Sindimoc indica que preço da tarifa prejudica trabalhadores da categoria

por Ryan Minela
Sindimoc indica que preço da tarifa prejudica trabalhadores da categoria

Anderson Teixeira, presidente do Sindimoc, aponta que aumento do preço da passagem reduz número de usuários do transporte público e contribui para o crescimento do desemprego entre motoristas e cobradoes

Por Ryan Minela, João Butka e Davi Ozório | Foto: João Butka

Criado em 1990, o Sindicato dos Motoristas e Cobradores de Ônibus de Curitiba e Região Metropolitana (Sindimoc) tem como principal objetivo lutar por melhores condições de trabalho e de existência para os funcionários do transporte público da capital paranaense. A entidade, porém, tem encarado dificuldades para cumprir o propósito. A diminuição no número de passageiros e a relação conflituosa com a prefeitura são dois dos maiores problemas da organização.

Em entrevista exclusiva para o Comunicare, Anderson Teixeira, presidente do sindicato desde 2010, afirma que, de modo geral, o principal problema que a categoria enfrenta atualmente é a queda no número de usuários do transporte público. Como resultado,“[as empresas ligadas ao transporte] reduzem as linhas e o número de postos de trabalho porque não têm demanda”.

Essa redução do público se deve principalmente ao mais recente aumento da tarifa, em que ficou determinado o valor de R$6. Em 2022, o transporte coletivo de Curitiba tinha 52,9 milhões a menos de usuários do que em 2019. Além disso, o número de pessoas pegando ônibus teve um declínio de 28,1% na região metropolitana nos últimos 7 anos.

Anderson declara que o Sindimoc é contrário ao atual preço da tarifa porque, seguindo um raciocínio lógico, quanto menos usuários houver, haverá também menos linhas de ônibus em circulação. Como consequência, mais trabalhadores serão mandados embora. “No nosso entendimento, quanto mais barata a tarifa, mais gente dentro do ônibus. Mais gente dentro do ônibus, mais ônibus rodando.  Mais ônibus rodando, mais trabalhador empregado”. 

O presidente do sindicato diz que o preço atual do transporte torna cada vez mais difícil para a periferia acessar o centro da cidade. “Pelo custo da tarifa, isso pode, inclusive, atrapalhar no rendimento dos comércios. Acreditamos que a Prefeitura está indo na contramão da economia.”

Pelo mesmo motivo, ele também se opõe à implantação do ônibus elétrico em Curitiba. “Eles querem botar [o ônibus elétrico] na categoria. Mas eu vou brigar, porque eu não concordo com isso. Eu acho que o ônibus elétrico é muito caro para o momento que Curitiba está vivendo, com a evasão do passageiro”.

Não só a quantidade de trabalhadores diminuiu, como também o número de associados ao sindicato. Segundo o presidente do Sindimoc, isso foi efeito de fatores como o período pandêmico, a reforma trabalhista e a marginalização e desmoralização do movimento sindical durante os governos de Michel Temer e Jair Bolsonaro. Hoje, dos 8 mil trabalhadores do transporte coletivo, há cerca de 1800 associados ao sindicato.

Quando questionado sobre o caráter da relação entre Sindimoc e URBS, Anderson foi enfático: “a relação é péssima”. Diz que há três meses encaminhou uma demanda ao presidente da instituição, Ogeny Pedro Maia Neto, e até o momento não obteve resposta. “Nós somos teimosos. Queremos conversar. Quando não tem conversa, nós fazemos uma mobilização, que é para botar todo mundo para sentar e conversar”.

A reportagem entrou em contato com a assessoria de imprensa da URBS, mas não obteve retorno.

Indagado sobre o sindicato, um motorista que preferiu não se identificar disse que o Sindimoc “já foi melhor antigamente” e o acusou de atualmente estar “favorecendo mais o empresário do que o trabalhador”. Com contundência, declarou que “o último aumento salarial foi uma vergonha. E esse negócio de cortar os cobradores é só para aumentar o lucro das empresas. O sindicato tinha que fazer alguma coisa para impedir isso. Eles tinham que fazer mais pelo trabalhador”. O último reajuste salarial dos funcionários do transporte foi realizado em 9 de fevereiro deste ano e representou um aumento de 5,71% embasado na inflação. O salário dos motoristas passou de R$3.001,83 para R$3.173,22. E o dos cobradores foi de R$1.700,44 para R$1.797, 53.

