Praticantes de parkour buscam legitimação para esporte em Curitiba

por Arthur Correia Zablonsky
Praticantes de parkour buscam legitimação para esporte em Curitiba

Atualmente, não existem espaços públicos próprios para a prática de parkour na cidade - Foto: Arthur Zablonsky

Capital paranaense  possui um dos principais eventos da área realizados no Brasil. Especialistas estimam que a modalidade tem centenas de adeptos na cidade

Apesar de não estar nos holofotes, o parkour em Curitiba está pulsante. Há dois anos, a cidade recebe o PK CWB, um dos principais eventos voltados à prática no país. Pelas ruas e praças, os praticantes treinam à espera de apoio e de projetos voltados ao estímulo da modalidade.

Em 2021, um grupo de adeptos ao esporte se mobilizou para organizar uma competição de parkour em modelo híbrido, com os competidores gravando vídeos realizando desafios por toda a cidade. A reunião de todos ocorreu somente no último dia da programação. Ruan de Souza, professor de educação física e praticante de parkour, foi uma das pessoas responsáveis pela organização do PK.CWB League 2021.

De acordo com ele, esse primeiro evento reuniu oito inscritos. A edição seguinte, em 2022, reuniu o dobro: 16 inscritos. A terceira edição da competição aconteceu entre os dias 21 e 23 de abril deste ano e reuniu um total de 22 competidores de quatro estados do Brasil

De acordo com Thales Machado, professor de educação física e praticante de parkour há 17 anos, o esporte passou por muita transformação no imaginário social. “Eu consegui acompanhar essa mudança que o parkour sofreu no aspecto social. Eu sou da época em que parkour era coisa de ladrão. Hoje em dia tem mãe que olha e coloca o filho nessa prática.”

O praticante reforça que o esporte ainda é mal visto no imaginário social. “Um bom exemplo é a praça 29 de Março, alí é um berço do parkour em Curitiba, sabendo disso tem policiais específicos que ou atrapalham nosso treino ou até fazem enquadro nos praticantes com a ‘abordagem de rotina’ apesar de saberem que são pessoas que estão ali pra treinar.”

Para Machado, um espaço público específico para a prática de parkour contribuiria para a legitimação do esporte. “Ia ser mais um degrau nesse aspecto social pro Parkour subir. A partir do momento que a prefeitura abraçar isso, fica muito mais fácil para um cidadão que nunca ouviu falar, entender que aquilo é um esporte.”

No momento, existem dois projetos de Parkour Park aguardando execução. Um em Pinhais e outro em Curitiba. Ambos foram projetados por Guilherme Rocha de Oliveira, praticante de parkour que na época era arquiteto e hoje atua como fotógrafo para escritórios de arquitetura. Ele explica que “no primeiro projeto a ideia era de um espaço controlado: com catraca, cadastro e possibilidade de marcar horários”, mas que ainda devolvesse para a comunidade “com possibilidade de aulas gratuitas de parkour”.

O outro projeto, em Curitiba, tinha uma proposta levemente diferente. Oliveira trabalhou em conjunto com a Fábrica de Formas, uma empresa de design de paredes de escalada. “A ideia era atender um público mais infantil, então a nossa preocupação era fazer um lugar seguro para todas as idades”, explica.

Atualmente, não existem espaços públicos próprios para a prática de parkour na cidade. Existe a academia Ponto B, uma iniciativa privada. Nesse caso, as aulas são ministradas dentro de um espaço fechado, controlado e com a supervisão de instrutores e obstáculos fabricados especialmente para a prática.

Para Cassio Junior, dono da academia de parkour Ponto B, as academias de parkour têm um papel fundamental na profissionalização do esporte. “Com isso, surgem metodologias, melhores equipamentos, ambientes mais seguros e controlados. Além disso, criou-se um mercado no qual aqueles praticantes que gostam do parkour podem se profissionalizar, tornando-se professores.”

A cidade tem a função de receber seus cidadãos e os praticantes de parkour não tem sido tratados com dignidade enquanto praticam esse esporte que reclama o espaço público para uso público. Um espaço público próprio para essa prática sinalizaria para essa comunidade que a cidade também é deles.