Série de reportagens foca nos desafios da infância e adolescência

por Sofia Magagnin
Série de reportagens foca nos desafios da infância e adolescência

‘Ser criança e adolescente no Paraná’ traça um panorama a partir de dados agrupados pela plataforma Cadê Paraná

O 4º período do curso de jornalismo da PUCPR produziu, no segundo semestre de 2019, a série de reportagens investigativas “Ser criança e adolescente no Paraná”. A série – desenvolvida na disciplina Jornalismo de Dados – traça um panorama a partir da análise de indicadores agrupados pela plataforma Cadê Paraná.

A professora Criselli Montipó, responsável pela disciplina, explica que o foco da aprendizagem é na apuração e na formatação do conteúdo jornalístico investigativo. Ela conta que ao final da experiência, espera-se que os estudantes estabeleçam estratégias de publicação que gerem impacto social, reflitam ética, consciência cidadã e de direitos humanos.

Desde a elaboração da pauta e localização das fontes à entrega das reportagens investigativas, os estudantes foram desafiados a trabalhar com dados. Desse modo, a Oficina Jornalismo de Dados e Direitos Humanos, facilitada pelo Centro Marista de Defesa da Infância em parceria com a Escola de Comunicação e Artes da PUCPR, teve como objetivo contribuir com a formação de estudantes de Jornalismo na qualificação do uso de dados sobre infância e adolescência no Paraná.

Além dos temas e conteúdos trabalhados ao longo do semestre letivo, a formação contemplou o percurso do jornalismo de dados, desde o acesso às informações estatísticas até sua visualização. A oficina teve como foco a plataforma tecnológica Cadê Paraná como modelo de análise. A plataforma, desenvolvida pelo  Centro Marista de Defesa da Infância, facilita o acesso aos dados oficiais sobre crianças e adolescentes dos 399 municípios do estado. 

Após participar da oficina, a estudante Aline Taveira reconhece que os dados têm ganhado destaque nas reportagens investigativas e, por isso, aprender a forma como tratar esses números é tão importante. “Os dados dão toda a credibilidade para a reportagem e funcionam como provas para os casos relatados. Não tem como discutir com um dado porque ele é real e sólido”, avalia. “O jornalismo investigativo pede que haja uma apuração, que leva um tempo maior e a busca daquilo que aprendemos em sala de aula: não podemos nos contentar com os dados que são fornecidos. Nós temos que duvidar daquilo que é passado, porque muitas vezes não têm veracidade”, aponta Gustavo Ferraz, acadêmico do curso.

A participação da turma resultou em uma série de pautas vinculadas aos direitos humanos de crianças e adolescentes, estratégia fundamental no processo de identificação dos problemas que afetam esse público, em especial aqueles que se encontram em situação mais vulnerável. “Quanto maior for a procura e oferta por dados, maior será a qualidade de seu uso.  As reportagens desenvolvidas, que transformam dados em (boas) histórias, são exemplo deste processo. Quando os dados são operados em um processo de análise qualificado, aumenta-se a probabilidade de resultados virtuosos e sustentáveis para a vida de crianças e adolescentes”, comenta Gustavo Schmid Queiroz, jornalista que atua no Centro Marista de Defesa da Infância, facilitador da oficina.

O estudante Andrey Ribeiro analisa que o principal aprendizado do semestre está relacionado à aplicabilidade dos dados. “A gente não pode cair na falácia de só apurar e trazer as informações. Tem que ir mais a fundo, descer esse degrau e tentar descobrir alguma coisa”, argumenta.

Série de reportagens

A partir dos dados agrupados na Plataforma Cadê Paraná, as pautas trataram de temas sociais relacionados à infância e adolescência. “Desde o processo de produção da pauta, o esforço de reportagem teve como principal preocupação compreender contextos e desafios vividos por crianças e adolescentes paranaenses. Um olhar sobre a realidade social a partir de dados e vivências”, explica a professora Criselli.

Para a produção das reportagens, os estudantes trabalharam com cinco assuntos de informes temáticos periódicos publicados pelo Cadê Paraná entre março de 2018 e setembro de 2019: Investimento Público na infância e adolescência: desafios para uma gestão inclusiva; Obesidade Infantil: questões preliminares de um problema de Saúde Pública; Aprendizagem Profissional: adolescência, identidade e trabalho; Participação de Crianças e Adolescentes: um exercício de cidadania ativa; Violência sexual contra crianças e adolescentes: avanços e desafios nas ações de enfrentamento.

A reportagem Infâncias roubadas trata do abuso sexual contra crianças. Entre principais tópicos abordados, se destacam a subnotificação dos casos da violência sexual contra crianças, a descoberta de que a minoria dos crimes são cometidos por pedófilos e a possibilidade da conscientização nas escolas em relação à violência sexual.

Sob a perspectiva da Lei da Aprendizagem, a reportagem sobre aprendizagem profissional investiga a presença de jovens no mercado de trabalho paranaense. A chegada do fim do contrato, a baixa contratação de aprendizes no Paraná e a possibilidade da extinção da Lei por conta da Medida Provisória 905/19, são alguns desafios a serem enfrentados.

“Eu não sou o que os outros veem de mim”. A obesidade de adolescentes é o tema desta reportagem. Dentre as descobertas, hábitos e outros fatores condicionantes demonstram que a obesidade não é uma doença necessariamente genética. Além disso, o texto repercute a discussão sobre a necessidade ou não da realização da cirurgia bariátrica.

Os jovens paranaenses fazem política ou não? Essa é a discussão que norteia a reportagem Política jovem. Ao evidenciar que o interesse dos jovens em política vem caindo, em contraponto, o ativismo virtual tem crescido cada vez mais.

De caráter multifatorial, o tema obesidade infantil desafia as políticas de saúde pública. Durante a produção da reportagem sobre obesidade infantil, foi descoberto algo que não havia sido levantado na apuração: as crianças podem desenvolver transtornos alimentares e se tornarem obesas por problemas na vida familiar.

Participação política também é assunto que pode ser discutido dentro da escola. A reportagem sobre grêmios estudantis apresenta como funcionam os grêmios estudantis escolares, bem como sua influência no engajamento político do aluno.

Além de estarem disponíveis no portal Comunicare, as reportagens serão publicadas também no Cadê Paraná, com uma versão no Livre.jor.