Políticos utilizam as redes sociais para se comunicar com a população

por Carla Giovana Tortato
Políticos utilizam as redes sociais para se comunicar com a população

Dentre os 38 vereadores de Curitiba, todos têm redes sociais e 36 têm essas ferramentas especificamente para fins políticos

Por Carla Tortato

Nos últimos anos, com os avanços tecnológicos e a popularização da internet no Brasil, os políticos têm cada vez mais utilizado as redes sociais para se comunicar com a população. Eles costumam usar as mídias online para compartilhar seus projetos de lei e como forma de dialogar com seus eleitores.

O vereador Mauro Bobato (PODE) conta que utiliza o Facebook e o Whatsapp como ferramenta para interagir e ser facilmente alcançado por qualquer cidadão. Segundo ele, a internet é um meio que ajuda a população a fiscalizar e acompanhar portais de transparência. “Com as mídias sociais temos um tempo de ruptura e talvez de mudar as coisas que estão acontecendo”, diz Bobato.

Para o vereador Tico Kuzma (PROS) as redes sociais permitem o debate e amadurecimento de ideias. Ele conta que antes a comunicação era feita por telefone, correspondência, caminhadas ou quando as pessoas o procuravam no gabinete. Kuzma acredita que as redes sociais ajudam os indivíduos a participar das decisões e a se manifestarem, mas afirma que nem sempre as pessoas sabem separar uma reivindicação ou crítica construtiva, de um ponto de vista que não concordam.

A jovem Maria Luiza Serafim acredita ser importante que os políticos utilizem as redes sociais, desde que não se pronunciem somente por elas, pois nem todos têm acesso à internet. Apesar de utilizar essas ferramentas como fonte de informação, ela diz considerar importante se informar por meios jornalísticos para ter acesso a pontos de vista diferentes. “Eu acho que os políticos que escrevem por rede social estão tentando falar o que o público quer ouvir e não a verdade nua e crua”, afirma Maria Luiza.

O engenheiro de produção Lauro Pires Schlemper conta que não costuma acompanhar o trabalho dos políticos na internet. Ele afirma que isso ocorre porque há uma grande quantidade de notícias com informações alteradas, o que faz com que prefira se informar pelos telejornais. Mesmo assim, Schlemper acredita que utilizar as redes é uma boa estratégia por parte dos governantes.

O cientista político Rafael Cardoso Sampaio conta que a eleição de 2008 nos Estados Unidos, que elegeu Barack Obama, foi a primeira em que a internet teve influência. No Brasil, ele afirma que em 2014 houve um grande crescimento de usuários de redes sociais, mas isso não foi decisivo para o resultado das eleições. Apenas em 2018, o cientista político relata que houve uma grande ruptura e as redes sociais – acompanhadas de outros fatores contextuais – tiveram grande impacto no resultado das urnas. De acordo com Sampaio o momento atual é de transição, pois pela primeira vez há políticos que depois de eleitos utilizam fortemente essas redes.

Para o cientista político, os meios digitais são uma grande vantagem para a população, pois facilitam o diálogo com os governantes. Segundo o mesmo, antes, o cidadão comum só ouvia falar dos políticos durante as eleições ou através dos meios de comunicação tradicionais. Porém, Sampaio alerta que hoje há o fenômeno da polarização política, em que os indivíduos vão se afastando para pólos extremos porque os algoritmos das redes tendem a não facilitar o encontro de pessoas diferentes.

O vereador Edson do Parolin (PSDB) conta que com as redes sociais conseguiu ampliar seu público, que antes era mais restrito à comunidade em que vive. O vereador utiliza o seu próprio perfil para divulgar o seu trabalho na política. Para ele, as redes sociais são uma vantagem para as pessoas mais simples obterem informação, pois antigamente havia muita troca de voto por ajuda. “Hoje, a pessoa mais simples tem um celularzinho, está acompanhando o Facebook, ela cobra você”, diz o vereador. Em Curitiba, todos os 38 vereadores eleitos têm ao menos uma rede social.

 

Fake news são um problema também no ambiente político

Entre as principais barreiras encontradas pelas pessoas que acessam notícias pelas redes sociais estão as notícias falsas, que se tornaram comuns também na política. No Brasil, 62% das pessoas afirmam que já acreditaram nessas notícias, segundo a pesquisa da Entrepreneurialism Global Advisor da Ipsos (relatório internacional realizado em 27 países). De acordo com o cientista político Rafael Cardoso Sampaio as fake news ganharam força após a eleição de Donald Trump. Antes disso, elas já existiam, mas eram conhecidas como boatos, afirma Sampaio.

O cientista político explica que a diferença é que há alguns anos começaram a surgir agentes que fazem uma produção industrial de fake news, que, por serem de diversas naturezas, podem ajudar eventualmente um candidato político ou outro. Essas notícias são frequentemente baseadas em visões antipolíticas e antissistema, relata o mesmo.

O vereador Tito Zeglin (PDT) afirma que as notícias falsas são uma das desvantagens da comunicação on-line. Ele conta que já foi caluniado e que é difícil fazer algo que apague o que a fake news causou, o que pode prejudicar a imagem de qualquer pessoa, não apenas políticos. Por isso, o vereador relata a importância de ter certeza de que o conteúdo que as pessoas compartilham é verdadeiro. “É muito importante que haja seriedade das pessoas que utilizam os meios de comunicação”, diz Zeglin.

Para o vereador Tico Kuzma (PROS), que também afirma ter passado por uma situação de fake news, as notícias falsas são um problema em todas as áreas, mas na política o problema se agrava, pois atrapalha o desenvolvimento do país.

Nas eleições de 2018 para a presidência do Brasil, as fake news tiveram grande destaque. Boatos como o kit gay, a urna que sugeria o candidato Fernando Haddad quando o eleitor digitava “1” e a jovem marcada por uma suástica supostamente feita por eleitores de Jair  Bolsonaro, são alguns dos exemplos.