Juventude se mostra engajada na política

por Carla Giovana Tortato
Juventude se mostra engajada na política

A polarização é um dos fatores que contribui para o interesse político dos jovens atualmente

Por Carla Tortato

No Brasil, historicamente, os jovens tiveram grande importância na política, principalmente como forma de resistência durante a Ditadura Militar e posteriormente, com o movimento estudantil “Caras Pintadas” que pedia o impeachment do então presidente Fernando Collor de Mello. As recentes manifestações – que ocorrem com mais frequência desde 2013 – tem obtido grande participação por parte da população jovem, indicando um aumento do interesse político.

Segundo a cientista política Flávia Babireski a atuação da juventude no ambiente político mantém um padrão que varia de acordo com o perfil de cada manifestação. Nos atos recentes relacionados à educação, afirma Flávia, o público é majoritariamente jovem, enquanto nas manifestações que ocorreram a favor do presidente Jair Bolsonaro, há predominância de adultos.

A cientista política relata que a polarização política atual é um dos fatores que motivam as mobilizações tanto de jovens quanto de outros grupos, o que aumenta o engajamento. Porém, Flávia diz que isso pode ser algo temporário para a maioria das pessoas, por isso, é necessário aguardar um período de menor polarização para verificar se há um engajamento concreto.

Para o jovem Rafael Lemes Miranda, 18 anos, é importante para a população acompanhar o que acontece no cenário político, sobretudo no momento atual em que há muita desinformação, inclusive propagada pelos próprios governantes. Ele conta que começou a se interessar pela questão política ainda na adolescência, influenciado pelo pai que participou do movimento estudantil no final dos anos 1980. Miranda afirma que costuma acompanhar os candidatos em que votou nas eleições principalmente por meio de notícias na internet.

A universitária Aryma Banco, 32 anos, diz que é importante que a população participe da política. “O pensamento de que uma pessoa sozinha não faz nada leva a gente a se acomodar”. Porém, ela afirma não acreditar que os jovens são bem representados nesse ambiente. “A política é velha, branca e de classe média alta”, completa Aryma.

Para o vereador mais jovem de Curitiba, Bruno Pessuti, 34 anos, é importante que os jovens de hoje opinem sobre o futuro do país, pois essa é a última geração em que a juventude será maior do que a quantidade de pessoas idosas. “É fundamental que os jovens participem, até porque eles trazem novas experiências, novas ideias e uma relação muito mais forte com a tecnologia”.

De acordo com o vereador, quando há inovação, como nas votações sobre a legalização do Uber e agora, dos patinetes elétricos, os jovens são importantes para que novidades como essas não sejam proibidas. Pessuti afirma que o fato de ser o vereador mais jovem da cidade o fez buscar ampliar o contato com as universidades por meio de palestras que visam difundir o conhecimento sobre as principais pautas do seu mandato.

A doutoranda em Ciência Política Karolina Mattos Roeder acredita que a internet ajuda os jovens a se interessarem mais por política, pois faz parte do dinamismo da sociedade atual. Segundo ela, isso agiliza o agendamento de manifestações. Porém, Karolina afirma que quando se trata dos partidos políticos ainda há uma forma muito tradicional de fazer política. “A participação de jovens – não só em manifestações e atos – mas também na política institucional via partidos é importante para a renovação dos quadros, formação de líderes que venham a aglutinar demandas da sociedade”.

Karolina diz que parte da juventude tem acreditado que a ordem estabelecida atualmente é de domínio das minorias (como a comunidade LGBT, negros e mulheres), embora a “maioria” nunca tenha sido oprimida por esses grupos. “É curioso que o subversivo hoje na política entre jovens tenha sido se voltar contra o que eles chamam de ‘politicamente correto’”.

O jovem Lucas Domingos afirma que vê o cenário político atual como caótico e que os casos de corrupção entre os governantes fazem com que ele não tenha o costume de acompanhar política. Domingos acredita que a juventude tem poder de fala, mas às vezes os jovens não são ouvidos por conta da pouca idade. “A mentalidade de alguns é de que só porque a pessoa é mais nova, ela não pode ter uma opinião formada”, afirma.

No Brasil, 79% da população se diz triste com relação ao país e 78% estão desanimados, de acordo com a Pesquisa Datafolha realizada em 2018. Segundo a mesma, o pessimismo é mais alto entre os jovens.