Presença Coreana transforma a cena cultural de Curitiba

por Vitoria de Oliveira Santin
Presença Coreana transforma a cena cultural de Curitiba

A cultura coreana se consolida na capital paranaense e transforma hábitos, espaços e conexões entre as duas nações 

Por 로레나, 마리아,  니콜리 e 빅토리아 | Por Lorena Loiola, Maria Eduarda Honorio, Nicole Duarte e Vitoria Santin | Foto: Vitoria Santin

O crescimento massivo da cultura coreana vem destacando o país no cenário mundial, evidenciando as músicas, filmes, k-dramas, e jogos online.  A “onda coreana” (Hallyu), como popularmente conhecida, está associada a uma estratégia de exportação cultural, o soft power. Termo que se refere à forma que a Coreia do Sul posiciona a imagem país por meio de suas manifestações artísticas e tradições, ao invés da força bruta. Através de leis de incentivo à educação e a cultura, a Coreia do Sul se tornou o maior exportador mundial de cultura popular. 

Em Curitiba, as manifestações sul-coreanas passaram a fazer parte do cotidiano da cidade. Restaurantes, mercearias, e eventos que promovem a memória coreana, e mantém vivas as tradições trazidas pelas primeiras famílias de imigrantes que vieram para a capital, entre as décadas de 60 e 70. A comunidade coreana é próxima e ativa na cidade, composta por aproximadamente 500 pessoas que compartilham histórias, valores e a herança coreana. 

O cônsul Honorário da República da Coreia do Sul no Paraná, Cristian Kim, é um dos descendentes que ajudam a manter as tradições vivas na capital. Filho de imigrantes coreanos, ele é o primeiro brasileiro da família. Ligado diretamente com a cultura coreana, Kim ocupa o cargo voluntariamente, — que leva em paralelo com suas atividades profissionais, de consultor e docente na área de negócios — como uma forma de ficar próximo de suas origens e apresentar suas filhas a Cultura Coreana e seus valores, para sempre se manterem orgulhosas de suas raízes. 

“Tudo o que tiver ao meu alcance, para aproximar essas culturas, os povos, os negócios, a ciência e educação é de meu interesse fazê-lo”, revela Cristian com entusiasmo. As responsabilidades de sua ocupação abordam três pilares: aproximação cultural, de negócios e científica. 

Quando criança, ser chamado de japonês ou chinês era comum, uma forma de racismo institucionalizado se tornava frequente devido suas características físicas de Kim. Com o passar do tempo, e a evolução do acesso à informação, enganos assim pararam de acontecer, mas esses apelidos, de forma ou outra representam o Orientalismo difundido na sociedade. Uma representação equivocada ocidental sobre o Oriente, nesse caso, que qualquer pessoa de origem asiática é relacionada automaticamente com japoneses ou chineses, mesmo que a Ásia seja composta por 48 nações. 

Cultura 

A intensificação da Cultura Coreana na cidade se deu inicialmente através de alguns fatores importantes. A música, a dança e o audiovisual foram os principais deles, e passaram a ser não apenas um hobbie, mas sim um estilo de vida, ponto de encontro, identidade e refúgio para seus fãs. Na música, o K-Pop que significa “Música Popular Coreana” começou a se popularizar no país no final dos anos 2000 e início da década de 2010. O estilo musical ganhou reconhecimento especialmente pela identificação gerada com o público jovem, e se fortaleceu com a criação de grupos de fãs que se conectam e geram fortes vínculos sociais e emocionais a partir de um denominador em comum, seus artistas favoritos.  

Além da sonoridade, outro fator importante para o sucesso do gênero são os ritmos animados e dançantes, isso porque o K-Pop não é somente uma experiência auditiva, mas também visual e corporal. As coreografias dinâmicas e impactantes dos videoclipes e apresentações são o que mais atraem público para os grupos, e são componentes fundamentais do estilo e da identidade do gênero. Para a fã Isabela Carneiro Rosa, o estilo vai além de apenas um modo de entretenimento, é uma forma de expressão pessoal. “Muita gente acha que é besteira, mas muitos os grupos, falam sobre se amar, sobre esquecer as dificuldades, viver a vida intensamente. Isso me ajudou a amadurecer bastante”.  

Mas não é só a música que atraí novos apreciadores da cultura coreana. Durante a pandemia, o Brasil foi o 3º país com maior crescimento no consumo de K‑dramas, segundo a Fundação Coreana para Intercâmbio Cultural Internacional. Os programas são conhecidos por combinar elementos de romance, drama e comédia, conquistando audiência de todas as idades e gêneros. A profundidade das histórias e a complexidade dos personagens são fatores que impulsionam o sucesso desses dramas e geram uma forte conexão com o público, mantendo os fãs presos a trama do início ao fim. 

Culinária 

Ao passar pela Vicente Machado, não se imagina a grandiosidade que um pequeno quiosque coreano pode oferecer. Em uma mistura de temperos e sabores, o Restaurante Coreano Yoribogo, é um dos polos gastronômicos da capital. O dono, Dong Lee, popularmente conhecido como senhor Lee, migrou da Coreia do Sul para Curitiba há 13 anos, e junto com a sua família compartilham a culinária coreana e sua essência com os curitibanos.  

Mesmo com o movimento corrido na hora do almoço, o senhor Lee atende os clientes com um sorriso no rosto, sem deixar de lado sua língua materna. “Annyeonghaseyo”(Olá!) diz ao receber cada freguês, e faz questão de explicar cada prato para quem quer experimentar a culinária.  

A diversidade toma conta do cardápio. Entre a junção do agridoce com apimentado nasce uma explosão de sabores, o Dakgangjeong, prato carro chefe da casa, é composto por frango frito crocante servido com um molho à base de ingredientes como mel, açúcar, ketchup, pasta de pimenta vermelha (gochujang) e outras especiarias, Junto com o Bibimbap, prato mais famoso da Coreia, servido quente em uma tigela uma mistura de arroz, com vegetais, carnes e ovo. 

Religião

Aos domingos de manhã, famílias coreanas se encontram nos cultos da Igreja Presbiteriana Han In, no bairro Parolin. Semanalmente após o culto, é feito um almoço coreano entre os membros, como uma forma de reascender e se manter próximo as origens. Sua criação, em 1983, veio da necessidade da comunidade coreana se sentir pertencente as suas crenças e reafirmar sua identidade cultural. 

Escolher uma cultura para experenciar pode ser um desafio. Mas resumir a cultura coreana em doramas e k-pop não é suficiente para transmitir a sua verdadeira essência. É necessário sair para as ruas, ouvir relatos das pessoas que consomem e estão inseridas na cultura, entender a comunidade que mantém viva os conhecimentos marcados em mais de 5000 anos de história, vivenciar a arte de “flanar” como define o jornalista João do Rio. Olhamos para algo que seria um desafio e ressignificamos como uma oportunidade de sair da nossa bolha e trocar experiências inesquecíveis. 

 

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