Mercado de jogos digitais cresce no Brasil

por Carla Giovana Tortato
Mercado de jogos digitais cresce no Brasil

Nos últimos quatro anos foram criadas 143 empresas de games formalizadas no país

Por Carla Tortato

O mercado de jogos digitais no Brasil movimentou no último ano R$ 1,5 bilhão segundo previsão da NewZoo, uma das principais condutoras de pesquisas sobre esse setor. De acordo com a mesma, o país é o 13°maior mercado de games do mundo, com cerca de 75,5 milhões de jogadores. O número total de empresas brasileiras desenvolvedoras de jogos digitais cresceu 182% nos últimos quatro anos. Em 2014 havia 133 empreendimentos formais nessa área, atualmente são 276, de acordo com o II Censo da Indústria Brasileira de Jogos Digitais (IBJD).

O Paraná teve aumento de 214,3% na quantidade de empresas do gênero entre 2014 e 2018, segundo a mesma pesquisa. O Estado é o terceiro que mais cresceu nesse período conforme aponta o II Censo IBJD. São 30 entidades, 22 formalizadas. O Paraná fica atrás de São Paulo (91 desenvolvedoras formais), Rio de janeiro (26) e Minas Gerais (25).

Para o economista Victor Pelaez há uma tendência das áreas de tecnologia da informação em crescer mesmo durante períodos de contração econômica. Segundo Pelaez, essa é uma característica estrutural de um setor emergente e com grande demanda. Trata-se de um mercado recente, ainda não saturado, com tendência de crescimento para um longo período. “É uma nova fronteira mercadológica que está sendo ocupada”, afirma o economista.

De acordo com o coordenador do curso de Programação de Jogos Digitais da Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR), Eduardo Damasceno, os games chegaram ao Brasil no final da década de 1970. Ele comenta que na época, alguns entusiastas de outras áreas se arriscaram na produção dos primeiros jogos desse tipo no país. Apenas nos anos 90 o desenvolvimento evoluiu de forma efetiva, por conta da criação da multimídia. Mas, segundo Damasceno, foi no início dos anos 2000 que começaram a surgir cursos relacionados aos games e a aumentar o número de pessoas interessadas pelo ramo, devido ao barateamento de custos.

Um dos pioneiros na programação de jogos digitais no Brasil Renato Degiovani conta que ingressar nessa área não foi algo planejado. Ele diz que sempre gostou de projetar jogos –  mesmo os de tabuleiro – e no início da informatização, estava aprendendo assim como outros entusiastas da época. Porém, Degiovani passou a se destacar com seus projetos e foi convidado pela primeira revista brasileira de microcomputadores.

O programador afirma que, no início, a maior dificuldade foi quanto à informação técnica, pois quase não existiam muitos livros sobre programação de computadores e os que existiam não eram de conteúdo aprofundado. Degiovani, que ainda atua na criação de games, avalia: “Hoje em dia é bem mais fácil fazer um jogo, embora seja mais trabalhoso”.

O fundador de uma desenvolvedora de games Gustavo Abib conta que começou a ter interesse pelo setor há 15 anos. A princípio, Abib lembra que havia muita incerteza devido à conexão da internet que era ruim. “A grande vantagem de ter entrado no digital foi que conseguimos crescer rapidamente porque você consegue escala, estar em qualquer lugar a qualquer momento”, conclui o empreendedor.

A área em que Abib atua é o chamado serious games, ou seja, jogos voltados para a simulação da realidade com objetivo de aprendizagem. Isso permite a assimilação e a reflexão sobre um conteúdo de forma lúdica. Esses games se diferem dos mais tradicionais, que apesar de terem estratégias e objetivos são voltados ao entretenimento. No Brasil, das 227 empresas que responderam ao II Censo IBJD em 2017, 193 são desenvolvedoras de jogos tradicionais e 126 desenvolvem serious games. Há empresas que criam mais de um tipo de jogo.

O estudante de Jogos Digitais Lucas Demo ressalta a importância de jogar vários tipos de games independente das preferências pessoais de quem os cria. O jovem acredita que isso ajuda a construir o repertório de quem é desenvolvedor. “É importante entender porque aquele jogo faz sucesso, pois eu nem sempre vou trabalhar em um projeto que é o tipo de jogo que eu gostaria de jogar”.

Apesar de ser um desenvolvedor, o estudante não se considera um gamer. Dentre os 75,5% dos brasileiros que dizem jogar jogos eletrônicos, apenas 26,4% se consideram gamers, de acordo com a Pesquisa Game Brasil (PGB), um relatório sobre o perfil dos jogadores digitais.