Reajuste no valor das corridas de Uber não é repassado para motoristas

por Pietra Gabiatti
Reajuste no valor das corridas de Uber não é repassado para motoristas

Estudantes que utilizam o aplicativo também relatam impacto no deslocamento e alta variação de preços durante horários de pico

Por Pietra Gabiatti

Com o aumento de 19% nos preços da gasolina anunciado pela Petrobrás durante o mês de março, a Uber realizou um reajuste temporário de 6,5% no preço das corridas. Apesar do acréscimo das cobranças feitas para o passageiro, motoristas estão insatisfeitos com a maneira em que a empresa divide o valor total do pagamento entre os condutores.

Os valores de cada trajeto não são fixos. Eles variam de acordo com a demanda, principal fator determinante dos custos de locomoção. Também conhecida como a “lei da oferta e procura”, quanto maior o número de passageiros que chamam por corridas em um determinado local, maiores serão os preços ali, especificamente.

A Uber pode descontar de 30% a 60% do valor final sem haver um padrão de cobrança, revela Ana Hecke, 38, administradora do grupo Guerra Drivers, organização que serve como rede de apoio para motoristas de aplicativo, que conta com cerca de 16 mil participantes. “É muito raro receber o valor real em que somos notificados no início da corrida.” O deslocamento do motorista até o passageiro também não é contado no preço total, principal motivo pelos quais os condutores optam por viagens mais próximas, ou até cancelam corridas onde o passageiro esteja muito distante.

“Se a gente não escolher bem a corrida, eu vou pagar para ir buscar o passageiro.”

Ana compartilhou dois exemplos de corridas realizadas em julho do ano passado, quando a gasolina ainda não estava em alta como hoje em dia.

Com distância de 2,9 quilômetros e duração de quase 7 minutos, a viagem custou R$ 11,90, e foi solicitada às 13h41 da tarde. A outra, chamada às 5h44 da manhã, duração de quase 10 minutos e distância de 3,2 km, custou R$ 35,63.

Além do combustível,  uberistas devem arcar com custos de manutenção, proteção veicular, lavagens, seguro, IPVA, dentre outros, para manter o carro dentro das normas da Uber e continuarem realizando as viagens normalmente. O motorista Leônidas de Souza Santos, 56 anos, possui carro próprio, e o utiliza nas suas viagens ao longo do dia. “Nossos custos de manutenção, além dos combustíveis, são por peças de reposição por excesso de rodagem, causando desgastes periódicos com mecânicos, além de manutenção com seguro, demais tributos estaduais.”

Vânia Moreno, 44 anos, funcionária da Localiza, locadora de carros parceira da Uber,  informa que aqueles que possuem carro alugado arcam somente com gasolina, aluguel diário e depósito de segurança, para ser utilizado caso o veículo sofra algum dano. 

Os valores variam de acordo com a categoria do carro alugado, sendo B e C as mais escolhidas pelos motoristas do aplicativo. Um Kwid, que pertence à categoria B, custaria um total de R$ 69,57 por dia, além do depósito de segurança para tal, no custo de R$ 1461,06. Para um Ford Ka, ou até mesmo um Gol, o valor por dia seria de R$ 71,83, e R$ 1508,34 de depósito.

O tempo mínimo para o uso do automóvel alugado é de 35 dias, com quilometragem mínima de 1250 km/semana. São cobrados R$0,50 por km a mais.

Passageiros também sofreram com o aumento dos preços, especialmente estudantes. Thais Shihomi Hashiguchi, 20, acadêmica de medicina na Puc Paraná, comentou que fica o dia todo na faculdade por conta do valor ser muito alto, mas que continua utilizando o aplicativo como principal meio de locomoção na cidade pois é o que a melhor atende.

Mychele Caroline Meloto, 20, e Teresa Trentin, 17, também estudantes de medicina, começaram a dividir o valor das corridas entre si para se deslocarem até a faculdade. “Comecei a dividir mais frequentemente as corridas com os meus colegas, e evito utilizar Uber em horários de pico, mudei alguns horários para pagar valores menores”, afirma Teresa.

Dicas

Motoristas explicam o que passageiros podem fazer para conseguir corridas mais baratas.

  • Períodos onde a demanda é maior que o número de motoristas disponíveis são os principais causadores das variações de preço 
  • Horários de 11:30 até 13:30 é onde mais ocorre esta variação
  • Leônidas de Souza Santos, motorista para a plataforma, afirma que evitar utilizar o serviço em horários de pico é a principal maneira de gastar menos com o aplicativo 
  • A quantidade de vezes que uma viagem é chamada também interfere no valor final. Quanto mais chamadas, mais o preço aumenta 
  • O uberista Jacinaldo de Araújo Fogaça avalia que a dinâmica é o que dita o valor de cada corrida. Caso o passageiro saia em períodos de muita dinâmica, esperar a hora do rush passar é uma alternativa para pagar preços menores.

Manifestação é realizada em frente ao prédio da Uber

O baixo repasse do valor total das corridas para os motoristas foi o principal motivo que originou o ato

Manifestação realizada pelo grupo Guerra Drivers.

Realizada no dia 22 de março pelo grupo Guerra Drivers, a manifestação ocorreu em frente ao prédio onde se localiza o escritório da Uber, no centro de Curitiba. O movimento contou com a participação de aproximadamente 500 pessoas, e teve seu início às 12 horas da manhã.

Sérgio Guerra, presidente do grupo de motoristas e organizador do movimento, explicou o principal motivo para a mobilização. “Nós queremos 19% de aumento no reajuste, taxa fixa de embarque, ou seja, taxa mínima de embarque de R$ 10, e também, uma taxa menor que a Uber desconte dos motoristas (…). Hoje, ela desconta de 30 a 60% do Uber. Diminuir essa taxa para, no máximo, 25%. E cobrar deslocamento, do motorista até o passageiro.”

Ao chegarem no local, foram recebidos por funcionários que se encontravam no estabelecimento durante o horário de almoço. “Conseguimos conversar com representantes da Uber, funcionários ali do escritório. Ambos ficaram de passar para a diretoria deles, e não deram prazo de resposta.”

Quando questionado a respeito de a Uber implantar os objetivos exigidos pelo grupo, Sérgio diz que sim, acha que obterão sucesso, mas não neste primeiro momento. Mas que, apesar disso, está disposto a continuar promovendo manifestações pacíficas para ganharem ainda mais visibilidade e representação como trabalhadores.

“Até na próxima manifestação, acho que os passageiros deveriam estar comigo também, porque é uma reivindicação de todos. Eles estão fazendo cobranças abusivas, tanto do passageiro quanto do motorista”, afirma Sérgio.

A manifestação terminou após o grupo se dirigir ao prédio da 99 Pop, localizado no bairro Água Verde, outro aplicativo de transporte popular na cidade.

O escritório da Uber não quis se posicionar a respeito do ocorrido.