Transfobia ainda é obstáculo para atletas curitibanos

por Maria Cecília Marchalek Zarpelon
Transfobia ainda é obstáculo para atletas curitibanos

A participação de atletas transexuais em competições mundiais de Patinação é proibida

Por Maria Cecília Zarpelon

O projeto de lei que limita a participação de atletas transexuais em competições oficiais que tramita em São Paulo e no Rio de Janeiro, preocupa as escolas de patinação de Curitiba com a incerteza da criação de uma proposta semelhante na capital. Se aprovado, o projeto vetará a atuação de atletas transgêneros em modalidades do sexo oposto, sendo o sexo biológico o único critério para a definição de gênero.

A patinação é um esporte que vem ganhando notoriedade na capital paranaense. Em fevereiro deste ano, a Câmara Municipal de Curitiba aprovou um ato administrativo para a criação de um “Centro de Excelência em Patinação” na cidade. Hoje, a capital dispõe de três escolas e quatro espaços para praticar o esporte sobre rodas.

A curitibana Maria Joaquina é uma patinadora transexual de 11 anos, filha dos diretores da Espaço Footwork de Patinação e Dança, Gustavo Cavalcanti e Cleber Reikdal. O casal expressa preocupação com a filha no esporte: “independente dela ser uma menina trans, ela é uma atleta”, ressaltam.

Como Maria é vice-campeã do Campeonato Brasileiro de Patinação de 2018, em tese, ela deveria representar o país na disputa Sul-americana deste ano. Sua inscrição, porém, foi negada pelo Comitê Executivo da Confederação Sul-americana de Patinagem. “Eu achei que haviam informado a participação dela para os órgãos mundiais, mas para nossa surpresa foi apenas em âmbito nacional”, explica Cavalcanti.

O presidente da Confederação Brasileira de Hóquei e Patinação (CBHP), Moacyr Neuenschwander Filho, relata que para participar das competições promovidas por eles, basta a declaração de gênero manifestada pelo atleta. “Sob as competições de nossa jurisdição, a Maria está apta. Sob a jurisdição de outras entidades, depende de cada uma”, esclarece.

Para a dona da escola curitibana de patinação e diretora técnica da Federação de patinagem do Paraná (FPP), Fabiana Consentino, o maior incômodo é a inércia em relação às injustiças sofridas por esse grupo. “Sei que é recente [a participação de pessoas transexuais no meio esportivo] e que não estamos preparados, mas eles devem ser sim incluídos no esporte”, relata. A diretora acredita que não existem políticas de incentivo para pessoas transgêneras e diz não se envolver na causa provavelmente por não ter proximidade com nenhum indivíduo trans. “É triste, uma polêmica sem solução neste momento”, finaliza.

Assim como Fabiana, a técnica de Patinação Internacional e diretora da Cia Rita Bomfati-Patinação, Rita Bomfati, defende a inclusão, mas por outro motivo. “A discriminação acontece porque as pessoas não entendem que é uma doença. Eles nascem com esse problema, está nos cromossomos”, afirma. Rita acredita que, assim como os portadores de necessidades especiais, os transgêneros também possuem direitos inclusivos, as pessoas só os desconhecem. “É difícil praticar esporte no Brasil, ainda mais quando se tem uma doença”, conclui.

Em Curitiba, o assunto gera um debate fundamental para que haja a inclusão do grupo na sociedade como um todo, de acordo com a presidente da Comissão de Direitos Humanos, Defesa da Cidadania e Segurança Pública de Curitiba, Maria Leticia Fagundes. “A inclusão, independente da área, deve ser igual e sem distinções”, declara.

Para estimular essa integração, a Prefeitura promoverá o I Jogos da Diversidade de Curitiba nos dias 25 e 26 de maio. O evento é organizado pela coordenação de Políticas da Diversidade Sexual da Prefeitura com o apoio da Secretaria Municipal de Esporte, Lazer e Juventude.