Curitiba vai mudar foco de bancas de jornais e revistas, cada vez mais descaracterizadas

por Beatriz Camargo Dias
Curitiba vai mudar foco de bancas de jornais e revistas, cada vez mais descaracterizadas

Banca de Marilene é uma das poucas que ainda vende jornal, além do jornal para cachorro.

Com o projeto ‘Curitiba do Futuro’, bancas no centro da cidade têm seu foco mudado para comidas e flores ou para jornais velhos

Por Beatriz Dias, Eduardo Pascnuki e Giovanna Romanoff | Reprodução de imagem: Eduardo Pascnuki

Cada vez mais descaracterizadas em Curitiba, as bancas que tradicionalmente vendiam jornais e revistas devem mudar ainda sua área de atuação, com a implementação do projeto ‘Curitiba do Futuro’. Trata-se de uma atualização na Lei para que esses espaços comerciais possam vender uma gama maior de produtos, tornando-se pequenos centros comerciais.

Em 10 anos, as bancas têm sofrido uma redução de 45% no Paraná. Em 2014, Curitiba tinha 188 bancas de jornais e revistas, número caiu para 175 em 2021, conforme dados do Sindicato dos Jornaleiros do Estado do Paraná (Sinjor-PR). No calçadão da Rua XV de Novembro, por exemplo, apenas uma entre todas as bancas é direcionada à venda de jornal para leitura. As demais vendem o produto apenas para as necessidades de animais domésticos.

Em 14 de abril de 2015, houve uma mudança na lei referente à permissão para o funcionamento de bancas de jornais em Curitiba. Além de algumas flexibilizações sobre o que poderia ser comercializado nas bancas, houve a mudança que responsabilizou a URBS pelas bancas de jornal da capital paranaense, atividade que, antes, competia à Prefeitura.

Comerciantes testemunham mudança nos hábitos do consumidor

Marilene cuida de uma das bancas do Calçadão da XV, a única que vende revistas e alguns exemplares de jornal, relembra alguns anos atrás, quando os jornais ficavam expostos na calçada em pilhas. Ela lamenta que, hoje, eles ocupem um espaço tão pequeno. Ao ser interrogada sobre os jornais destinados a cachorros, comenta de forma humorada que os bichos são os maiores clientes. Ela também diz que o jornal na sua banca ainda tem uma grande procura e que seus fregueses relatam não sentir a mesma coisa lendo jornais na internet.

A Banca Brasil nunca parou de vender jornais nos seus mais de 30 anos, mas o foco da sua banca foi mudando com o tempo. O comerciante, Maurício, acredita que um dos grandes motivos para as pessoas não comprarem mais jornais é porque a sociedade está ficando mais frágil e absorvendo mais facilmente a notícia boca a boca, não tendo paciência para ler um jornal ou folhear uma revista.

Presidente do Sindicato dos Jornaleiros (SINJOR), Laercio Skaraboto conta da obrigatoriedade de ter revistas e jornais nas bancas: “Como é necessário pagar a distribuidora para receber as revistas, muitos donos de bancas preferem não ter esses produtos, já que a URBS não fiscaliza e, muitas vezes, não vendem e acabam ficando no prejuízo”.

Atualmente, a URBS fiscaliza as bancas de jornal e cede uma permissão para o uso dessas bancas com outros focos, como a venda de doces, cafés e até mesmo flores. As bancas com mais tempo de vida, como a de Maurício e Laercio sobreviveram a essa ligeira turbulência. Laércio acredita que a URBS auxilia e não existe nenhum conflito entre eles, apenas enfatiza o fato da empresa fazer “vista grossa” com as bancas de jornal que de fato não vendem jornal.

Presidente do SINJOR, Laercio Skaraboto

Bem Paraná é um dos poucos jornais impressos de Curitiba

O jornal “Bem Paraná” é um dos únicos jornais paranaenses que continua com versão impressa nas bancas, publicado todos os dias úteis da semana. Nos últimos 10 anos, a tiragem ficou entre 10 mil e 14 mil cópias, com circulação em Curitiba, região metropolitana e litoral.

Chefe de redação do Bem Paraná, Josianne Ritz afirma que o jornal deixou de ofertar um sistema de assinatura para matérias físicas e aumentou sua produção on-line . Segundo ela, os perfis dos consumidores dos informativos físico e digital são diferentes, o que explica a publicação de conteúdos específicos em cada meio. “Quem lê o jornal na banca é um pessoal mais velho, de uma faixa etária mais alta”, disse.