Quatro mil pessoas furam a catraca todos os dias em Curitiba

por Carolina de Andrade
Quatro mil pessoas furam a catraca todos os dias em Curitiba

URBS estuda medidas para acabar com a prática, que gera prejuízo milionário à cidade

Por Anelise Wickert e Carolina de Andrade

Todos os dias 3.995 pessoas pulam as catracas de ônibus e estações-tubo em Curitiba, gerando um prejuízo de R$ 6 milhões por ano, valor suficiente para a compra de cinco biarticulados novos,  de acordo com um levantamento divulgado pelo Sindicato das Empresas de Ônibus de Curitiba e Região Metropolitana (Setransp).

A Urbanização de Curitiba (URBS) estuda um projeto para impedir o não pagamento, que consiste na implantação de barreiras físicas nas laterais das estações, além da mudança no sistema de abre e fecha das portas dos tubos. Segundo o diretor de transporte da URBS, Aldemar Venâncio Martins, “a ideia é que os sensores das portas das estações sejam acionados apenas com a presença do ônibus. Mas o sistema ainda será testado”. A empresa não relatou mais detalhes sobre o projeto. 

Além disso, o custo da tarifa do ônibus varia de acordo com a previsão de passageiros pagantes, portanto, cada passageiro que não é contabilizado no sistema aumenta o custo para os usuários pagantes. O diretor ainda revela que a maioria dos não pagantes é composta por estudante do ensino médio, em estações próximas a colégios.   

Em 2016 uma lei foi aprovada pela Câmara Municipal de Curitiba prevendo uma multa de 50 passagens para quem for pego burlando o pagamento. Atualmente, o valor da multa é de R$ 212,50.

A fiscalização é feita com o apoio do setor de inteligência e de viaturas da Guarda Municipal em terminais e estações-tubo, de acordo com a Secretaria Municipal da Defesa Social e Trânsito . A população pode contribuir fazendo denúncias nos telefones 156 (central de atendimento ao cidadão) e 153 (de emergência da Guarda Municipal). Quem for pego praticando o furo das catracas será encaminhado para delegacias e a punição será definida pela autoridade policial.  

Carolina de AndradeDados sobre o transporte coletivo na capital em de 2017

O transporte público ocupa um percentual alto no orçamento de alguns usuários, segundo o economista Daniel Poit. “Se o trabalhador ganha um salário mínimo e trabalha 22 dias por mês pagando R$ 4,25 cada passagem, em torno de 20% de sua receita será gasto com o transporte. O preço da passagem é elevado se comparado a média salarial de nossa cidade. As tarifas devem ser cobradas mas não com valores que impactem tanto o orçamento das pessoas”.  

O principal motivo para os furos

Existem dois motivos que levam ao não pagamento da passagem: a primeira razão é um ato de rebeldia pelo preço alto da passagem, porque R$ 4,25 não é condizente com o salário dos brasileiros e a outra por necessidade, segundo o professor de sociologia Gilberto Miranda. “Gente que precisa ir trabalhar, ir estudar e não têm outros meios de se locomover a não ser pular a catraca. Tem pessoas que pulam para economizar dinheiro para o lanche ou almoço”.

Miranda afirma que o valor da tarifa é inviável para muitas classes, como os desempregados e os assalariados, uma vez que o usuário do transporte coletivo tem muitos prejuízos que variam entre trânsito, falta de estrutura e insegurança. Confira o que o sociólogo comenta sobre isso: 

[box type=”info”] Fura-catraca” explica porque deixava de pagar o bilhete”

Uma fonte anônima admite ter pulado a catraca algumas vezes por não ter dinheiro: “No começo do ano eu estive desempregada, e a locomoção para entregar currículo gerava R$ 10 por dia. Foi mais por necessidade mesmo. As pessoas julgam, com certeza, quem está dentro do tubo ou do ônibus te olha estranho e te julga, mas às vezes você realmente está sem dinheiro para pegar o ônibus.”

Entretanto, nem sempre foi por este motivo, e houve outros momentos, quando adolescente, que a fonte acreditava que poderia gastar esse dinheiro com outras coisas. “Eu era mais inconsequente. Hoje em dia eu não faço mais, mas ainda acho que o valor deveria ser alterado para algo mais em conta”, relata.[/box]

                                                                                                                                                                                Carolina de AndradeO furo das catracas aumentou 3,1% comparado ao ano de 2016 segundo a SETRANSP