Em busca do sonho Olímpico, atletas se mudam para Curitiba para treinar judô

por Caio Stelmatchuk
Em busca do sonho Olímpico, atletas se mudam para Curitiba para treinar judô

Através de financiamento do Instituto Ohayo, jovens vieram de diferentes regiões do país para participar de uma equipe de rendimento de judô, esporte que mais deu medalhas olímpicas ao Brasil.

Por Caio Stelmatchuk | Foto: Caio Stelmatchuk

Em janeiro deste ano, sete atletas vieram morar em Curitiba para serem treinados pela Escola de Judô Alan Vieira, através do financiamento do Instituto Ohayo. Este projeto, conhecido também como Casa de Atletas, tem o intuito de dar a jovens de diferentes regiões do país a oportunidade de participar de uma equipe de rendimento. A Casa de Atletas iniciou em 2022 e está com o seu terceiro grupo de judocas.

Além de uma rotina de treinos intensa, os participantes do projeto também lidam com desafios que essa mudança proporciona. Alissa Mazutti, de 17 anos, ainda está se acostumando com a nova vida. Ela relata que há um longo período de adaptação para se acostumar a lidar com as próprias responsabilidades, incluindo as questões financeiras.

A diversidade de culturas, no início, também pode ser um desafio. “Dentro de uma casa com pessoas de culturas diferentes, locais diferentes e idades diferentes, começam a existir conflitos”, disse Alan Vieira, fundador do Instituto. Quando os conflitos se iniciaram, ainda nas turmas passadas, os coordenadores do projeto passaram a gerenciar, não apenas a parte técnica e física, mas a humana também.

Hoje, Alan Vieira entende que o projeto não envolve exclusivamente o esporte. “A proposta do Instituto Ohayo é que a gente atue na formação humana, para que quem faça parte dele melhore como cidadão. Utilizamos o judô como uma ferramenta educacional. Também buscamos gerar um bem-estar, melhorando a saúde dos jovens”. Para isso, o Instituto oferece – além de treinamento físico, técnico e tático – moradia, cesta básica, fisioterapia e, aos atletas com idade universitária, uma bolsa de 100% em cursos superiores.

Segundo Keith Sato, professora de Esportes de Combate do curso de Educação Física da PUCPR, as artes marciais são importantes para desenvolver não somente o espírito de equipe, mas também a disciplina, o respeito e o autocontrole. Em competições de artes marciais, por exemplo, o atleta não é permitido a falar com o árbitro, caso contrário, sofrerá punições. Além disso, até o adversário é motivo de agradecimento. “Sem adversário você não luta. Então, você tem que saudar, agradecê-lo, antes e ao final da luta. Essas coisas são embutidas diariamente nesses esportes”. 

Entretanto, de acordo com o Sensei – nome dado aos professores de Judô – Alan Vieira, o projeto enfrenta dificuldades financeiras para proporcionar todos os benefícios aos atletas. “A nossa Associação é vinculada à Lei de Incentivo ao Esporte da Prefeitura de Curitiba, permitindo que seja direcionado um recurso destinado ao projeto. Porém, ele é um pouco limitado e não conseguimos fazer a manutenção total da Instituição apenas com esse recurso”. O professor de judô ainda complementa dizendo que eles contam com doações (dinheiro, equipamento, material de treino), patrocínio direto, apoio da iniciativa privada e de pessoas envolvidas direta e indiretamente, como famílias de atletas da escola ou, até mesmo, dos profissionais do Instituto, que, segundo ele, ajudam a arcar com os custos com seu próprio dinheiro.

A professora Keith Sato, que também coordena o projeto social Karatê PUCPR, com apoio da Fundação Araucária e em parceria com a ONG Chakugan, relata a dificuldade financeira que esses projetos enfrentam. Inclusive, esse é um dos motivos para ela trabalhar junto com a ONG, que é de Piraquara. Segundo ela, a parceria é estratégica, afinal, os benefícios que Curitiba oferece não são o suficiente para o sustento do projeto. Por isso, todos os atletas competem por Piraquara, que oferece filiação em federação, transporte e inscrição em competições. 

O processo seletivo para participação da Casa de Atletas do Instituto Ohayo ocorre em Janeiro para todos os atletas que moram fora do Paraná. Cada jovem envia seu currículo, que é analisado pelo sistema Zempo, que mostra o histórico do atleta no esporte. A partir disso, o judoca é encaminhado para a aprovação de Alan Vieira. 

A próxima etapa é passar uma semana em Curitiba, treinando no dojô – espaço de treino de artes marciais – da AABB Curitiba, no Tarumã, sede do Instituto Ohayo. Os atletas são avaliados em provas de diferentes habilidades. Uma das avaliações é feita pelo fisioterapeuta. A performance do atleta durante a semana e seu currículo no Judô são os motivos pelos quais ele pode ser selecionado para participar do projeto.

Alissa Mazutti veio de Concórdia, Santa Catarina. Quando ainda era criança, ela e a prima entravam escondidas nas aulas de judô de uma escola em Concórdia. Após um tempo, ela se inscreveu na escola e passou a competir desde então.

Em uma dessas competições em Santa Catarina, a jovem conheceu o Sensei Alan Vieira. Por isso, quando o processo seletivo da Casa de Atletas começou, ela foi convidada a fazer os testes e foi aprovada. 

José Victor Fernandes, de 16 anos, veio de Brusque. Ele iniciou no judô aos 9 anos de idade e passou a competir. Através das redes sociais, ficou sabendo do processo seletivo para participar do Instituto Ohayo. Ele se inscreveu, participou dos testes e foi selecionado para competir pelo projeto.

Os dois atletas vieram até o Instituto com o mesmo objetivo: um dia poder representar o Brasil nas Olímpiadas. Alissa ainda diz que, independente do que aconteça, ela quer trabalhar com o judô. “Se eu não conseguir participar das Olimpíadas, eu pretendo fazer faculdade de fisioterapia e seguir com a minha escola de judô, pois não vejo minha vida fora do esporte”.

Uma luta entre Alissa Mazutti e José Fernandes, durante um treino.

Com 24 medalhas, o judô é o esporte que mais deu premiações ao Brasil na história das Olímpiadas. Em 2019, a Confederação Brasileira de Judô (CBJ) constou que mais de 2,5 milhões de brasileiros praticam o esporte. Desse número, mais de 85 mil são atletas federados, aptos a disputarem campeonatos.

Alan Vieira diz que, àqueles interessados em fazer doações ao projeto, podem entrar em contato pelo telefone ou redes sociais do Instituto Ohayo. Para melhores informações, consulte o site https://www.judoalanvieira.com.br/.

Acompanhe um treino na escola de Judô onde os jovens da Casa de Atletas competem

Sensei Alan Vieira instruindo os judocas.

As lutas individuais são comuns. Em suas respectivas categorias, os atletas se enfrentam diversas vezes durante o mesmo treino.

Ao final do treino, Alissa coordena o alongamento.