Novo salário mínimo não sustenta família de quatro pessoas em Curitiba

por Maria Gabriele Fachini
Novo salário mínimo não sustenta família de quatro pessoas em Curitiba

Segundo reajuste no piso salarial foi confirmado em março, mas não é compatível com os gastos na capital para uma família de quatro pessoas

Por Letícia Seixas, Manoela Gouvea, Maria Gabriele Fachini e Nathália Borba

Após o reajuste anual do salário mínimo em dezembro de 2022, com medida assinada pelo Governo Federal, foi confirmado um novo aumento no piso salarial para trabalhadores e aposentados brasileiros para R$ 1.320. A medida passou a valer a partir de 1º de maio de 2023. No entanto, moradores da capital paranaense que dependem somente dessa forma de sustento, não conseguem compensar o custo de vida médio na cidade. 

Curitibanos que recebem um salário mínimo para o sustento mensal apresentam dificuldades em organizar gastos em áreas como supermercados, moradia, saúde e educação. De acordo com a Pesquisa Nacional da Cesta Básica de Alimentos, realizada pelo Departamento Intersindical Estatística e Estudos Socioeconômicos (DIEESE), o valor de uma cesta básica na capital do estado correspondia, em 2022, cerca de 62% do salário mínimo em vigência na época. O valor de mercado dos produtos de necessidade básica para sobrevivência do cidadão curitibano era de, aproximadamente, R$ 698. 

Uma cesta básica comum, com itens necessários de alimentação não perecíveis, é suficiente para alimentar uma família de quatro pessoas por apenas 10 dias. Ou seja, para uma família média brasileira, seriam necessárias três cestas básicas por mês. O valor do salário mínimo vigente não cobre tais gastos, considerando o custo médio de uma cesta básica em Curitiba.

Os custos de moradia são outro problema. De acordo com o Índice de Locação Sob Oferta (LSO), divulgado pelo Instituto Paranaense de Pesquisa e Desenvolvimento do Mercado Imobiliário e Condominial (Inpespar), a média de custo do aluguel em Curitiba era de R$ 1.543,00, em 2022. Somados aos gastos com alimentação, higiene e saúde, o salário mínimo se mostra insuficiente para o custo de vida confortável na cidade. 

Para o doutor em Economia Carlos Magno, quem vive de salário mínimo não tem condições de arcar com aluguéis nas áreas mais centrais da cidade. “Isso significa que boa parcela da população trabalhadora da cidade será empurrada para as periferias. […] Assim, teremos: aluguéis elevados e taxa de desocupação elevada nas áreas centrais, elevada densidade demográfica nas periferias.” 

O salário mínimo brasileiro, que no ano passado era equivalente a R$ 1.212, passa por reajustes anuais que buscam garantir aos trabalhadores um salário compatível com o custo de vida no país. Os cálculos, entre 2006 e 2015, eram feitos considerando o valor do Índice de preços do consumidor (INPC), usado para monitorar a inflação, e o crescimento real do Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil. No entanto, com o PIB negativado e crise financeira no país, o Governo Dilma (PT), em 2015, suspendeu esse formato de cálculo.

Aumento do valor do salário mínimo em relação ao aumento da inflação (a cada 5 anos)

Atualmente, os reajustes são baseados no valor da inflação anual, que, em 2022, foi equivalente a 5,93%. Assim, o aumento proposto no fim do Governo Bolsonaro (que elevou o piso salarial para R$ 1.302), de 7,43%, manteve o valor do salário mínimo dentro dos padrões da inflação nacional. Com o segundo aumento, já concretizado pelo Governo Lula, essa compensação se torna ainda maior.

Para Raphael Cordeiro, especialista em finanças, essa margem de excesso do aumento do salário mínimo, em relação ao valor da inflação, tem como objetivo correr atrás do prejuízo dos tempos de crise. “O aumento está sendo acima do aumento do custo de vida, compensando um pouco o fato de que o aumento tenha sido baixo nos anos anteriores”. 

No entanto, de acordo com projeções divulgadas pelo DIEESE, o salário mínimo em 2023 deveria ser quase cinco vezes maior que o valor divulgado. O estudo aponta um piso salarial equivalente a R$ 6.571,52, tendo como base os valores das cestas básicas ao redor do país como parâmetro de sobrevivência da população, em vez do valor da inflação. 

“A gente tem que economizar muito, para não passar necessidade”

Para Benedita Santos Spigolon, de 75 anos, cuja única fonte de renda atualmente é o salário mínimo do INSS respectivo a sua aposentadoria, o dinheiro  é minuciosamente contado para cobrir os gastos de aluguel, mercado e contas mensais, mesmo com a ajuda dos filhos. “É difícil. Não é suficiente, a gente vai quebrando um galho”, conta. 

Benedita recebe ajuda financeira do filho, que também recebe o piso salarial, e da filha, que contribui mensalmente com o valor de R$100. Mesmo assim, afirma que antigamente o rendimento de um salário mínimo era mais proveitoso para a população. “Uns anos atrás eu tinha uma vida mais prática, mais fácil. Agora foi ficando mais dificil”. 

Para resolver essas questões é necessário planejamento. “E planejamento dessa natureza tem de ser feito pelo governo. Planejamento não é a mesma coisa que execução”, afirma Carlos Magno. “O mote da iniciativa privada é o lucro, e as demandas sociais por habitação e alimentação não podem ser atendidas com a perspectiva de lucro, sobretudo em um país como o Brasil.”