz que mais importante que o crescimento em termos de número de estabelecimentos são as integrações com os principais sistemas de TEF e PDV do mercado que possibilitam a entrega do troco digital no próprio sistema do estabelecimento. “Vários gigantes do varejo nacional estão concluindo as integrações conosco, o que possibilitará uma rápida expansão em todo o Brasil”. Gregory afirma que uma das maiores dificuldades em empreender está relacionada com a capacidade de vender bem o produto, contudo, o dono da fintech admite que houve a conquista de  aporte para a Troco Simples através das empresas Curitiba Angels e Darwin Startups.

 

 

Ainda com intenção de fomentar o desenvolvimento econômico e social da cidade, a prefeitura inicia, através da Agência Curitiba de Desenvolvimento (ACD), o projeto Vale do Pinhão em 2017, que foi criado para fazer com que universidades, investidores, grandes empresas e startups se reúnam para desenvolver empresas e produtos inovadores na capital, principalmente na área da economia criativa. O diretor técnico e jurídico da ACD, Frederico Lacerda, diz que o Vale do Pinhão trabalha com a cidade toda, no sentido geográfico, apesar de a âncora do projeto estar nos bairros Rebouças e Prado Velho. “Essas foram as primeiras regiões industriais da cidade e precisavam ser desenvolvidas, visto que possuem grandes terrenos favoráveis para instalação de empresas, e também por existir uma grande concentração acadêmica na região, como várias universidades e centros tecnológicos”.

Lacerda afirma que o projeto também depende de ações e incentivos fiscais como a Lei do Tecnoparque, que promove a diminuição do ISS de 2 a 5%, após análise e aprovação do pedido feito pela empresa ao comitê formado pela prefeitura, órgãos de desenvolvimento, e entidades privadas. “Entretanto, devido à legislação federal, caso a empresa esteja sob o regime simples, não pode acumular incentivos, visto que já possui o benefício da escolha pelo regime. Um dos exemplos de startup que deu certo e teve o incentivo do projeto foi a Adam Robo”.

O consultor de empresas e integrante do conselho de economia do Paraná Daniel Poit diz que as agências de financiamento para inovação que usam recursos oficiais têm uma espécie de papel social complementar, visto que o poder público tem todo interesse em que as empresas se desenvolvam e possam arrecadar mais impostos. “As agências têm o intuito de criar financiamento de forma mais fragmentada, dividindo pequenos financiamentos por empreendedor. Com o desenvolvimento delas, a ideia é diminuir problemas sociais como o desemprego e os riscos para a segurança pública e, também,  aumentar a base de arrecadação de impostos”.

Para o mercado, a vantagem é o aumento da competição com a entrada de novas empresas, de acordo com o economista. Além de favorecer as condições de fornecimento e de negociação para o consumidor, acabando por impactar a longo prazo os índices de inflação, segundo Poit.

 

Ele afirma que as fintechs têm provocado pouca movimentação no mercado e, em razão do período eleitoral, alega que há candidatos contrários a esse tipo de empreendimento, por acreditarem em um discurso trabalhista em que as pessoas devem ser empregadas e não empreendedoras. Porém, segundo ele, há aqueles candidatos que possuem um ponto de vista economicamente liberal, o que os faz pensar que as inovações devem ser financiadas por iniciativa privada.

 

O economista também afirma que esses dois pensamentos políticos podem vir a interferir e que o mais correto seria convergir os dois ideais. “Eu acho perfeitamente possível combinar esses interesses, já que é uma questão social e que níveis de emprego dificilmente voltarão a ser como foram nos anos anteriores”.

 

O consultor de empresas ainda comenta outro problema para a expansão deste setor no mercado, que é a qualidade da forma como os projetos de inovação são apresentados. “Nós estamos em uma fase, ainda, de semi analfabetismo sobre o que vem a ser um plano de negócios ou o uma apresentação de projetos inovadores, principalmente quando se trata de buscar captação”. Ele também cita como exemplo a Financiadora de Estudos e Projetos (FINEP), que ficou com recursos sobrando por falta de projetos que atendessem aos requisitos técnicos mínimos para sequer serem avaliados.