Revitalização do Palácio Belvedere sairá do papel após mais de um ano

por Helena Tramujas Sbrissia
Revitalização do Palácio Belvedere sairá do papel após mais de um ano

O prédio foi alvo de um incêndio criminoso em dezembro de 2017, que atrasou o início das obras

Por Flavia Mota e Helena Sbrissia

O Conselho Municipal de Patrimônio liberou, no último mês de agosto, R$ 384 mil para contribuir com o valor necessário para a reforma do Palácio Belvedere, localizado na praça João Cândido — no bairro São Francisco, em Curitiba —, que já contava com R$ 1 milhão desde a autorização da primeira reforma pela Prefeitura de Curitiba, em junho de 2017. O prédio é considerado um dos mais importantes da capital paranaense em referência arquitetônica e histórica.

O motivo do aumento da renda necessária para a revitalização do local foi um incêndio criminoso ocorrido em dezembro de 2017. Contudo, o prédio, tombado pelo Patrimônio Histórico do Paraná desde 1996, encontrava-se abandonado e vandalizado. O objetivo anterior do projeto era transformar o local na nova sede da Academia Paranaense de Letras.

O projeto já estava em vias de aprovação e elaboração de orçamento para viabilizar a restauração quando aconteceu o incêndio, segundo a arquiteta da Superintendência de Obras e Serviços da Secretaria Municipal do Meio Ambiente (SMMA) Laressa Chornobay, . “O projeto teve que ter toda uma adaptação porque o telhado pegou fogo. As telhas e as adequações do pavimento superior precisaram ser readequadas, assim como corrimão, escada, paredes, madeiramento, tudo foi comprometido, basicamente, então precisava ser computado em um novo orçamento”, explica.

A arquiteta informa que essa é a verba aprovada pela prefeitura no mês de agosto, com o orçamento chegando a um total de  R$ 1,4 milhão. A previsão de conclusão da obra é de 8 meses.

Projeto de revitalização do Palácio Belvedere (foto por Flávia Mota)

 

Prédio é referência em estilo Art Noveau

O Palácio Belvedere foi fundado em 1915 durante o governo do prefeito Cândido de Abreu e é considerado uma das melhores edificações de Curitiba no estilo Art Noveau. Em 1966 o prédio e os entornos da praça João Cândido — onde é localizado — foram tombados pelo patrimônio histórico de Curitiba. Por não ter uma estrutura adequada para sua utilização prática, o diretor de Patrimônio Cultural da Fundação Cultural de Curitiba, Marcelo Saldanha, comenta que a reforma, em trâmite desde 2014, aconteceria com ou sem o incentivo da Lei de Proteção do Patrimônio Público.

Segundo Saldanha, a lei foi aprovada em 2016 e um conselho foi montado, com pessoas do patrimônio e do Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de Curitiba (IPPUC), para que todos os bens que tiverem interesse do Estado de preservação serem analisados para oficializar os projetos. Alguns, pela importância para a cidade e para sua história, tem tratamento especial; neste caso a prefeitura cria cotas que são vendidas para serem revertidas no restauro do bem, tudo isso pela prefeitura”, finaliza o diretor.

A preservação de obras de cunho arquitetônico são importantes para a sociedade brasileira

O fato de peças arquitetônicas serem tombadas como patrimônio histórico se dá por um conjunto de fatores, como a idade do edifício, o estilo arquitetônico, e, acima de tudo, a história da utilização desse prédio.

Apesar do tombamento ter acontecido em 1966, somente em 2014 houve uma proposta de utilização do espaço pela Academia Paranaense de Letras, segundo o historiador e professor de História da Universidade Federal do Paraná (UFPR) Geraldo Silva.  Apesar disso, a verba para a revitalização do espaço não foi aprovada na época.

“Há toda uma luta para a preservação do patrimônio a partir do tombamento e uma vez tombado ele fica lá, a mercê do tempo e de ações externas. As pessoas acabam ficando mais preocupadas com o título de patrimônio do que com a preservação. Se ele tivesse sendo utilizado provavelmente o problema do incêndio não teria acontecido, já que estaria sendo executado um trabalho de segurança pelo entorno”, explica o historiador.

Silva também comenta que o fato de um edifício ser considerado parte do patrimônio histórico do estado é por causa de sua importância e ligação com a história e porque a ele estão ligadas muitas questões importantes para a nossa sociedade. “É uma pequena parte da história do Paraná sendo utilizada e restaurada no formato desse prédio”, finaliza o professor.

Um exemplo recente do descaso das autoridades públicas em questão de liberação de verbas é o Museu Nacional do Rio de Janeiro, um dos mais importantes acervos do país com cerca de 20 milhões de peças, que incluíam alguns dos registros mais importantes para o país no campo de ciências naturais, como é o caso do crânio de Luzia, um dos fósseis humanos mais antigos das Américas, com 11.500 anos. Na noite do dia 2 de setembro deste ano toda a estrutura do prédio sofreu com um incêndio de grandes proporções que acabou por destruir tanto os exemplares internos quanto a memória arquitetônica externa.