“Efeito contágio” muda a forma como a imprensa noticia atentados em escolas

por Emilly Kauana Alves
“Efeito contágio” muda a forma como a imprensa noticia atentados em escolas

A psicologia explica o efeito contágio como a tendência de pessoas em situações de estresse muito grande, que afeta muitos indivíduos, reagirem de forma parecida com quem está próximo

Por Emilly Kauana Alves, Ricardo de Siqueira e Milena Bilino / Imagem: Petter Lopes

Nos últimos meses têm sido noticiados vários ataques em instituições de ensino no Brasil, o que tem levado a sociedade brasileira a discutir o efeito nocivo da divulgação de fotos e informações sobre agressores, pois pode influenciar na formação de novos casos. Alguns veículos de imprensa por meio de notas já se manifestaram informando que mudaram sua forma de noticiar esses casos para não gerar o que é chamado de efeito contágio.

De acordo com a psicóloga e professora adjunta do curso de psicologia da PUCPR, Patrícia Guillon Ribeiro, esse contágio em massa se dá ao fato de que as pessoas reagem muito a partir de modelos. Como os humanos são uma espécie muito social, possuem uma tendência muito grande de se comportar com base no reflexo da outra pessoa, até numa tentativa de ser aceito, incluído e de pertencer a algum grupo. Ou seja, o que está sendo feito nas redes sociais ativa sentimentos como o medo e a insegurança, aumentando assim a vulnerabilidade e a sensação de ameaça daquele indivíduo. 

A especialista alerta que muito se difere sobre as formas de evitar esse contágio. Entretanto, Patrícia cita que, em casos de ameaça, uma das ações que devem ser realizadas é não compartilhar essas possíveis informações. E assim, possuir um olhar mais crítico quando se é repassada informações para os internautas.

A ansiedade é uma resposta fisiológica a uma situação de ameaça e pode ativar um sentimento no outro indivíduo, mesmo ele não compactuando até então com tal posição ou comportamento de outra pessoa.

Assim, “a mídia possui um papel importantíssimo nessas situações, no sentido de que a divulgação desses quadros atinge pessoas mais fragilizadas emocionalmente” (como ansiedade e outros tipos de transtornos), diz Patrícia. 

A mudança na forma de noticiar atentados:

Recentemente o Brasil presenciou dois ataques brutais à escolas, o primeiro ocorreu no estado de São Paulo,  na Escola Estadual Thomazia Montoro, localizada na Zona Oeste da capital paulista. O ataque que ocorreu no dia 27 de março, deixou quatro feridos (três professoras e um aluno) e uma professora acabou falecendo devido aos ferimentos, o autor do ataque fora um adolescente de 13 anos, aluno do oitavo ano. O segundo ataque ocorrido em Blumenau-SC, quatro crianças de quatro a sete anos foram mortas, após a invasão de um homem de 25 anos em uma creche no dia 5 de abril. Logo após o ocorrido, as principais redes de comunicação do país e as redes sociais começaram a repercutir os acontecimentos causando grande comoção nacional. Após este último ocorrido o Grupo Globo divulgou uma nota:

“Os veículos do Grupo Globo tinham há anos como política publicar apenas uma única vez o nome e a foto de autores de massacres como o ocorrido em Blumenau. O objetivo sempre foi o de evitar dar fama aos assassinos para não inspirar autores de novos massacres. Essa política muda hoje e será ainda mais restritiva: o nome e a imagem de autores de ataques jamais serão publicados, assim como vídeos das ações.

A decisão segue as recomendações mais recentes dos mais prestigiados especialistas no tema, para quem dar visibilidade a agressores pode servir como um estímulo a novos ataques. Estudos mostram que os autores buscam exatamente esta “notoriedade” por pequena que seja. E não noticiamos ataques frustrados subsequentes, também para conter o chamado “efeito contágio”.