O eleitor desabafa nas urnas em 2022

por Ivan Martins Cintra
O eleitor desabafa nas urnas em 2022

Soraya Werner apoia Lula, Ledi Cruz apoia Bolsonaro, Marcelo Flores diz escolher por exclusão. Os eleitores de Curitiba tem algo a dizer. A palavra final será proferida às urnas

Por Ivan Cintra e Luis Schuh Bocatios

Representando dois espectros ideológicos opostos, o ex-presidente Lula e Jair Bolsonaro são os candidatos favoritos para as eleições presidenciais de 2022. Existe um clima de ódio no eleitorado, rixas entre amigos e familiares. As diferenças entre os apoiadores de cada candidato ultrapassam o espectro político e invadem a esfera social em um debate ideológico e filosófico da vida. Para esta reportagem foram ouvidos três moradores de Curitiba, com opiniões e vivências diversas.

A consultora de serviços médicos Ledi Cruz, 42 anos, esteve presente, junto a familiares, na Marcha para Jesus de Curitiba. O evento evangélico ocorreu em maio deste ano e teve a participação do Presidente da República. Questionada sobre sua religiosidade, apenas declarou: “Estou aqui só para o evento do Bolsonaro, apoio tudo o que ele defende”. Ainda afirmou não ter uma segunda opção. “Sem o Bolsonaro, anularia o meu voto. Não tem ninguém mais competente para assumir o país”. Cruz acredita que o atual presidente toma decisões que visam o bem da população, ao invés dos interesses pessoais.

Sobre Lula, o principal opositor, ela não tem uma opinião positiva. “Ele é um homem que se guia pelos outros, não tem opinião própria. Eu acho que ele não tem caráter, e que não pode assumir o nosso país”. Em relação aos eleitores do petista, pensa que são desinformados. “Essas pessoas precisam levar em consideração tudo o que aconteceu no nosso país, mas fazem vista grossa. Infelizmente, quase todos os votos dele são comprados”, acusou.

A artesã Soraya Werner, 57 anos, vive em um sobrado rodeado por plantas, com marido, duas filhas, um Doberman, dois Poodles e três vira-latas. Perguntada sobre seu voto nas próximas eleições, ela brinca: “Vou esperar a terceira via”. Na verdade, declara-se apoiadora convicta de Lula. “Nos dois governos dele nós tivemos um êxito muito grande, a diferença social que sempre existiu no Brasil diminuiu. Foram defendidos os negros e os mais pobres. Tivemos uma política social muito ativa, saímos da linha da pobreza e da miserabilidade, mas hoje estamos perdendo tudo. O nível de desemprego está enorme e a desigualdade social está voltando de forma abrupta”, explica.

Werner é nascida e criada em Blumenau (SC), cidade que julga extremamente conservadora e é localizada no estado que deu a Bolsonaro seu maior índice de votos, 75%. Considera-se de esquerda desde adolescente. “Eu sempre fui meio rebelde. Tudo que minha mãe dizia que eu não podia fazer era o que eu gostava. Aí entrei na universidade e fui fazer palanque. Fui até fichada, na época da ditadura era tudo muito mais difícil”. Ela não quer contato com os apoiadores de Bolsonaro. Embora tenha se afastado de familiares próximos, Soraya não vê a distância de forma negativa. “Não acho que me fariam crescer. Com eles é só arma na mão, fazem isso para que a gente não tenha poder de fala.”

O advogado Marcello Flores, 52 anos, se vê obrigado a escolher por exclusão. Não encontra no atual presidente uma opção ideal, no entanto, afirma: “Em um cenário entre Bolsonaro e Lula eu não tenho dúvidas, voto no Bolsonaro”. Flores não acredita na divisão dos espectros políticos em esquerda e direita, diz pautar-se nos valores que cada partido político representa. O advogado, que atua no setor empresarial, alega: “Os valores do PT são totalmente estranhos à minha concepção de vida”.

Polarização e rejeição

Segundo o cientista político e social Rodrigo Prando, professor da Universidade Presbiteriana Mackenzie, existe uma forte polarização no cenário sociopolítico atual. A rejeição terá um importante papel nas eleições de 2022. “A escolha se dará pela rejeição, pelo medo e pelo ódio”. No entanto, o sociólogo analisa que essa polarização não é ideológica, é emocional. “A população vota, principalmente, por conta do carisma de cada político. O líder carismático desperta uma adoração que não vem da razão”, explicou.

Os eleitores de Bolsonaro o consideram um “mito” e odeiam Lula. Já os eleitores de Lula o consideram o maior presidente da história do Brasil e veem Bolsonaro como uma pessoa ruim. De acordo com o professor, a postura de ambos os candidatos se resvala no populismo, Bolsonaro ainda mais que Lula. Para muitos, o ódio vai definir o voto. O sociólogo ainda prevê: “A quantidade de eleitores que votarão em branco ou deixarão de votar será enorme.”

Confira a entrevista completa com Rodrigo Prando: