Corte de verba na educação retira brasileiros da inércia

por Maria Cecília Marchalek Zarpelon
Corte de verba na educação retira brasileiros da inércia

Mobilizações em prol das universidades públicas foram registradas em cerca de 200 cidades 

Por Maria Cecília Zarpelon

Na última quarta-feira (15), 1,5 milhão de brasileiros foram às ruas em protesto contra o corte de 30% da verba destinada às universidades federais e a programas de pesquisa, segundo a estimativa da União Nacional dos Estudantes (UNE). A decisão do governo de retirar dinheiro da área da educação para tentar diminuir o déficit orçamentário do país foi alvo de críticas por parte da população, em especial estudantes e professores. 

Para o historiador e professor da Universidade Federal do Paraná (UFPR) Dennison de Oliveira, mesmo que os brasileiros se manifestem publicamente com menos intensidade e frequência do que exigem as circunstâncias, os protestos públicos têm grande importância na política do país. “A ‘voz’ das ruas talvez seja a única mensagem popular dirigida à classe política que ela não pode se dar ao luxo de ignorar”. 

A estudante de Direito da UFPR Gabriela Sasson Rassi participou das recentes mobilizações em repúdio ao bloqueio de verba e acredita que a redução, por menor que seja, afetará as instituições de ensino. “Educação não é mercadoria, muito menos moeda de troca entre o Executivo e os outros poderes. Esse corte simplesmente cancelou o desenvolvimento tecnológico e científico do país. É uma burrice sem tamanho”. Segundo a estudante, as manifestações possuem um grande impacto político, mesmo o movimento estudantil tendo sua imagem denegrida pela mídia e pelo próprio governo. “Além de serem a maior expressão do movimento estudantil, os protestos são fundamentais para mostrar a força desse movimento e suas reivindicações com relação ao governo atual”, conta.

Vinicius Felipe de Souza também é estudante de Direito da UFPR e têm uma opinião diferente sobre os cortes. Para ele, o bloqueio de verba é uma tática dentro de um projeto de desmonte das universidades pelo governo Bolsonaro. “O governo foi eleito com apoio de forças políticas com interesses econômicos, que de algum modo se beneficiam muito com a precarização da educação, sobretudo da educação pública”, afirma. O jovem aponta que há um incômodo por parte da presidência em relação a participação da classe estudantil em eventos políticos. “Tanto o presidente quanto o Ministro da Educação deixam evidente que a politização da juventude é um problema e, se não mudar, essa juventude sofrerá as consequências”. A educação, segundo o estudante, é o principal pilar da construção de uma nação, e por isso, atacá-lo é um movimento estratégico. “É o interesse de garantir a educação ou a deseducação das massas”. 

Segundo a cientista política Karolina Mattos Roeder, a tática do governo de reduzir os investimentos nas universidades públicas visa beneficiar o mercado financeiro, por mais que isso amplie a desigualdade no país. “Havia outras formas de cortar gastos e gerar crescimento econômico, como por exemplo, o corte de privilégios”. Na opinião da profissional, a manifestação que ocorrerá no domingo (26) a favor de Bolsonaro reflete a incapacidade do presidente em se sustentar no poder. Segundo ela, como não há projeto político e programas a defender, Bolsonaro chama às ruas as pessoas como uma maneira de legitimação.

Além da mobilização de domingo, uma manifestação contrária ocorrerá na próxima quinta-feira (30), convocada pela UNE. 

 

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