Anderson Teixeira assegura também que o sindicato é contrário à demissão em massa dos cobradores de ônibus. Atesta que tenta encaixá-los na nova realidade. “Os cobradores que a gente conseguiu segurar, e que a gente conseguiu requalificar, eles foram para outros postos de serviço.”

De Patronal a dos empregados: a história, a luta e os conflitos do Sindimoc

O Sindicato dos Motoristas e Cobradores de Curitiba e Região Metropolitana (Sindimoc) foi fundado em 1990 pelo advogado Valdenir Dielle Dias, também responsável pela criação de diversos outros sindicatos da Grande Curitiba. O principal objetivo na época e por muitos anos era atender às demandas das companhias privadas. A dirigência tinha uma postura omissa frente ao cenário desastroso que os trabalhadores da categoria vivenciavam, como salários muito abaixo da correção da inflação, carga horária de 42 horas semanais, ausência de vale-refeição (VR) e péssimas condições de trabalho.  

Anderson Teixeira, atual Presidente do sindicato, defende o porquê de a instituição ter sido omissa a todas essas questões enquanto Valdenir a geria. “Ele criou inúmeros sindicatos em Curitiba de diversas bases. Qual era o objetivo dele? Como no Sindimoc, ele tinha 20% da arrecadação de todos os sindicatos que fundou. Na época, o sindicato não incomodava as empresas. Então, existia um fundo assistencial que ele levava 20% para o seu escritório, recebia 20%, por meio de um contrato com o Sindimoc. E o presidente, que entendia que esse contrato deveria ser quebrado, era retirado do cargo”. 

Alguns Presidentes do Sindicato tentaram tirar esse valor destinado ao escritório de Valdenir. José Martins Costa, primeiro presidente da história do Sindicato, se posicionou contra essa questão, assim como outros diretores, que tentaram desvincular Valdemir do Sindicato. Porém, antes que obtivesse sucesso, acabou sendo destituído do cargo de presidente, após ser acusado na época de corrupção e desvio de dinheiro. Seu cargo foi então ocupado por outro diretor. Mas Martins também continuou como diretor. Um ano depois, Aristides da Silva, mais conhecido como Tigrinho, foi eleito como o segundo Presidente da instituição. Com cerca de um ano de gestão, ele entra em conflito com Valdenir, após retirá-lo do sindicato e tentar mudar a antiga regra que reservava 20% da receita anual ao chamado fundo assessorial, que era encaminhado ao escritório de Valdemir. 

Após três anos de gestão, Tigrinho é assassinado, caso que até hoje não foi solucionado. Segundo matéria do jornal folha de londrina, postado em 15 de março de 1998, um dia após a morte de Aristides, ocorrida em uma antiga colônia de férias do Sindimoc em itapoá (Litoral de Santa catarina), havia uma suspeita de que quem havia encomendado a morte de Tigrinho seria o ex-presidente Martins, que era integrante de um dos três grupos políticos que faziam oposição à Tigrinho, segundo Bonfim, diretor durante o mandato de Tigrinho e testemunho de seu homicídio. Desde que Silva assumiu, o sindicato não conseguia trabalhar direito, porque tudo que fazia enfrentava dura oposição dos três grupos políticos que disputavam a liderança do sindicato. O Ex-presidente Martins não quis se pronunciar sobre as acusações de ter encomendado a execução de seu opositor.

O sucessor legal de Tigrinho, após sua morte, seria o atual vice-presidente, mas, temendo ser o próximo alvo, renunciou à presidência. Com o caminho livre, Valdenir consegue colocar Denilson Pires como Presidente do Sindimoc e volta a fazer parte da assessoria jurídica. Segundo as normas, Denilson não poderia ser presidente, já que não fazia parte da diretoria. Era delegado de base. Porém, mesmo com a irregularidade, tomou posse da presidência do sindicato.

