Atletas e dançarinas destacam importância de psicólogos acompanhando esporte profissional

por Beatriz Moschetta Santos
Atletas e dançarinas destacam importância de psicólogos acompanhando esporte profissional

Profissionais da área relatam que os transtornos psicológicos são recorrentes entre atletas e dançarinas, o que torna o acompanhamento psicológico fundamental.

Por Beatriz Moschetta Santos e Caio Bolonha Stelmatchuk | Foto: Freepik

Atletas de alto rendimento geralmente estão vulneráveis a transtornos mentais,  segundo dados da Revista Movimento. Isto também pode ser visível em outras modalidades, como na dança. A psicóloga Gabriella Finatti diz que a ansiedade,  especialmente antes de alguma competição, é comumente relatada por atletas. 

Gabriella diz que, como o esporte é uma ferramenta de trabalho, ele pode acabar afetando a autoestima dos desportistas. Como essa profissão é extremamente ligada à performance, quando os resultados não são tão bons quanto o esperado, é  comum que os atletas fiquem frustrados. Essa experiência negativa pode gerar  ansiedade.  

Além disso, existem casos em que há uma enorme pressão estética, como o caso  das bailarinas, por exemplo. Elas são pressionadas para manter baixo peso corporal, devido às necessidades de leveza e graça para a dança. Um estudo da Revista Saúde  revelou que 100% das bailarinas que participaram da pesquisa possuíam alguma distorção da Imagem Corporal. Esses fatos corroboram para que dançarinas sejam  possíveis alvos de Transtornos Alimentares. 

A bailarina Joice Aline Jorge, diretora da Cia Municipal de Dança de Ponta Grossa, diz que a pressão estética vem de muito tempo, desde o surgimento do balé na Europa, onde as bailarinas sempre foram magras e longilíneas. E, quando se espalhou pelo mundo, seguiu os padrões europeus. Porém, segundo ela, hoje 40% da população já não exige esse padrão estético para a bailarina. Em muitas escolas  e companhias já se vê mudança nessa quebra de estética.  

Entretanto, a professora relata que é fundamental um acompanhamento psicológico dentro das companhias de dança. “Eu recebo muitas alunas com traumas de dança. Elas acham que elas não podem dançar, que elas não podem subir no palco, por causa do físico, não só por questão estética de ser gorda ou magra, mas porque não tem um colo de pé adequado para a dança, não tem alongamento  suficiente. Então sim, eu recebo muitas alunas ainda com isso. Se tivesse um  psicólogo em cada companhia isso também seria solucionado”, conta Joice. 

A alta pressão antes de competições também é um fator prejudicial à saúde mental de atletas, defende a ex-jogadora de vôlei Marina Bolelli. Além disso, ainda tem a falta de preparação emocional dos técnicos, afinal, muitos têm explosões de raiva e, segundo ela, não sabem lidar com a individualidade dos atletas, além de não terem preparação para tratar com as intrigas dentro dos clubes. 

Marina lamenta o fato de nenhum clube por qual ela passou ter instruído os profissionais sobre a saúde mental. Ela defende que os treinadores tenham um preparo sobre como tratar os atletas. 

Um outro motivo que pode causar transtornos psicológicos em esportistas são experiências negativas na infância. A psicóloga Gabriella Finatti diz que vivências ruins como técnicos desrespeitosos e difíceis de lidar acabam moldando a visão do atleta, fazendo com que ele olhe para o esporte de uma maneira negativa. 

 “O tratamento com esses atletas deve ser multidisciplinar”, diz Gabriella. Não adianta o psicólogo sozinho preparar o atleta para a competição e o treinador não saber das dificuldades que seu comandado está enfrentando. “Essas questões devem  ser alinhadas e trabalhadas em conjunto”, completou. 

Marina Bolelli também acredita que é fundamental que os atletas não se  prendam apenas ao tratamento interno do clube. Como o psicólogo estaria fazendo uma investigação e teria que responder ao seu superior, é possível que os desportistas não se sintam confortáveis para expor todas as suas dificuldades. A ex jogadora de vôlei acredita que o psicólogo esportivo é importante para entender o problema do time no geral, mas não é o suficiente para tratar do psicológico de cada atleta individualmente. Ela ainda coloca que, se for para ter um tratamento individual, seria melhor alguém de fora. 

Também pode ser necessário que o psicólogo converse com a família pois pode existir uma pressão do treinador, de patrocinadores ou até dos próprios parentes para o esportista performar bem em uma competição específica, afirma Gabriella Finatti. Por isso, o profissional deve analisar a situação para compreender se a ansiedade que o atleta está sentindo vem de uma pressão interna, externa ou de algum outro motivo específico, disserta a especialista em psicologia esportiva. 

Bailarina e professora, Joice também dá dicas para as dançarinas que estão passando por uma frase ruim. “Tem que tentar identificar se essa fase ruim é dela com ela mesma ou se essa fase ruim vem do ambiente. Diagnosticou que é o ambiente, troca de ambiente, muda. Não tem problema. Vai aprender a dançar em outro lugar, vai trabalhar a dança em outro lugar. E, se for dela com ela mesma,  procurar um psicólogo e fazer esse trabalho.”  

Ela ainda coloca que um bom professor não precisa gritar e nem precisa  humilhar, apenas ter conhecimento suficiente para ensinar. Ela acredita que falta  aperfeiçoamento dos professores, afinal, muitos deles dançaram em grandes companhias e vão dar aula sem mesmo cursar uma licenciatura em dança.

“Ele precisa saber ensinar para diferentes corpos e diferentes pessoas, pois cada uma tem a sua própria maneira de aprender. Vale do professor conhecer o aluno e saber qual é a melhor forma dele aprender e passar isso para ele”. 

 Como funciona a psicologia esportiva no futebol 

Mesmo quando olhamos para o futebol, esporte que conta com altos investimentos, os dados ainda são alarmantes. Um levantamento realizado pelo jornal  “O Povo”, em 2019, revelou que apenas cinco clubes dos 20 da Série A do Campeonato Brasileiro naquele ano tinham departamento de psicologia funcionando  com o elenco principal. 

Para Gabriella Finatti, existem alguns fatores para que isso aconteça. Um desses fatores é que o psicólogo pode apontar possíveis erros do treinador. O profissional da saúde analisa e auxilia o treinador para que tome decisões coerentes com o estado mental do atleta. A psicóloga diz que os treinadores podem ficar incomodados com o fato de ter outros profissionais “dando pitaco no trabalho deles”.

A especialista em psicologia esportiva afirma que um outro fator é o medo dos atletas em relação ao seu ‘status’. Existe um receio por parte dos jogadores de terem sua imagem manchada ao apresentarem dificuldades psicológicas, além do perigo de  ficarem no banco ou, até mesmo, serem dispensados do clube. 

Finatti também acredita que um outro fator impeditivo pode ser o gênero. Como a presença de mulheres na psicologia é notável, isso pode gerar conflitos para ambos os lados. Segundo ela, é possível que profissionais do futebol possam ser machistas. Entretanto, há também a dificuldade para as mulheres de se sentirem confortáveis nesse ambiente por ser majoritariamente masculino.