Código de vestimenta feminino nos esportes e aplicação de regras sexistas

por Valentina Silva Nunes
Código de vestimenta feminino nos esportes e aplicação de regras sexistas

Os reflexos nos uniformes das atletas por conta da falta de voz ativa feminina nas lideranças dos comitês esportivos

Por  Lorena Motter,  Maria Fernanda Dalitz,  Natália Volaco , Valentina Nunes.

Como resultado do machismo estrutural, as mulheres não possuem um espaço significativo nos esportes, os comitês, formados em sua grande maioria por homens, decidem a participação delas e, inclusive, o dress code. Assim, em todo o mundo, figuras femininas protestam por reformas nas regras de vestimenta, buscando por mais conforto e menos sexualização.

 

Discussões sexistas foram iniciadas após a seleção feminina norueguesa de handebol receber multa no Campeonato Europeu ,que ocorreu no fim de julho, ao não seguirem o código de vestimenta. As jogadoras haviam realizado uma solicitação a Federação de handebol Europeu para a alteração de suas vestimentas ,a qual foi negada. Assim, agiram em forma de protesto ao trocarem a parte de baixo do biquíni por um shorts um pouco mais longo. A cantora estadunidense Pink realizou o pagamento da multa como incentivo a movimentos e ideais feministas.

O debate sobre o design dos uniformes femininos nos esportes ocupa posição de destaque, por motivo de a versão atual dos uniformes expor os corpos das atletas além do necessário para um bom desempenho. No fim da década de 70, o físico das mulheres começou a ser sexualizado na mídia, como isso gerava dinheiro e as federações foram se beneficiando disso, começaram a pensar em roupas que pudessem ficar mais bonitas em publicidades e propagandas, de alguma forma atraindo mais espectadores com os corpos idealizados das mulheres.

“Desde que migrei do vôlei de quadra para o vôlei de praia, me senti um pouco desconfortável quanto a ter que jogar de biquíni. Foi um processo difícil, mas que acabei me acostumando.”Diz a atleta Ingridh Louise Arrigo, 22, a qual representa Maringá e o Paraná no vôlei de praia.

 

Ela também acrescenta que a confederação de vôlei permite o uso de leggings no lugar dos biquinis. No entanto, para isso, as duas atletas devem estar usando essa peça mais longa. Caso uma das participantes esteja no período menstrual é permitido que uma use legging e a outra não.

Ainda, a jovem expõe que houve momentos em que homens filmaram e fotografaram ela e suas colegas sem permissão ,enquanto estavam treinando. Reclamaram sobre o ocorrido, mas a denúncia era sempre sem sucesso. Além disso, a atleta conta que “Existem sim casos de desrespeito em que não somos respeitadas por estarmos treinando de biquíni, mesmo que ali seja nosso “escritório” e local de trabalho.”

 

“Atualmente a maioria dos times fazem uniformes menores (babylook) para o time feminino e me sinto muito mal e incomodada para fazer a maioria dos movimentos durante o treino/jogos”, Afirmou a atleta Maria Eduarda Rudgeri,19, membro da equipe Realizar/Santos do estado de São Paulo. Acrescenta também que uniformes mais confortáveis não atrapalhariam na performance nos jogos, até melhoraria devido ao conforto causado pela falta de exposição em excesso.

 

De acordo com a palestrante, estilista e autora do livro Dress Code. Impacto da Imagem Pessoal nos Negócios, Bia Kawaski diz que a má atuação no conselho geral dos homens no esporte não tem a ver com o gênero masculino ou feminino, mas sim com moral e ética.

Em relação aos uniformes das atletas, Kawaski menciona que, como consultora de moda, sempre busca construir uma identidade visual através da produção que possibilite o melhor desempenho e performance das atletas, também uma estética que transmita uma excelência profissional. “Certamente, equipes éticas e preocupadas com a performance de seus atletas e suas atletas, jamais concentrarão seus objetivos em “olhares masculinos”, no que se refere ao Dress Code de sua equipe. Seria estupidez, posto que o objetivo final de qualquer atleta é um só: vencer.”, comenta a stylist.

 

No livro escrito por Euza Maria de Paiva Gomes “Participação das mulheres na gestão do esporte brasileiro” apresenta que, tal irreverência acontece devido a ausência da inclusão de mulheres na gestão de liderança no esporte. Na obra, evidencia que a presença da mulher na gestão esportiva é muito pequena, com isso se deu pela acomodação, ou seja, mesmo que os homens sejam predominantes na área, não houve grandes lutas e movimentos, já que o sistema de visibilidade da mulher no esporte não foi marcado com a intenção de mudar a condição das mulheres na área. A ausência de representatividade das mulheres em cargos de liderança nos esportes cria um ambiente sexista, onde suas vontades e desejos não são priorizados pelas lideranças masculinas, o que justificaria os uniformes desconfortáveis a apelativos. Por isso, é necessário que as mulheres ganhem mais espaço nesses cargos, para que as necessidades delas sejam ouvidas e levadas em consideração.

 

A ginástica é uma modalidade em que a presença feminina acaba sendo majoritária, e consequentemente leva em consideração o bem estar das atletas. Como afirma a entrevistada Valdenize Cunhago, 32, pós graduada em ginástica rítmica, ex-técnica na modalidade e personal trainer. A mesma comenta sobre o código de vestimenta da ginástica rítmica, que é necessário atletas usarem roupas mais justas, pois, é preciso avaliar todos os detalhes dos movimentos. No entanto, diferente de outros esportes, na ginástica as mulheres são maioria em cargos de liderança, buscando um cuidado maior com a imagem das atletas. A arbitragem aceita a possibilidade de se usar macacões de corpo todo e não pode existir partes muito cavadas para preservar as competidoras. Sendo assim, modalidades que valorizam o espaço da mulher na liderança tendem a ser menos sexistas.

 

Entretanto, nas olimpíadas, a posição das mulheres no comando do Movimento Olímpico ainda é pequena. Conforme registros do Comitê Olímpico Internacional (COI), somente em 1981 elas foram admitidas nessa instituição (COI). Em 2016, a penúltima  Olimpíada, sua participação foi de 23,9 % dentre os 92 membros e é muito aquém daquela nas arenas de competição, já em relação à participação no Comitê Executivo, a situação não foge do padrão,  apenas 4 entre os 15 participantes (26,6 %) eram do sexo feminino  e, dentre os 4 Vice-Presidentes, só havia uma (25%) mulher.

De acordo com censo realizado nos anos 2009, 2014 e 2016 houve um aumento de 1%, em sete anos, no número de mulheres em posições de presidência nas CONs (Comitês Olímpicos Nacionais) e de 5% de cargos ocupados na secretaria geral das CONs.