Denilson Pires, após a tomada do poder, se mantém na presidência por 12 anos consecutivos. Durante esse período, não foram registradas muitas conquistas para a categoria. Vários trabalhadores que labutavam na categoria na gestão de Denilson, acabavam tendo que aceitar as condições de trabalho ou procurar outro ramo. 

Em 2008, o Secretário-geral do Sindimoc, Alcir Teixeira, mais conhecido como “Zico”, consegue quebrar o contrato com Valdenir e contrata outra assessoria jurídica. Em 2009, Alcir Teixeira é assassinado. Um ano antes do acontecido, o secretário havia dito que iria denunciar as irregularidades do sindicato para o Ministério Público e que já tinha todas as provas de que precisava. Os culpados pelo assassinato de Zico nunca foram encontrados e, assim como o caso de Tigrinho, não foi solucionado.

Anderson Teixeira, filho de Alcir, em busca de justiça, leva as provas que seu pai havia deixado na casa de sua mãe ao GAECO MP (Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado), que deflagra a operação Waterfront, responsável pela prisão do ex-presidente do SINDIMOC, também vereador de Curitiba na época, Denilson Pires, além do diretor financeiro da entidade, uma assessora do vereador e o advogado, Valdenir Dielle Dias. Cerca de 40 policiais dos GAECOs participaram da operação em que foram apreendidos aproximadamente R$120 mil em dinheiro vivo na sede do sindicato e R$15 mil na casa do diretor financeiro.

Assim que ocorrem as prisões, amigos de Anderson o orientam a se candidatar à presidência do SINDIMOC, afirmando que ele deveria fazer isso para impedir que a instituição estivesse sob a direção de criminosos. Com a chapa que levava o apelido de seu pai, Zico, e com a proposta de ser o sindicato que representa os empregados, Anderson Teixeira se candidata à Presidência do Sindimoc. 

Em 2010 ocorreu a eleição com duas chapas, uma formada pela antiga diretoria e a outra por Anderson, que afirma ter tido uma grande dificuldade para montá-la, isto porque, todos que haviam tentado ou montado uma, foram demitidos do seu emprego ou assassinados. Dois dias antes de ocorrer a eleição, Anderson sofreu um atentado, onde foram disparados 15 tiros que atingiram seu carro e casa.

Durante a eleição a Força Sindical do Paraná disponibilizou pessoas para ajudar a fazer a contagem dos votos, isto porque, existia um grande risco de tentarem fraudar as eleições. O Ministério Público do Trabalho também foi acionado para ajudar a fiscalizar a eleição, porém, mesmo com os esforços, o Batalhão de Polícia de Choque teve que ser acionado para intervir durante a votação de manhã, pois estava havendo um impasse. Durante a contagem dos votos o batalhão esteve presente também. Com aproximadamente 74% dos votos. Anderson foi então eleito Presidente do Sindicato de Motoristas e Cobradores de Curitiba e Região Metropolitana.

Desde que assumiu a Presidência, o sindimoc conquistou grandes avanços para os trabalhadores, como aumento real corrigido acima da inflação, implantação de vale-alimentação (VR), manutenção dos postos de trabalho, transferindo, tanto quanto possível, os cobradores de ônibus para o cargo de motorista, para que os trabalhadores continuassem empregados, pois a prefeitura determinou que não haveria mais necessidade de existir cobradores de ônibus, após a implantação do cartão para o transporte público. 

Uma das mudanças que ocorreram após a nova gestão assumir, foi a mudança de regras nos estabelecimentos do Sindicato. O Sindimoc possuía uma chácara reservada apenas a diretores e pessoas ligadas ao presidente ou a diretoria. Agora todos os trabalhadores podem usufruir do espaço. O Sindimoc também disponibiliza aos seus associados uma farmácia, aberta ao público, porém com descontos para motoristas e cobradores, salão de beleza, com cortes de graça para homens e mulheres, departamento jurídico e cursos gratuitos.