Venda da estatal Copel eleva debate sobre benefícios e riscos da privatização

por Stephanie Carneiro
Venda da estatal Copel eleva debate sobre benefícios e riscos da privatização

Enquanto expectativas de redução de custos e investidores influentes aumentam o entusiasmo, os desafios enfrentados por outras privatizações no setor trazem questionamentos sobre o cenário promissor

Por: Gustavo Malinowski, Stephanie Carneiro, Vinicius Sech | Foto: Copel

Apesar de parecer uma novidade para o setor, a venda da Copel para o setor privado, anunciada recentemente, é relativamente comum no setor de energia. Empresas privadas já detêm mais de 60% da capacidade de geração de energia, distribuição para o consumidor e mais de 39% da transmissão, que interliga o sistema. No entanto, após a privatização, mesmo com o aumento imediato do valor das ações da Copel, o retrospecto negativo em privatizações de estatais de energia e o baixo valor de venda colocam em xeque o positivismo em torno da venda da estatal paranaense.

Com uma expectativa de redução dos custos de geração e transmissão de energia em até 25% e 15%, respectivamente, as despesas gerenciáveis criam um cenário otimista para as ações. Por exemplo, o Bank of America aumentou o preço-alvo (valor potencial da ação) de R$ 10,20 para R$ 12. Isso representa uma projeção de alta de quase 50% para as ações CPLE (PNB) e um aumento de unidades (CPLE11) de R$ 51 para R$ 60.

Quanto aos compradores da Copel, Jorge Paulo Lemann, dono da 3G Radar e fundador da Ambev, detém 5,07% das ações. A 3G Radar também possui 1% das ações da Eletrobras. A Gestora GQG é acionista relevante com 5,6% do capital da companhia, equivalente a um montante próximo de R$ 500 milhões. Além disso, a GQG é também acionista relevante da Petrobras, com R$ 23 bilhões investidos na estatal. O fundo 3G também adquiriu ações da Copel.

Questionamento às privatizações

A Copel Telecom foi vendida para o Bordeaux Fundo de Investimento em novembro de 2020, por meio de um leilão da B3. Anteriormente elogiada pela qualidade do serviço com downloads ilimitados e equivalência de velocidade de download e upload, a empresa agora chamada Ligga Telecom enfrentou críticas após a venda. Os problemas incluíram queda de conexão constante e baixa frequência de sinal, gerando reclamações em sites como o Reclame Aqui.

No Rio de Janeiro, a empresa de energia Light (Ligt3), endividada em cerca de R$ 11 bilhões, entrou com pedido de recuperação judicial em maio deste ano. A situação financeira delicada é agravada pelo alto índice de furto de energia, o que afasta os investidores das ações. A distribuidora de energia Light foi privatizada em 21 de Maio de 1996, através de um leilão na Bolsa de Valores do Rio de Janeiro 

No caso da Eletrobras, no início de sua privatização, as expectativas eram de triplicar os investimentos e elevar a capacidade para R$ 15 bilhões por ano. Em um comunicado recente, a Eletrobras informou sobre diversos investimentos em reforços da rede de transmissão já autorizados pela ANEEL, totalizando R$ 6 bilhões de investimentos liberados e uma receita adicional de R$ 840 milhões anuais.

O diretor jurídico e regulatório da Copel, Eduardo Vieira de Souza Barbosa, cedeu entrevista ao Portal Comunicare e falou sobre principais objetivos de longo prazo da empresa no contexto de propriedade privada. Ele também se manifestou sobre preocupações relacionadas à acessibilidade e tarifas para os consumidores.

O que a empresa tem a dizer sobre as preocupações relacionadas à acessibilidade e tarifas para os consumidores?

Mesmo após a privatização a empresa permanece ainda com a obrigatoriedade de seguir todas as normas e regulamentos do setor.

Quais são os principais objetivos de longo prazo de empresa de energia no contexto da propriedade privada?

Garantiremos maior facilidade para financiar novos projetos, maior liquidez patrimonial e acesso mais rápido e fácil ao mercado de capitais. Além de permitir que tenha uma maior flexibilidade em processos de aquisição e maior transparência, são requisitos fundamentais para ter um protagonismo no futuro do setor elétrico.

Houve alguma reestruturação organizacional ou mudanças na gestão após a privatização?

O processo de reestruturação está em fase inicial, onde a celeridade e consequente eficiência nos contratos que deixaram de estar sob à égide da Lei 13.303.

Houve alguma reestruturação organizacional ou mudanças na gestão após a privatização?

O processo de reestruturação está em fase inicial, onde a celeridade e consequente eficiência nos contratos que deixaram de estar sob à égide da Lei 13.303’.