Com a pandemia, cirurgias eletivas caem em 68% no Paraná

por Isadora Picasky Deip
Com a pandemia, cirurgias eletivas caem em 68% no Paraná

Além da chance de transmissão intra-hospitalar do coronavírus, momento é crítico devido à falta de medicamentos

Por Isadora Deip

Em junho de 2020, o Paraná realizou 5.238 cirurgias eletivas pelo Sistema Único de Saúde (SUS), segundo dados disponibilizados pelo DATASUS. O número indica uma queda de aproximadamente 68% em relação ao mesmo período do ano passado, em que o estado realizou 16.540 cirurgias desse tipo. A comparação entre os primeiros semestres de cada ano indica uma queda de quase 35% dos procedimentos eletivos em 2020. 

O DATASUS é o departamento de informática do Sistema Único de Saúde do Brasil. É responsável pela coleta, processamento e disseminação de informações sobre a saúde no país, além de oferecer suporte tecnológico para planejamento e controle dos órgãos do SUS. De acordo com seu banco de dados, em janeiro e fevereiro deste ano, o Paraná fez 220 cirurgias eletivas pelo SUS a menos em comparação aos dois primeiros meses do ano passado, o que não representa 1% de queda. Em março, com a confirmação do primeiro caso de coronavírus no estado, o número foi 19,3% menor do que em março de 2019.

Gráfico comparando o número de cirurgias eletivas pelo SUS realizadas no Paraná nos anos de 2019 e 2020. Fonte: DATASUS

Conforme o boletim epidemiológico divulgado pela Secretaria de Estado da Saúde (Sesa), o Paraná fechou o mês de abril com 1.407 casos confirmados de Covid-19. Neste período, a quantidade de procedimentos eletivos pelo SUS foi de 7.053, número 53,4% menor do que o de abril do ano passado, com 15.143 cirurgias desse tipo feitas. De abril até junho os casos de coronavírus no estado aumentaram em 93,7%. Nesses três meses foram realizadas, ao todo, 59% cirurgias eletivas a menos do que nesse período de 2019. 

Gráfico relacionando o crescimento dos casos confirmados de Covid-19 com a queda nas cirurgias eletivas realizadas pelo SUS. Ambos contextualizados no Paraná, em 2020. Fontes: DATASUS e Secretaria da Saúde do Paraná (Sesa)

As cirurgias de caráter eletivo são programadas previamente e podem ser adiadas sem oferecer risco de vida ao paciente, explica o urologista Nageib Mamedio Bark. Segundo ele, a protelação do procedimento prejudica o paciente se a situação da doença se agravar durante o período de espera, podendo tornar-se uma emergência. O médico afirma que algumas cirurgias foram desmarcadas por falta de anestésicos e relaxantes musculares, medicamentos requisitados nas UTIs.

No dia 24 de julho, a Secretaria de Estado da Saúde suspendeu os procedimentos cirúrgicos eletivos ambulatoriais e hospitalares em todas as unidades hospitalares do Paraná, através da Resolução número 926/2020. Além do contingenciamento de medicamentos necessários na intubação de pacientes com Covid-19, a medida visava otimizar o uso de leitos de UTI, muitas vezes utilizados no período pós-operatório. 

A cirurgia de remoção de ginecomastia do menor aprendiz André Fil, de 22 anos, estava  agendada para 24 de julho, e teve que ser remarcada para 11 de setembro. Ele conta que, a princípio, o reagendamento foi motivo para desânimo, mas entendeu o porquê quando descobriu a quantidade de casos de Covid no hospital em que faria a cirurgia. 

O trabalhador autônomo Osvaldo Quadros, de 52 anos, estava com uma cirurgia cardíaca marcada para março deste ano, e será reagendada somente após a pandemia. “Existem casos em que não dá para esperar acabar tudo isso, mas eu me senti seguro em não fazer”, relata. Osvaldo está indo ao médico a cada quinze dias e seu quadro vem sendo controlado através de medicamentos. 

A Resolução número 1026/2020, divulgada no dia 21 de agosto, autorizou a retomada parcial das cirurgias eletivas no Paraná. A medida suspende apenas os procedimentos que demandam terapia intensiva no pós-operatório e/ou em pacientes sob anestesia geral. De acordo com o CRM-PR (Conselho Regional de Medicina do Estado do Paraná), a retomada deve acontecer de maneira lenta e com restrições, o que pode implicar na realização de mutirões nos próximos meses. 

De acordo com a médica infectologista Gabriela Gehring, pacientes internados estão expostos ao contágio através de profissionais da saúde, outros pacientes e visitas que estes recebem. A infectologista acredita que as cirurgias devem ser mantidas canceladas, sobretudo os procedimentos estéticos.