Projetos de apadrinhamento ajudam jovens que vivem em abrigos

por Ex-alunos
Projetos de apadrinhamento ajudam jovens que vivem em abrigos

Atlético-PR cria campanha para divulgar duas ONGs de apadrinhamento, Dindo e Recriar

Por Beatriz Tedesco e Matheus Ledoux

O Atlético-PR lançou, no fim de julho, um projeto intitulado Padrinho Torcedor, que tem como objetivo divulgar e incentivar os paranaenses a apadrinhar crianças e adolescentes que moram em instituições de acolhimento por meio de duas ONGs de apadrinhamento existentes em Curitiba, Recriar e Dindo. O programa possibilita que pessoas passem tempo ou prestem ajuda e serviço a essas crianças e adolescentes.

O secretário do Conselho Deliberativo do Atlético-PR, Roberto Bonnet, relata que a ideia do projeto surgiu em 2017 e a realização se deu com a soma de esforços de várias áreas como as ONGs Recriar e Dindo, o próprio clube e a Vara de Infância e Juventude. “Nós usamos essa loucura que é o futebol para angariar pessoas e propagar essa campanha”. O secretário afirma que o clube fará uso das mídias socias, dos telões do estádio e do poder de alcance que possuem para divulgar o projeto.

Bonnet relata que o clube está animado com a campanha e acreditando no seu sucesso. Ele diz que o time quer mostrar ao Brasil que o futebol não está somente dentro do campo. “Nós temos que ser muito mais do que um clube de futebol, nós temos um legado para deixar à sociedade e uma forma de fazer isso é por meio de projetos de responsabilidade social e educacional. A nossa parte nós estamos fazendo”.

O juiz da Vara da Infância e Juventude de Curitiba Sérgio Luiz Kreuz afirma que os programas de apadrinhamento existem há anos, mesmo sem previsão legal. Com a lei 13.509/2017, eles passaram a ter previsão no Estatuto da Criança e do Adolescente. Para o juiz, muitas das crianças e adolescentes que vivem em instituições de acolhimento desconhecem o que é viver em uma família organizada, não violenta e amorosa. Portanto, para Kreuz, o apadrinhamento é muito positivo e permite que a criança ou adolescente tenha um apoio afetivo e uma referência na vida. “É uma oportunidade de criar vínculos de afetividade, que são imprescindíveis para um desenvolvimento harmonioso”.

O idealizador do projeto Dindo, Rafael Quadros, conta que existem três formas de apadrinhamento. O primeiro é o afetivo, no qual o padrinho ou madrinha passa a levar uma criança ou adolescente para passar o final de semana em sua casa e conviver com sua família. O segundo é o grupal, no qual a pessoa leva um grupo de adolescentes para passeios em lugares como parques e shoppings. O último é o financeiro ou de serviço, no qual as pessoas se propõem a doar dinheiro ou prestar serviços gratuitos como de dentista, cabelereiro e psicólogo às crianças e adolescentes.

 

Dados de abrigos do Brasil | Beatriz Tedesco

 

A psicóloga do projeto Recriar, Juliana Costa Sandrini de Albuquerque Maranhão, conta que o objetivo do programa é proporcionar uma experiência de referência familiar para as crianças que estavam fadadas a ficar em uma instituição de acolhimento até os 18 anos. Juliana conta que, atualmente, no Recriar, estão acontecendo 25 apadrinhamentos, número muito abaixo do que gostaria.

Ela afirma que existem muitas pessoas que se enquadrariam no perfil de padrinhos, que possuem amor pela causa, que querem fazer a diferença na vida de alguém, mas não sabem da existência do projeto e por isso o número de padrinhos é tão baixo. A psicóloga acredita que o Padrinho Torcedor gerará grande visibilidade e repercussão sobre o apadrinhamento, fazendo com que mais pessoas conheçam e participem do programa.

Juliana revela que mais de 20 casos de apadrinhamento viraram adoção, o que para o projeto é uma grande alegria. “Para nós é uma vitória muito grande porque eram crianças que já não tinham mais chances de adoção, mas por causa do vínculo afetivo formado com os padrinhos, foram adotados”.

A psicóloga afirma que o diferencial do apadrinhamento é que diferentemente de visitas esporádicas feitas por voluntários às instituições de acolhimento, o programa gera um vínculo sólido entre os padrinhos e apadrinhados, proporcionando ajuda e referencial na construção da identidade, caráter, princípios e visão de mundo das crianças e adolescentes.

A psicóloga Juliana Maranhão conta os benefícios que o apadrinhamento traz para os jovens:

Crianças e adolescentes ganham atenção exclusiva

O advogado Rodolfo Monteiro de Sousa perdeu os pais aos seis anos e teve que ir para uma instituição de acolhimento. Aos 12 anos, ele fugiu do abrigo e começou a morar na rua. “Eu era bem arteiro, não gostava do lar onde ficava, então fugi. Na rua, ajudei um senhor que estava com dificuldade para fazer uma ligação no orelhão. Ele me levou para casa dele e depois me instruiu a voltar para o orfanato. Algum tempo depois, ele me apadrinhou”.

Souza declara que a experiência do apadrinhamento trouxe esperança para a vida dele. “Antes do meu padrinho eu sentia que não havia ninguém por mim. Não tinha pai, não tinha mãe, não tinha tios que queriam saber de mim. No abrigo a atenção é coletiva. Então meu padrinho veio trazer o que eu não tinha”.

Sousa conta que ficava quase todos os finais de semana com o padrinho, que o dava mesada e presentes frequentemente. Porém, o que mais importava para ele era o tempo que passava com o padrinho e sua família, que fazem parte de sua vida até hoje.

Quando atingiu 18 anos, ao invés de ficar na instituição ou ir para casa dos familiares, Souza foi morar com o padrinho que o ajudou a começar duas faculdades, mas só conseguiu terminar uma. “Eu comecei a fazer letras, mas parei. Sempre sonhei em ser advogado”.

Atualmente, o advogado vive na própria casa com a esposa e é presidente da Chácara Meninos de 4 Pinheiros, lugar no qual tem a oportunidade de ajudar crianças que já passaram pela mesma situação que ele. Além disso, Sousa também faz participações no projeto Dindo, contando sobre a experiência que passou e conscientizando sobre a relevância que o apadrinhamento pode ter na vida das crianças e adolescentes que vivem em abrigos.

O advogado Rodolfo Souza conta se vale a pena apadrinhar:

 

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